ENTREVISTA DA SEMANA: José Graziano da Silva
Cooperativismo é caminho para viabilidade econômica das nações, afirma diretor geral da FAO, José Graziano
Brasília (29/10) – Há mais de 30 anos trabalhando com agricultura, segurança alimentar e desenvolvimento rural, o agrônomo José Graziano da Silva é uma referência internacional nessa área. Desde 2012, atua como diretor-geral da Food and Agriculture Organizations of the United Nations (FAO) e, ao longo de sua trajetória, tem se destacado como grande incentivador de organizações de agricultores e cooperativas de pequenos produtores.
Confira abaixo uma entrevista concedida à revista Saber Cooperar, na qual Graziano destaca o cooperativismo como um caminho para buscar viabilidade econômica e responsabilidade social de forma a enfrentar choques econômicos e financeiros.
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O que o Brasil tem feito para fortalecer os agricultores familiares? E o que pode ainda ser feito?
José Graziano - Em primeiro lugar, desde o início do Programa Fome Zero, tem sido forte o vínculo da agricultura familiar com a estratégia nacional de segurança alimentar, mostrando que um país não pode abrir mão de uma rede de mais de quatro milhões de agricultores que produzem essencialmente alimentos.
Em segundo lugar, foram adotadas diversas políticas específicas para os agricultores familiares, como o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural.
O crédito para a agricultura familiar no Brasil é o que mais cresceu desde 2003/04. Naquele biênio, foram destinados 5,4 bilhões de reais para o Pronaf, valor que já representado quase o dobro do que havia sido orçado em 2002/03. Esse crédito aumentou constantemente ano após ano, quando atingiu 21 bilhões em 2013/14, o que representa um crescimento de 290% em 10 anos.
Além disso, houve redução substancial das taxas de juros do Pronaf, e aumento significativo dos limites de credito por operação, tanto de custeio quanto de investimento. Ainda há algumas lacunas a ser preenchidas, como a melhoria do acesso de agricultores familiares a serviços públicos, e a consolidação da agricultura familiar na agenda de infraestrutura rural do país.
Que rumos o Brasil e, em particular, o setor cooperativista devem seguir para se firmar como um exemplo mundial na produção sustentável de alimentos?
José Graziano - O cooperativismo brasileiro é um bom exemplo mundial, tanto pela participação no PIB agropecuário quanto no número de famílias que participam do sistema que, em grande parte, é de agricultores familiares. Em minhas participações em eventos internacionais, tenho chamado a atenção para o fato de que o cooperativismo enfrenta um enorme desafio: a redução das desigualdades, principalmente no meio rural. Mais do que crescer economicamente, fenômeno que diversos países da América Latina e Caribe estão experimentando, é necessário crescer com uma distribuição de riqueza mais equânime.
De que forma se dá a atuação da FAO na orientação às organizações de produtores e cooperativas?
José Graziano - Com uma nova abordagem em suas parcerias, a FAO tem estabelecido relações de longo prazo com organizações não-estatais, especialmente as cooperativas. Temos experiência no apoio a essas entidades. A FAO capacita agricultores e os estimula a se organizarem e em cooperativas. Facilita, igualmente, o intercâmbio de experiências e assistência técnica entre organizações e cooperativas de países (Norte-Sul e Sul-Sul).
Além disso, a FAO incentiva governos a estabelecerem ambientes propícios para as organizações de produtores e cooperativas, por meio do desenvolvimento de marcos regulatórios favoráveis e de plataformas participativas de diálogo com o setor público. Também tem divulgado, em seus documentos oficiais e relatórios anuais, as atividades e políticas relacionadas às cooperativas.
Na sua avaliação, qual é o principal legado do cooperativismo?
José Graziano - O setor cooperativista tem um modelo de desenvolvimento inovador. A última crise econômica e financeira nos fez olhar para as novas estruturas organizacionais, juntamente com os bancos e as multinacionais. É também um lembrete para a comunidade internacional de que é possível buscar tanto a viabilidade econômica e a responsabilidade social em face de choques econômicos e financeiros.
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