16/09/2010 - Concentração em laticínios ganha força
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Duas negociações atualmente em curso podem concentrar de vez o setor de lácteos no país, num movimento comparável ao que já se verificou no de frigoríficos de carne bovina. Se concretizadas, a fusão entre Leitbom e Bom Gosto e a união de quatro grandes cooperativas de laticínios nacionais - entre elas a Itambé - levarão à criação de duas empresas com captação de leite em níveis semelhantes aos de Nestlé e Brasil Foods (resultado da união entre Perdigão e Sadia), hoje as líderes nesse quesito no mercado brasileiro.
Serão então, segundo especialistas, quatro grandes empresas com captação, cada uma, na casa dos dois bilhões de litros de leite por ano. Isso significa que cada companhia captará 10% do mercado de leite formal do Brasil. Esse mercado é estimado em 20 bilhões de litros por ano pela Leite Brasil, associação que reúne produtores de leite.
Bem distantes dessas "gigantes" no ranking estarão os laticínios de porte médio, com captação entre 300 milhões e 400 milhões de litros de leite por ano.
As negociações entre a gaúcha Bom Gosto e a GP Investimentos, controladora da Monticiano (dona da marca Leitbom), começaram no fim do primeiro semestre, meses depois de a Monticiano formar consórcio com a Laep Investments, controladora da Parmalat. De acordo com fontes do setor, o BNDES também participa das conversas entre Leitbom e Bom Gosto. O braço de participações do banco de fomento, o BNDESPar, tem hoje 34,6% do capital da Bom Gosto.
Nem a GP nem o BNDES comentam as informações, mas segundo uma fonte ouvida pelo Valor, numa união entre Bom Gosto e Leitbom, o banco poderia ampliar a sua participação no capital da nova empresa. Consultada, a Bom Gosto também não quis comentar o assunto.
Uma fonte próxima à Bom Gosto disse que nos últimos meses a empresa conversou várias vezes com a GP, discutindo uma fusão, mas ainda "não haveria papéis na mesa". A fonte admitiu, contudo, que no futuro as negociações podem evoluir com a GP ou com "qualquer outro", pois a Bom Gosto também tem conversado com outras empresas com vistas a uma eventual fusão ou aquisição.
A companhia gaúcha cresceu nos últimos anos graças a aquisições, que tiveram o apoio do BNDES. O movimento agressivo fez a receita da Bom Gosto crescer, mas também provocou um aumento de 133% no endividamento financeiro líquido da companhia em 2009, para R$ 347 milhões.
Mais longa tem sido a negociação entre cooperativas brasileiras de lácteos para uma fusão que criaria a maior central de laticínios da América Latina. Há um ano, as mineiras Itambé, Minas Leite e Cemil, a Centroleite, de Goiás, e a Confepar, do Paraná, começaram a negociar uma fusão. Em agosto, a Cemil, que teria um peso pequeno na cooperativa resultante da fusão, retirou-se do projeto. Alguns céticos consideram que a fusão das centrais é um objetivo difícil de ser alcançado, mas a maioria dos analistas do setor vê uma eventual união como positiva pois fortalecerá as cooperativas de leite.
Assim como outros segmentos do agronegócios, o de lácteos também sofreu os efeitos da crise internacional a partir do fim de 2008, o que precipitou um movimento de consolidação. Empresas que já enfrentavam dificuldades, como a Laep, não tiveram outra alternativa senão buscar um sócio.
A Laep fechou acordo com a Monticiano, controlada pela GP, no qual aportou fábricas e marcas das empresas Glória e Ibituruna e recebeu ações ordinárias da Monticiano. O negócio também incluiu a transferência para a Monticiano do licenciamento da marca Parmalat até 2017.
A própria Monticiano, que entrou em lácteos em 2008 com a compra da Morrinhos, de Goiás, vinha trabalhando com prejuízo e viu no consórcio com a Laep uma forma de ampliar suas receitas e ganhar espaço no varejo nacional com uma marca reconhecida.
Num setor de alta volatilidade de preços da matéria-prima e margens baixas, os laticínios buscam, com a consolidação ganho de escala e maior poder de barganha com o varejo e com fornecedores.
Analistas e fontes de indústrias acreditam que a consolidação em lácteos, vista há anos em outros países, deve gerar uma maior disputa por leite no mercado e um maior equilíbrio nos preços de venda no varejo, além de ampliar a profissionalização.
Presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, não teme um efeito negativo da concentração sobre o mercado de leite ao produtor, mas defende que as empresas paguem por qualidade ao pecuarista. "O maior problema é a volatilidade do leite", afirma.
Veículo: Valor Econômico
Publicado em: 16/09/2010