Cooperativas irão contratar jovens em vulnerabilidade social

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Belém (17/6/16) – O simples ato de falar em público era um enorme desafio para José Lobato, de 22 anos. Lembranças do passado lhe machucavam como verdadeiras feridas abertas. Cabisbaixo, ele se isolava completamente e não conversava com seus amigos da escola, o que não o protegia de sofrer diversas agressões por alguns deles. Na adolescência, José sofreu momentos de abuso sexual. Terríveis cenas de violência não lhe saíam da memória. “Eu era um menino introvertido, vivia isolado. Minha mamãe tentava conversar comigo, mas eu só queria me trancar no quarto. Até que conheci o Programa ViraVida”.
 
O jovem do interior de Muaná se mudou para Belém e foi selecionado pela inciativa do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (SESI) que resgata jovens em situação de vulnerabilidade para torná-los agentes de desenvolvimento do país. O Programa ViraVida é desenvolvido através de ações socioeducativas que visam a recuperação dos direitos fundamentais dos beneficiados, incluindo educação básica, atendimento psicossocial, formação profissionalizante, noções de autogestão, empreendedorismo e cooperativismo, assim como encaminhamento ao mundo de trabalho. 

A iniciativa, desenvolvida desde 2008, combate a violação de direitos de crianças e adolescentes com idade entre os 15 e 21 anos. Para José, o projeto significou uma verdadeira transformação. “Eu não acreditava em mim, me sentia um ninguém, achava que não era capaz de nada. Os profissionais que fazem parte do projeto me ajudaram bastante a superar esses constrangimentos. Eles me ensinaram que quando queremos, somos capazes sim. Eu sou capaz de esquecer o passado e pensar no futuro. Posso mostrar para essas pessoas que me machucaram que eu consigo ir além do que eu sonho. Conquistei o espaço dentro de uma empresa muito conhecida. Uma empresa que reconhece o meu potencial e minhas qualidades. Estou demonstrando o meu melhor. Descobri que sou capaz de fazer muita coisa. Agora não quero parar. Estou fazendo curso para design de moda e pretendo fazer um curso superior nessa área.  Não existe mais o José triste, cabisbaixo e fechado. Ele morreu. Um novo José nasceu depois que entrou no ViraVida”, completa o aluno.

O programa possui uma metodologia própria de trabalho. Uma equipe multiprofissional acompanha os jovens desde o início até a inserção deles no mercado de trabalho. São psicólogos, assistentes sociais, técnicos de empregabilidade, pedagogos, professores de artes, que trabalham dinâmica de grupo e oralidade.

Ainda se faz a Educação continuada, com aulas de reforço sobre matérias como Matemática, Português e Informática Básica. “São trabalhadas questões afetivas. Muitos jovens tem a falta da convivência com a família, problemas com a comunidade. Trabalhamos as competências profissionais, humanas e sociais, além do resgate da autoestima”, afirma Flávia Monteiro, coordenadora operacional do programa.

São considerados jovens em condição de vulnerabilidade social os que passam por situações de trabalho infantil, meninos e meninas vítimas de violência sexual, abuso e exploração, jovens que moram em situações de alto risco, sujeitos à criminalidade, vítimas de violência doméstica, negligência, maus tratos, jovens em situação de acolhimento que foram tirados do convívio da família.

Em dados nacionais, mais de 5,8 mil jovens foram matriculados no projeto ViraVida. Atualmente, o programa é desenvolvido em 18 estados, abrangendo 26 cidades. Em Belém, 400 jovens já foram atendidos, com uma média de apenas 15% de evasão. Destes, 335 foram certificados e concluíram os 12 meses de preparação. No total, 184 foram inseridos no mercado. Ingrid Bélit foi um deles. Ela fez os cursos de Operador de caixa, Recepcionista, Vendedor e Auxiliar administrativo.

“Uma das principais lições que aprendi até hoje é que, apesar de tudo, devemos sempre seguir em frente. Eu era uma pessoa muito fechada, não conversava, não falava. O convívio com as pessoas do projeto me ensinou a como me expressar e expor meus sentimentos. Eles me ensinaram a seguir em frente e jamais desistir dos meus sonhos. Hoje, trabalho na Secretaria de Esporte e Lazer (Seel) e pretendo fazer faculdade na área de administração e em língua portuguesa”.

COOPERATIVAS – O programa ViraVida conta com a parceria da unidade nacional do Sescoop e suas organizações estaduais. Ano passado, o SESI-PA assinou acordo de cooperação técnica com o Sistema OCB-PA para a ministração de módulos sobre o cooperativismo. A partir de 2017, a parceria entra em uma nova fase. A OCB-PA também irá participar do processo de inclusão econômica com a integração do Programa Aprendiz Cooperativo. “Ano que vem, vamos trabalhar para que as cooperativas selecionem um jovem em período de reabilitação para atuar dentro da própria cooperativa. A intenção é que ela possa dar oportunidade para estes jovens entrarem no Aprendiz Cooperativo e se aprofundarem no conhecimento sobre o cooperativismo, gerando também emprego e renda. Algumas empresas demonstram preconceito em contratar uma mão de obra com esse perfil, mas as cooperativas, como forma de economia responsável e de preocupação com o desenvolvimento socialmente sustentável, devem se engajar nesta ação. É um público que mais necessita e que precisa ser valorizado. A OCB-PA tem orgulho de fazer parte deste processo com a nossa turma de aprendizes. Vai ser uma integração de muito sucesso, afinal, um programa complementa o outro. O VIRAVIDA faz esse resgate social e o Aprendiz dá a oportunidade de mercado”, afirma o superintendente do Sistema OCB-PA, Júnior Serra. (Fonte: Assimp Sistema OCB/PA)

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