ENTREVISTA DA SEMANA_Leonardo Boesche
Governança é ferramenta que diminui riscos e aumenta a competitividade
Brasília (27/4) – O Manual de Boas Práticas de Governança também é o assunto principal da entrevista especial desta semana. Segundo o superintendente do Sescoop/PR, Leonardo Boesche, é fundamental que as cooperativas absorvam o conteúdo da publicação e, assim, se fortaleçam para continuar seu ritmo de crescimento, amparado por boas práticas que diminuem os riscos e aumentam sua competitividade. Confira.
Qual a importância de as cooperativas terem à disposição um manual como este?
Leonardo Boesche – O tema governança hoje, especialmente a governança corporativa, é latente no mercado de uma forma geral. As grandes corporações têm trabalhado muito essa questão e, as cooperativas por sua vez têm, de acordo com os ramos, algumas agências controladoras, que muitas vezes, acabam parametrizando-se por essas questões que já existem nas grandes corporações.
A grande questão é que uma sociedade cooperativa tem diferenças muito marcantes quando comparada a empresas de capital aberto. E por isso é tão importante que o Sistema OCB tenha lançado um Manual de Boas Práticas de Governança Cooperativa, possibilitando que as cooperativas sigam uma orientação de sistema com relação às suas práticas de governança. Nossa expectativa é de que esse material possa servir também de referência tanto ao mercado quanto às agências reguladoras.
O que você ressalta como principais diferenças entre a governança praticada por empresas mercantis e por cooperativas?
Leonardo Boesche – A caraterística própria de uma cooperativa se a compararmos com uma sociedade empresária, cuja principal finalidade é o lucro. Já a cooperativa tem como principal finalidade a prestação de serviço. Normalmente, a cooperativa é uma extensão da atividade econômica dos seus associados, o que é diferente numa empresa mercantil, onde temos como proprietários acionistas, que nem sempre têm a mesma atividade que a empresa mercantil acaba adotando.
Então, como a cooperativa é uma extensão da atividade econômica dos seus associados, existe uma relação entre a cooperativa e o seu cooperado que é muito diferente da relação entre o acionista e sociedade empresária. O que um acionista espera da sua sociedade empresária? Lucro. O que um associado espera de sua cooperativa? Prestação de serviço.
Claro que essa prestação de serviço deve gerar receitas, mas é uma diferença fundamental, porque a relação é diferente. Eu, como associado, vou entregar o fruto do meu trabalho a uma instituição que eu confio. Por isso, essas relações de governança são extremamente importantes para que a gente tenha esses resultados positivos.
Até que ponto essas boas práticas de governança podem contribuir para o fortalecimento das cooperativas brasileiras?
Leonardo Boesche – Na verdade, a governança cooperativa nasceu com as próprias cooperativas. Elas têm um modelo próprio de governança que é muito mais antigo do que o das sociedades empresárias. Então, o que as cooperativas precisam fazer é intensificar esse modelo, considerando que ela somente terá êxito se tiver um crescimento que esteja em harmonia com o desenvolvimento do seu associado. Isso é fundamental. Caso contrário, ela passa a ser mais uma empresa de mercado, perdendo a sua grande característica que é essa da propriedade junto ao seu Quadro Social.
E nesse momento vivido pelo Brasil, de instabilidade tanto política quanto econômica, uma boa gestão pode ser capaz de minimizar os impactos? Como e por quê?
Leonardo Boesche – Tem uma frase que diz “sozinho eu vou mais ligeiro, porém, acompanhado, vou mais longe”. Acho que ela resume todo esse aspecto da governança, seja em momento de instabilidade econômica ou política que um país pode vivenciar. Se nós tivermos a governança centralizada apenas nas decisões de uma única pessoa, essa empresa sem dúvida nenhuma tem uma agilidade muito grande, mas os riscos dessa pessoa acertar – ela pode acertar 10 vezes, mas errou uma, esse erro pode levar a sociedade à insolvência.
No momento em que você tem esse comando, um modelo de governança que privilegia o grupo, que privilegia várias pessoas fazendo parte dessa decisão, é mais moroso, porém a assertividade é maior. Ocorre a distribuição de responsabilidades, o que, para uma sociedade cooperativa, é extremamente importante. Normalmente, a cooperativa tem a Organização do Quadro Social efetivada em comissões, comitês, núcleos, onde ela consegue, junto com seus associados, ter um caminho mais assertivo com relação ao desenvolvimento da cooperativa.
Então, a governança, bem praticada, é útil para uma organização corporativa tanto quanto para uma organização cooperativa. E as cooperativas devem intensificar, cada vez mais, esse modelo de governança – que é próprio do sistema cooperativo – no sentido de buscar a participação equânime de todos seus associados.