Flexibilidade e boa governança determinam o sucesso dos bancos
Brasília (28/2/20) – Inúmeros planos econômicos e trocas de moeda, hiperinflação, entrada de competidores estrangeiros, drásticas mudanças tecnológicas, sem falar no advento das fintechs. Desde que o primeiro banco, o Banco do Brasil, surgiu em 1808, o país viu muitas instituições públicas e privadas, nacionais ou estrangeiras, entrarem e saírem de cena.
Muitas sucumbiram à má gestão e às dificuldades financeiras, outras foram adquiridas por bancos maiores. Mas há aquelas que se reinventaram e permanecem, depois de mais de cem anos, entre as mais importantes do país.
“A capacidade de se adaptar e ser flexível é fundamental para a longevidade dos bancos, porque o Brasil não é simples. Costumo brincar que é o único país em que longo prazo quer dizer 24 horas”, diz Claudio Gallina, head de instituições financeiras América Latina da Fitch Ratings. Entre os fatores determinantes para se manter no páreo, segundo ele, estão fortes investimentos em tecnologia, agilidade e melhores práticas de governança corporativa e compliance.
Com 159 anos de história e cerca de 100 milhões de clientes, a Caixa Econômica Federal fechou 2019 com lucro líquido recorrente de R$ 14,7 bilhões, 20,6% superior ao ano anterior. O lucro contábil, por sua vez, alcançou R$ 21,1 bilhões, 103% maior que 2018. Segundo o presidente da CEF, Pedro Guimarães, parte do resultado do lucro contábil é não recorrente e vem da venda de parte da participação da instituição em empresas como Petrobras e Banco Panamericano, além da venda de títulos públicos. Ele acrescenta que o resultado positivo também considera a retomada do foco e liderança no crédito imobiliário e redução de custos. “Teremos mais dois ou três anos de lucros não recorrentes pela venda de participações que não são o negócio principal da Caixa.”
Ele confirma a intenção de abrir o capital Caixa Asset, Caixa Cartões, Caixa Loteria e Caixa Seguridade. “Os IPOs são uma questão clara de estratégia, mas não têm data definida porque dependem de várias aprovações”, afirma o presidente da CEF.
Coordenador do curso de economia da FGV EESP, Joelson Sampaio diz que não vê como desinvestimento a forte venda de ativos de bancos públicos como a CEF. “Acredito que pode ajudar a dar mais eficiência para se concentrarem em suas atividades principais”, afirma ele.
Para Gallina, da Fitch Ratings, nos governos passados tanto a CEF quanto BB tinham mandato para aumentar o volume de crédito concedido e com isso forçar outros bancos a emprestar a juros mais baixos. “O aumento da participação dos bancos públicos no crédito foi relativamente rápido, mas a inadimplência aumentou”, diz.
Segundo Gallina, com as crises políticas e econômicas que vieram, começou a se questionar se a capitalização desses bancos seria suficiente para que eles sobrevivessem. “Por isso foi importante reduzir custos e os ativos ponderados pelo risco. Com isso, os indicadores de capital melhoraram. Com o novo mandato desses bancos, a ordem é focar nas operações mais importantes para os bancos.”
No caso de cooperativas de crédito centenárias como o Sicredi, muitas adaptações também foram necessárias para garantir a longevidade. Presente em 1.361 municípios de 22 estados, o Sicredi conta com 4 milhões de associados e iniciou sua história no final do século 19 com o padre suíço Theodor Amstad, que incentivou os agricultores do Sul do Brasil a adotar o modelo de cooperativismo de crédito, já difundido na Europa. “Na última década nossos ativos têm crescido na ordem de 20% ao ano. Temos feito investimentos massivos em tecnologia e temos abertura para atrair e conviver com startups e fintechs”, diz Manfred Dasenbrock, presidente da SicrediPar, da Central Sicredi PR/SP/RJ e membro do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito. “Neste ano prevemos abertura de novas agencias em São Paulo, incluindo a capital, e em Minas Gerais”, afirma Dasenbrock.
Fonte: Valor Econômico
Por Adriana Carvalho
28/2/2020