Nosso ouro verde
O etanol brasileiro foi o tema principal das visitas dos presidentes dos EUA e da Alemanha, além do 1º Ministro da Itália; não param de brotar novos investimentos nacionais e estrangeiros para ampliar a nossa produção; os veículos “flex” tornaram-se objetos de desejo; os produtos derivados da cana aumentaram sua participação na matriz energética brasileira de 13,8%, em 2005, para 14,4% em 2006, segundo o EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
As manchetes não me deixam mentir, o setor sucroalcooleiro brasileiro está colhendo os frutos da sua competitividade. Demonstração clara foi o recente acordo entre Brasil-EUA, que respondem por 72% da produção mundial, no qual ambos acertaram projetos comuns de pesquisa e desenvolvimento de etanol de celulose, o estabelecimento de padrões internacionais para a nova commodity, além da cooperação técnica para expansão do produto em terceiros mercados.
Trata-se de uma parceria estratégica, afinal, os EUA assumiram que sem o nosso know-how não serão capazes de substituir 15% da gasolina consumida no país, cerca de 132 bilhões de litros, por fontes renováveis, até 2017.
Se a competitividade nos diferencia, agora, o desafio está em sedimentar a sustentabilidade, diante da preservação ambiental, da necessidade de melhoria nas condições de trabalho e da incorporação de conceitos de responsabilidade social.
A União Européia (UE), por exemplo, começa a elaborar uma lei que exigirá que os exportadores de biocombustíveis certifiquem que seus produtos sejam sustentáveis ambientalmente. Alguns podem dizer que se trata de mais uma barreira para o nosso etanol. Entretanto, a meta européia de que 10% da sua frota seja movida à energia renovável, até 2020, nos alerta para uma nova realidade global, em que as certificações socioambientais serão premissas para futuros acordos comerciais.
A cultura da cana responde por 10% da área agricultável paulista e vale mencionar que, a cada ano, o canavial cede 30% do seu espaço para cultura de grãos. Isso fez com que a região de Ribeirão Preto, tradicional reduto da cana, tornar-se uma das grandes produtoras de amendoim do País.
A nova fronteira agrícola está no Oeste Paulista, onde 39 usinas e destilarias devem entrar em operação até 2010. Segundo a UDOP – União dos Produtores de Bioenergia, a região é composta por 64,39% de pastagens destinadas à pecuária extensiva. Pesquisa da entidade aponta que uma melhoria de 30% no pastoreio poderia gerar dois milhões de hectares para agricultura. Mesmo que a totalidade desta área fosse destinada para a produção de cana, a região disporia de 29% da sua área para esta cultura. Na região, estima-se que os novos empreendimentos devem gerar 300 mil postos de trabalho.
Excetuando-se a cultura da soja, a cana é a que melhor remunera os trabalhadores. O salário mínimo dos responsáveis pela colheita é de R$ 466,60, mais um adicional por tonelada de cana colhida, além de 92% da categoria dispor de carteira assinada. A obrigatoriedade de equipamentos de proteção, exames médicos prévios e a “bóia-quente”, já fazem parte do cotidiano nos canaviais paulistas.
Em relação ao uso da queima na colheita, sei que se trata de uma prática primitiva e prejudicial à qualidade de vida da população que mora perto dos canaviais. Ajudei na elaboração e aprovação da lei estadual que tinha como objetivo disciplinar, monitorar, fiscalizar e reduzir os impactos ambientais, além de estabelecer o prazo de 30 anos para o fim desta prática. Hoje, com índices de mecanização que chegam a 36% e com os investimentos em maquinário aumentando a cada safra, precisamos rever alguns aspectos desta legislação, principalmente em relação ao prazo para a extinção das queimadas.
Processos de reuso da água e utilização da vinhaça como fertilizante também estão sendo incorporados ao processo produtivo. Além disso, os critérios para obter o licenciamento ambiental dos novos empreendimentos estão bem mais rigorosos.