Produtores defendem tomate mais caro
Popular na mesa das famílias brasileiras, o tomate se tornou o vilão da cesta básica. Símbolo da alta do custo de vida pela qual passa o país, o fruto tem sido vendido, em média, a R$10/kg nos supermercados do Distrito Federal. Em outras unidades da Federação, os valores são ainda mais salgados. No Rio de Janeiro, por exemplo, chega a R$ 14/kg. A surpresa com o alto custo do queridinho da salada chegou às conversas entre amigos e até às redes sociais. E, no que depender dos produtores, o tomate vai dar mais o que falar.
Os agricultores dizem que os recentes aumentos no preço do legume permitiram um fôlego à sustentabilidade dos negócios. Mas, ainda assim, estimam eles, o ideal é que o quilo custasse, ao menos, R$ 12 para que a margem de lucro, de fato, compensasse os investimentos. De acordo com os produtores, além da elevada dependência de fatores climáticos, o cultivo de tomate é refém dos altos gastos com o combate a doenças e da escassez de mão de obra.
O estado de Goiás é o maior polo de tomaticultura do país e um dos mais importantes da América Latina. Mas o plantio do fruto sofreu uma mudança de núcleo nos últimos quatro anos. Em busca de terras mais férteis, os agricultores migraram de Goianápolis para Corumbá de Goiás. Com isso, a antiga capital do tomate perdeu o posto para o município localizado a cerca de 115km de Brasília.
A produção de Corumbá é de, em média, 10,4 mil toneladas ao ano — ante 9,4 mil toneladas de Goianápolis. "É um movimento recente, mas que já tem mostrado que a nova área tem força para continuar", contou o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) Leonardo Machado. As caixas de tomate de Corumbá têm destinos certos: Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Tocantins.
O destaque dos últimos anos chamou a atenção até de municípios vizinhos a Corumbá e o transformou também em um grande ponto de distribuição e comercialização do fruto. A 16km dali, Cocalzinho aproveitou o potencial da região e entrou na onda. Um desses exemplos é o negócio de Vander José Luciano, proprietário da Silvander Tomates. Ele cultiva em Cocalzinho, mas concentra a distribuição em Corumbá. "A capital federal é o nosso maior mercado consumidor. Cerca de 60% do que sai daqui vai para Brasília", explicou ao Correio.
Chuvas - Mas, ainda que tenha clientela garantida, conta Luciano, a quantidade produzida não foi suficiente para tornar o negócio autossuficiente: o gasto do cultivo é, hoje, de R$7 mil por cada mil pés. O ideal é que fosse, no máximo, a metade disso: de R$ 3,5 mil por cada mil pés. Uma das principais explicações para isso são as intensas chuvas, que diminuem a produtividade e aumentam a incidência de pragas, segundo Leonardo Machado. O clima ideal para o plantio do tomate é aquele com pouca umidade e bastante intensidade solar.
Em Contagem (MG), por exemplo, onde o volume de precipitações também é elevado nesta época do ano, o tomate produzido está sendo vendido cerca de 40,8% mais caro que no mesmo período do ano passado. "E, como se trata de um produto muito consumido, o barulho pela elevação dos preços acaba sendo ainda maior", disse o coordenador do Setor de Informação de Mercado da Ceasa Minas, Ricardo Martins. A expectativa dele, porém, é que, a partir do próximo mês, com o início da estiagem, os preços comecem a cair.
A cada entressafra, no entanto, o valor do fruto tem atingido picos mais altos. "Tem a questão sazonal, mas a gente verifica que, de uns quatro anos para cá, sempre nesta época, o preço se eleva demais", disse Machado. No primeiro trimestre de 2013, o tomate acumula alta de 70,9%, e, nos últimos 12 meses, a elevação é de 104,11%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor, medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Mão de obra - O gerente da fazenda Silvander, Adelino Alves de Freitas, reclama também da falta de profissionais qualificados para trabalhar no cultivo. "É uma lavoura que precisa de gente que conheça bem o trabalho. Não dá para colocar qualquer um na horta", ressaltou. De acordo com ele, durante a colheita, são contratadas 50 pessoas para trabalhar na propriedade.
Todas essas dificuldades aliadas à baixa rentabilidade da produção têm feito com que, a cada ano, os agricultores dediquem cada vez menos hectares para a tomaticultura. Nos últimos, em todo o país, a área de plantio do fruto teve redução de 16%. Tendência que preocupa toda a cadeia, porque deve elevar ainda mais o preço médio do tomate ao consumidor final.
(Fonte: Correio Braziliense)