ENTREVISTA DA SEMANA: Ricardo Guimarães
Brasília (22/11/16) – Representantes das cooperativas premiadas da 10ª edição do Prêmio SOMOSCOOP – Melhores do Ano participaram nesta terça-feira (22) de uma palestra sobre inovação e cenários, conduzida pelo renomado Ricardo Guimarães, representação nata do sucesso empreendedor nacional. Ele discorreu sobre novas gerações, desafios, importância da mudança e da inovação e sobre como o cooperativismo pode ajudar o processo de desenvolvimento econômico do país.
Confira, abaixo, alguns flashes de como ele vê assuntos importantes e que merecem um pouco de reflexão para quem deseja ampliar sua participação no mercado e, assim, obter mais resultados socioeconômicos.
A compreensão a respeito da sociedade atual, tão complexa, ainda demandará muito tempo?
Ricardo: Isso vai depender do que acontecerá de agora em diante. Parece óbvio e é isso mesmo! A gente vai aprendendo a lidar com a realidade conforme ela vai se impondo. Então, na medida em que os fenômenos vão acontecendo, vamos aprendendo a lidar com eles. Por exemplo: há quanto tempo existe o waze? Pouco tempo! E todos nós tivemos de aprender a usar esse aplicativo para chegar onde não conhecemos. Ocorre que, em apenas dois minutos, nos tornamos experts em waze. Então, precisamos desenvolver a competência de aprender a aprender e, assim, obter mais tempo, mais segurança... É o que chamamos de fenômeno da época, quer dizer, é um serviço que nasce de uma complexidade, que nos proporciona novos acontecimentos a partir da heterogeneidade, conectividade, interatividade...
As gerações vão precisar se conectar entre si para se entenderem melhor?
Ricardo: Acredito que sim, contudo, não imagino que seja algo muito diferente do que já vem ocorrendo ao longo da história. O jovem é uma pessoa que sabe pouco, então ele não resiste tanto para adotar novos hábitos ou dinâmicas. Esse é o processo da vida, mesmo. O que, entretanto, eu tenho reparado, é que antigamente precisava-se de 20 anos para fazer uma nova geração. Hoje, esse tempo é bem menor: cinco anos. Isso permite que tenhamos várias gerações ao mesmo tempo, com narrativas e linguagens diferentes... e talvez isso torne o processo mais complexo, mas tudo vai ser resolver.
E como as empresas podem se reconstruir, a partir desta realidade públicos tão diferentes?
Ricardo: Esse é um grande desafio, pois as empresas não vão mais poder se ver como torres de controle e comando, olhando para o mercado como se elas fossem os públicos-alvo. Nós teremos, em um futuro breve, empresas mais horizontais, com uma dinâmica muito mais rica de troca de informações, com processos de co-criação, com mais segurança, menor custo, mais criatividade para os serviços e produtos que a sociedade demanda e demandará.
Poderia explicar porque você afirma que a cooperação surge no mundo atual como um “imperativo de sobrevivência”?
Ricardo: Porque a necessidade de se responder mais rapidamente ao cenário, vai fazer com que o fluxo de informação entre os elementos do sistema seja melhor. Isso já está provado. Para se ter uma ideia, foi feita uma pesquisa realizada com grupos de macacos. E na capela (coletivo de macaco) onde se competia mais do que cooperava, o fluxo de informação era muito lento entre os elementos da tribo, ou seja, eles demoravam mais para aprender o que estava ocorrendo no cenário e, com isso, sucumbiam.
Já os macacos que tinham maior cooperação entre si, ou seja, que ensinavam um ao outro o que aprendiam, faziam com que o fluxo de informação fosse repassado numa velocidade tal que permitia que a tribo toda aprendesse mais rápido. E isso foi comprovado pela presença de ocitocina. Ou seja, a capela que tinha mais ocitocina cooperava mais e com isso sobrevivia, evoluindo. Conosco não é diferente, quanto mais cooperarmos uns com os outros, mais longe poderemos chegar.
Qual o seu recado para as cooperativas brasileiras?
Ricardo: Eu diria "revejam seus processos, sua regulamentação, seus indicadores...". É fundamental que as cooperativas sejam gerenciadas como um sistema, não como empresas isoladas. Acredito muito que é necessário que a abordagem sistêmica seja adotada por elas. Pelo que vejo, as cooperativas têm uma proposta de sistema, mas não são gerenciadas como tal. Os cooperados precisam se apropriar não somente da cooperativa, mas do cooperativismo, afinal, só uma abordagem unificada dará o protagonismo que o setor precisa para se desenvolver.