19/11/2008 - Entrevista ao presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas

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Globo Rural - Qual a avaliação da OCB a respeito dos avanços do cooperativismo agropecuário no Brasil na última década? E quais os principais desafios que se colocam para o futuro?

Márcio Lopes de Freitas – Entre 2000 e 2007, o número de cooperativas passou de 5.903 para 7.672, de associados de 4.65 milhões para 7,69 milhões e empregos gerados, cresceu 48,2%. As exportações, no mesmo período, aumentaram 334,9%. Isso demonstra que o cooperativismo, na última década, cresceu não só quantitativamente, mas qualitativamente, com agregação de valor, vantagens competitivas e, principalmente, com responsabilidade social. O IDH (índice de Desenvolvimento Humano) de onde não há cooperativas é inferior quando se compara aos municípios onde elas estão localizadas. Dessa forma, percebe-se que as comunidades onde as cooperativas estão presentes vivem muito melhor. As cooperativas agropecuárias investiram muito na última década em serviços. Na assistência técnica de qualidade, na infra-estrutura de armazenagem e agroindústria, em logística, inclusive portuária. Para o futuro, o grande desafio é superar as ameaças dessa grande onda da crise mundial e aproveitar para surfar nas oportunidades que ela oferece. Um velho processo começa a ressurgir no sistema cooperativista, o da intercooperação. A soma de esforços entre as cooperativas é fundamental para superação da crise e fortalecimento do setor nas disputas de mercado, com o surgimento de megaempresas, a exemplo da fusão entre Itaú e Unibanco. Confiantes em nossas estratégias, acreditamos na continuidade do desenvolvimento e crescimento do cooperativismo, estimando, inclusive, um aumento de suas vantagens competitivas e seu conseqüente fortalecimento.

Globo Rural - Estamos vivendo um momento de revisão dos valores do neoliberalismo ortodoxo, após a eclosão da crise do sistema financeiro nos Estados Unidos e Europa. Este novo momento propicia o crescimento do cooperativismo como forma de busca do desenvolvimento sustentável?

MLF - Assim como exemplos de empresas empreendedoras do Brasil, as cooperativas estão revendo seu planejamento, sem, é claro, deixar de aproveitar as oportunidades que o mercado lhes oferece e de concluir os investimentos de longo prazo já iniciados. Entretanto, as incertezas do mercado para um futuro próximo levam-nas a rever conceitos e estratégias, pensando, principalmente, em como proteger o quadro de associados dos impactos negativos da crise internacional.

Globo Rural - Em relação à pergunta acima, no caso do Brasil, e aqui falando de um exemplo prático, com as tradings tendo dificuldades para manter sua posição compradora tradicional – especialmente junto aos produtores do Centro-Oeste, podem auxiliar numa maior conscientização de que a união em cooperativas é uma alternativa mais lógica e duradoura?

MLF - A “saída” das tradings do mercado, inclusive na oferta de crédito, tem sido uma perda para todo o agronegócio. O crédito oficial representa hoje apenas 27%. O restante vem de créditos privados, sendo estes de recursos próprios, de bancos privados, factorings, fornecedores de insumos e tradings. Agora, nessa onda de dificuldades, como dito anteriormente, a união é fundamental e consiste-se na melhor estratégia para empresas e cooperativas superarem as barreiras mercadológicas e econômicas. Processo este que não se mostra difícil para o setor cooperativista, uma vez que a intercooperação faz parte de seus princípios. Comumente, as cooperativas trocam serviços, realizam parcerias, enfim, consolidam as chamadas “alianças estratégicas”. Agora, só precisam afinar a viola, conjuntamente com estratégias mais ousadas, fazendo aquilo que sempre fizeram juntas, mas com a malícia de quem já passou por diversas crises. Com foco nos seus clientes internos e externos e na cooperação, esse será mais um momento de dificuldades transformado em oportunidades.

Globo Rural - O que pode ser feito para incentivar os produtores, neste caso? A OCB vem implementando algum tipo de ação junto aos produtores das regiões que têm menor índice de adesão ao cooperativismo?

MLF - Devemos reconhecer o trabalho árduo de nossas organizações estaduais, tanto nas ações de profissionalização da gestão das cooperativas já existentes quanto para a organização de novas. Este é um trabalho que têm sido feito com muita exigência e seletividade, sempre focando a manutenção do alto padrão já alcançado. Não basta querer constituir uma cooperativa, é preciso harmonia, espírito de coletividade e de cooperação. Daí a justificativa para o alto índice de cooperativas sadias e de satisfação das pessoas por estarem associadas a esse tipo de organização.

Globo Rural - Qual a avaliação que a OCB vem fazendo para curto e médio prazo em relação às conseqüências da crise econômica mundial? Como as cooperativas vêm sentindo os efeitos dessa crise, se vêm?

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