Estudo analisa nova métrica sobre emissão de gases de efeito estufa
O Observatório de Bioeconomia, do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou em seu boletim análise (4/22) sobre nova métrica para emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) sugerida pelo Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O estudo da fundação também leva em consideração o Acordo de Paris, que definiu uma meta limite de aumento da temperatura global até 1,5º C acima dos níveis pré-industriais, ao invés do volume de emissões dos GEE, até 2050.
O coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Marco Morato, declarou que organização apoiou o estudo e que as cooperativas já atuam para diminuir os impactos ambientais nas atividades agropecuárias. “Este estudo sobre métricas de medição de metano na pecuária e seus distintos impactos orientam melhor a agropecuária brasileira sobre os reais desafios para a descarbonização do setor”.
Segundo Morato, as cooperativas agro já possuem inúmeras atividades que promovem a sustentabilidade na agropecuária brasileira, como: atividades práticas de recuperação de pastagens, sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas, a produção de bioinsumos e a realização de manejo de resíduos da produção animal”, avalia Morato.
Segundo o boletim da FGV, o gás metano (CH4) é o segundo gás de efeito estufa presente na atmosfera, sendo responsável por 17,6% das emissões globais. Já o dióxido de carbono (CO2) representa 74,4%. O esforço global está na neutralidade do metano, pois o ciclo de vida do gás na atmosfera tem duração média de 12 anos, enquanto o CO2 permanece por 100 anos. Então, a redução de metano na atmosfera simboliza um método mais rápido de frear o aumento da temperatura do planeta.
A nova métrica de conversão do metano é denominada de Global Warming Potential Star (GWP*) ou Potencial de Aquecimento Global em português. Ela é baseada na variação das emissões ao longo do tempo (ao invés da emissão anual) e considera os impactos em diferentes momentos da permanência do gás na atmosfera, afetando diretamente a atividade pecuária. Representa ainda um menor potencial para o aquecimento global se comparado com outras métricas oficiais como a GWP100, onde são considerados os gases que permanecerão 100 anos na atmosfera.
O arroto do boi
A atribuição da métrica com a pecuária está atrelada à fermentação entérica, mais conhecida como arroto do boi, que representa 19% das emissões de GEE, no mundo, e 2% no Brasil. O estudo da FGV considera, de acordo com a nova métrica, que até 2030 a emissão de metano pelos rebanhos retornariam aos níveis da década de 1980 e permaneceriam neste patamar até 2050. Com a métrica GWP100, o potencial de aquecimento seria 1,95 vezes superior.
Outro ponto tratado no documento é o aumento da produtividade pecuária com a redução de rebanho. Isto se daria em um cenário em que os animais ganhariam mais peso, em menos tempo. Então, o volume produzido de carne animal demandaria menor rebanho e, por consequência, menos emissão de metano por parte deles. Com isso, de acordo com o estudo, a pecuária brasileira não teria implicações na temperatura do planeta, uma vez que a redução de gado já atingiria a neutralidade climática em 2040.
Como destacado por Morato, o estudo também versa sobre as boas práticas para a mitigação das emissões de metano. Os especialistas da FGV, Talita Priscila Pinto, Cicero Zanetti de Lima, Camila Genaro Estevam, Eduardo de Morais Pavão e Eduardo Delgado Assad sinalizam que a adoção de manejo de dejetos e biodigestores, bem como a qualidade da dieta animal para ganho de peso vivo e redução do tempo de abate atrelados ao uso de tecnologias “podem reverter o papel da pecuária nas mudanças climáticas”.