Auditoria: segurança e credibilidade no cooperativismo alemão

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A temperatura de 10 graus, dois a menos do que o dia anterior, o céu nublado, as folhas dos plátanos cobrindo as ruas, são indícios que o inverno está chegando em Bonn. Aqui na Alemanha, acabaram as férias e as ciclovias estão lotadas de trabalhadores e estudantes que retornam aos seus postos, pedalando. Pontualmente às 9h, às atividades tiveram início na sede da Confederação das Cooperativas Alemãs  (DGRV), nesta terça-feira (10/9). O grupo assistiu a uma aula de auditoria  apresentada por Frau Dorthee Mende, gerente da DGR – entidade responsável pela auditoria de cooperativas (não só de crédito) e a cooperação com a Superintendência Financeira Federal (Bafin), o Banco Central da Alemanha (Bundesbank) e o Fundo de Proteção (BVR).
 
Dorthee apresentou o modelo de governança da auditoria feito pelas federações  que seguem a Lei das cooperativas alemãs. A entidade é um dos braços da Confederação das Cooperativas Alemãs  (DGRV) – ampliando às cooperativas de outros ramos (Crédito Rural, Comércio e Serviços). “Os relatórios de auditoria produzidos pela instituição são apresentados à diretoria e ao Conselho Fiscal e, posteriormente, entregues ao Bafin”, explicou a diretora.
 
De acordo com ela, esse trabalho de auditoria é divido em três pontos: o Contábil trata de indicadores financeiros econômicos e atendimento aos princípios e normas de contabilidade aprovadas pela Câmera de Contadores da Alemanha. Vale ressaltar que não é exigida a aplicação de algumas normas contábeis publicadas pelo International Accounting Standards Committee Foundation (IASB);
 
O segundo ponto é a Gestão – Envolve entre outros, a observação da  qualificação da diretoria contratada e o conselho, o planejamento estratégico, políticas, estrutura organizacional, governança, controles internos, organização dos produtos e serviços, auditoria institucional (dimensão das atividades, negócios e áreas de atuação), regras estabelecidas compatíveis com o modelo de estrutura de negócios, atuação de diretores e conselhos (atas, profundidade, posicionamento aos riscos), e outros.

E o terceiro é a o chamado Compliance - mecanismos de cumprimento e aderência a Leis, normativos internos e externos, cumprindo requisitos mínimos de Basiléia. Também são definidas por normas do Bafin demandas especificas para escopo de auditoria, como títulos e valores mobiliários registrados nas cooperativas, segregação de tarefas e aprofundamento qualitativo na carteira de crédito.

As federações de auditorias estão obrigadas a cumprir uma revisão de pares, a cada três anos, quando têm seus processos de auditoria (programas, metodologia, ferramentas e outros) revisados por outros auditores do mercado (exemplo: PWC e Deloitte). Os resultados dessas revisões são encaminhados a Câmera de Auditores. Ressalta-se que está alinhada com as normas de auditoria publicadas pelo International Federation of Accountants (IFAC) nas federações de auditoria e integralmente às normas publicadas no Código Comercial Alemão.
 
No Brasil, CNAC trabalha no fortalecimento das cooperativas de crédito
 
A Confederação Nacional de Auditoria Cooperativa (CNAC), há seis anos, atua junto ao cooperativismo de crédito, de forma a dar mais segurança aos associados, aumentando a credibilidade das informações contábeis. Com isso,  tem melhorado o nível de transparência na gestão das cooperativas brasileiras, estreitando o relacionamento entre cooperados, cooperativas, órgãos reguladores e supervisores, empresas parceiras e a sociedade em geral.
 
O resultado das auditorias realizadas pela CNAC alcançam tanto gestores e cooperados, quanto outros usuários externos, incluindo bancos, cooperativas centrais, fundos garantidores e o próprio banco Central. Esses serviços, segundo o diretor da instituição, Alexandre Euzébio Silva, que faz parte do grupo de estudo que está na Alemanha, são realizados de duas maneiras, para alcançar os objetivos da confederação: “uma voltada para as demonstrações contábeis de junho a dezembro de cada ano, para prestação de contas das cooperativas junto ao seu quadro social, e outra para datas-bases específicas dos processos de  incorporações e fusões entre cooperativas”, explica.
 
Dessa forma, a confederação auditou, de 2007 para cá, 31% das cooperativas de crédito do Brasil, em 1.848 postos de atendimento, atingindo positivamente 62% do total de cooperados, algo em torno de 3,6 milhões de pessoas. Nessa meia década de experiência, ela emitiu, ainda, quase 2,2 mil relatórios de auditoria sobre as demonstrações contábeis das cooperativas singulares, perfazendo uma média de 438 relatórios por ano.
 
Crédito: estabilidade na maior potência do mundo

Os bancos cooperativos na Alemanha são mais estáveis se comparados aos bancos comerciais, do País. A afirmação foi dada pelo diretor-geral da Associação Europeia dos Bancos Cooperativos (EACB – sigla em inglês), o francês Hervé Guider, tendo como base a pesquisa divulgada pelo Fundo Monetário Internacional, de 2008. O executivo falou nesta segunda-feira (09/09), para uma comissão formada por 25 brasileiros, na cidade de Bonn, Alemanha, onde participam de uma iniciativa do Sistema OCB que fomenta o conhecimento sobre boas práticas no cooperativismo de crédito nacional e internacional. O Projeto de Prospecção de Boas Práticas e Aprendizado Experimental  reúne representantes do governo, Banco Central do Brasil e Ministério da Fazenda, dos Sistemas de crédito (Sicoob, Unicred, Sicredi, Confesol), das cooperativas e centrais (Cecred e Credicoamo), Sebrae e de auditoria (CNAC). 

A situação favorável que torna os bancos cooperativos mais estáveis, citada por Guider, se justifica por três fatores: Colchão de Capital – formado por meio de reservas (cerca de 90% dos resultados apurados anualmente); Sistema de Proteção – Fundo Garantidor e Sistema de Supervisão Tempestiva.

Sobre  fundos garantidores locais,  ele trouxe o exemplo da Holanda -  o Rabobank, banco formado por 153 cooperativas de crédito, sendo a maior instituição financeira da Holanda com 41% de participação de mercado. O Fundo Garantidor local, neste caso, cria condições para a cooperativa singular que eventualmente vive uma crise financeira, receba um aporte financeiro do grupo e com isso cria condições de se recuperar, sem causar consequências ao cooperado.

Falando pausadamente em inglês, com um forte sotaque francês, Guider, prendeu a atenção, por duas horas, do grupo atento e questionador.  Apresentou a EACB - uma associação sem fins lucrativos -  fundada em 1970, com sede em Bruxelas. Ela é a voz de bancos cooperativos na Europa e, mais recentemente, junto das instituições mundiais do setor financeiro, representando 28 associações nacionais.

A instituição é estratégica nas tomadas de decisões tendo em vista que representa 4 mil bancos europeus, que globalmente respondem por um conjunto de 50 milhões de associados e detêm uma quota de 20% do mercado bancário europeu.

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