Cooperativismo é a chave para protagonismo no combate as mudanças climáticas

Acelerar o acesso a ferramentas que mensurem as emissões dos gases de efeito estufa e incentivar a adoção de boas práticas que promovam o aumento da produtividade e o sequestro de carbono são maneiras eficientes para a inserção do público cooperativista no tema. Esta premissa foi evidenciada no painel O papel do Brasil para a descarbonização global: oportunidades para o coop, da Semana de Competitividade do Cooperativismo 2023, nesta terça-feira (8).  Seja na redução dos impactos na cadeia produtiva do agronegócio ou na produção energética renovável, a participação do cooperativismo é considerada primordial para o alcance das metas estabelecidas na Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A gerente de Desenvolvimento de Cooperativas, Débora Ingrisano, divulgou, durante o painel, a Solução Neutralidade de Carbono, iniciativa idealizada pelo Sistema OCB para auxiliar o cooperativismo a ser protagonista no tema. “Essa solução tem o objetivo de apoiar as cooperativas nas ações de  inventariar e monitorar as emissões de gases de efeito estufa em suas atividades, visando conhecer a pegada de carbono  e adotar soluções para reduzi-las e até neutralizá-las.  Tudo isso baseado em metodologia mundialmente reconhecida”, descreveu. O Sistema OCB tem promovido workshops com cooperativas sobre as tecnologias e as boas práticas para auxiliar o cooperativismo a alcançar a neutralidade de carbono e mensurar o sequestro de gás em suas atividades, ações que as habilitará futuramente para o recebimento de pagamentos por serviços ambientais. “O projeto Neutralidade de Carbono está em fase piloto e em 2024 estará disponível para todo o país”, explicou Débora. O painel contou com a participação dos pesquisadores do Observatório de Bioeconomia da FGV, Talita Priscila Pinto e Eduardo Assad. Talita Priscila fez uma correlação histórica do crescimento populacional e exploração dos recursos naturais, apontando que a soma das ações em períodos como a Revolução Industrial contribuíram de forma considerável para o aquecimento global. “Nos últimos 50 anos vimos uma degradação dramática do capital natural do planeta. Sabemos que a temperatura oscila e temos picos de frio e de calor, mas a concentração de dióxido de carbono só cresce por causa do padrão de desenvolvimento da população global”, alertou a doutora. Eduardo Assad, especialista em mudanças climáticas e seus impactos na agricultura, destacou que as maiores emissões brasileiras são respectivamente decorrentes da mudança do uso da terra (desmatamento ilegal e queimadas) e da produção agropecuária.  Ele detalhou o histórico dos alertas sobre o aumento da temperatura do planeta. Para Assad, a inação pode resultar em uma emissão de gases anual de 3 mil gigatoneladas. “É preciso entender que as altas temperaturas trazem inúmeros prejuízos. Por exemplo, o clima quente em 32% acima do normal inviabiliza a produção de café e laranja em regiões tradicionais dessas culturas. As perdas ambientais e financeiras já são enormes”, exemplificou. O pesquisador também pontuou algumas medidas para aliviar e reverter este quadro. "Não podemos desmatar mais, e precisamos fazer um manejo sustentável, com adoção de tecnologias de baixa emissão de carbono e incentivar a pesquisa e o consumo de biocombustíveis”. Ele explicou ainda que, na criação de gado, a recuperação das áreas degradadas pode remover até 160 milhões de toneladas de gases. Essa prática consorciada com o plantio da soja traz ganhos de produtividade, podendo chegar a duplicá-la. “Os sistemas integrados são a chave para mudar a realidade e proporcionar até três safras por ano, integrando grãos, madeira e gado. Além disso, o balanço de emissões acumuladas da soja sob o sistema de plantio direto entre 2021 e 2030 gerará um saldo positivo e enriquecerá o solo. Esse balanço é factível, porque já temos conhecimento tecnológico e estamos inserindo o pequeno e o médio produtor nessas tecnologias”, evidenciou.

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