Agroenergia é opção para pequenos agricultores
“A agroenergia para produtores familiares do Brasil é viável, quando se basear em aproveitamento de subprodutos da propriedade - como produção de biogás a partir de dejetos dos animais - e de biomassa, como lenha originada de pequenos reflorestamentos que aproveitam as áreas marginalmente aptas para agricultura”. Essa foi a perspectiva apontada do pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Airton Spies (foto), durante a palestra sobre “Oportunidades e desafios para a inserção da agronergia no modelo de agricultura familiar sustentável".
Spies participou do “Seminário Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável”, realizado nesta quarta-feira (16/7), logo após o encerramento da solenidade de lançamento do Programa Inserção Sustentável das Cooperativas no Mercado de Carbono, na sede da OCB, em Brasília (DF).
“Cabe às instituições como o sistema cooperativo, antecipar as tendências, investindo em Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e aproveitar oportunidades, como o mercado de créditos de carbono”, diz Spies. Para ele, produção de biocombustíveis líquidos por agricultores familiares de estar associada à solução de problemas de abastecimento local (por exemplo, em áreas isoladas da Amazônia) ou, quando estiver aproveitando recursos ociosos, em propriedades familiares que não têm outra opção de renda, é possível que seja justificada, diz o pesquisador.
Novas tecnologias como a hidrólise enzimática de celulose são necessárias, destacou. Ele explicou que fora desse contexto, é muito provável que os investimentos feitos com incentivos de dinheiro público, mas que não têm sustentabilidade sob regras de mercado, traga grandes desperdícios.
Segundos Spies, no Brasil existem mais de 4,3 milhões de propriedades rurais cujo modelo agrícola está baseado na agricultura familiar. A agroenergia entra nesse contexto de uma forma bem diferente do que na agricultura empresarial predominante no Brasil-Central. Biocombustíveis como o etanol e, principalmente o biodiesel, são commodities que tendem a apresentar pequenas margens de lucro por unidade, e os ganhos estão relacionados às economias de escala. Por isso, é preciso produzir grandes quantidades para se ter uma renda razoável para sustentar uma família, assinalou.
Portanto, resumiu o pesquisador, no desafio de buscar a sustentabilidade da agricultura familiar, os biocombustíveis e o biodiesel produzido a partir de grãos não são opção viável. “Os agricultores devem se dedicar às atividades de alta densidade econômica, que geram mais renda por área. Ou seja, devem produzir produtos que permitam fazer grandes negócios - em pequenas propriedades" – como a produção de frutas, hortaliças, leite, mel, flores, vinhos, plantas bioativas, criação de peixes, e produção de animais de forma intensiva.