ENTREVISTA DA SEMANA_ MARCELO CARDOSO
BNDES vê cooperativas como segmento relevante e estratégico para o país
Brasília (19/8) - As cooperativas de crédito são parceiros importantes que têm assumido especial relevância nos últimos anos, já que colaboram expressivamente no aquecimento e orquestração do setor como um todo. A frase é do superintendente de Agropecuária e Inclusão Social do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Marcelo Porteiro Cardoso, entrevistado da 18ª edição da Revista Saber Cooperar.
Ele fala sobre a parceria entre o Sistema OCB e o Banco, já consolidada como confiável e tradicional, e que ganha um novo impulso com o recente acordo de cooperação firmado entre a entidade e a instituição financeira. Marcelo Cardoso, expõe a importância estratégica do estreitamento da relação institucional com o cooperativismo, setor que considera vital devido a seu alcance social e empregabilidade, com condições sustentáveis de competitividade e inserção no mercado.
Por fim, ele aproveita para sublinhar a admiração pela força organizacional da OCB, além de demarcar sua expectativa associada ao instrumento de cooperação como instância fundamental para agregar clareza, efetividade e transparência tanto para os cooperados quanto para os gestores.
A estratégica parceria entre o movimento cooperativista e o BNDES certamente vem impulsionando o desenvolvimento do setor agropecuário, um extenso e expressivo ramo da economia nacional. Em termos gerais, como o banco analisa a atuação das cooperativas?
Marcelo Cardoso - Sem dúvida, a agropecuária é um setor de vital importância na economia brasileira, ocupando uma parcela considerável do Produto Interno Bruto nacional. Uma grande competitividade acumulada ao longo dos anos, somada a uma boa base científica e a um salto de produtividade, tem permitido que o Brasil, de maneira sólida, venha desenvolvendo outros setores, a exemplo de máquinas e equipamentos agrícolas diversificados. Nesse cenário-base, o BNDES enxerga as cooperativas como um segmento absolutamente relevante e estratégico, uma forma de organização que ajuda a distribuir riqueza, promover desenvolvimento regional, assumindo, assim, um valor especial e merecendo ainda um tratamento diferenciado.
Ainda em relação ao setor cooperativista, percebemos também, nos últimos 20 anos, uma evolução significativa em termos de gestão e governança, um dado que o banco certamente considera e trata com especial interesse, pois, apesar da vertente social, que é um diferenciador e tanto, trata-se de um negócio e, por conta dessa natureza, tem de ser bem gerido, sustentável e com valor para o mercado. O banco vem historicamente construindo uma série de programas e de linhas de apoio, seja a partir dos seus próprios mecanismos, seja em parceria com o governo federal.
Quais as principais linhas de financiamento público para investimento, custeio e capital de giro das cooperativas agropecuárias que atualmente são disponibilizadas pelo BNDES?
Marcelo Cardoso - O foco principal do banco, ao longo dos últimos anos, está no financiamento do crédito em investimento fixo. Dentro dessa lógica, há importantes programas e parcerias – tanto na modalidade direta quanto na indireta – que vêm atendendo ao setor.
O carro-chefe é o Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária (Prodecoop), voltado à potencialização da competitividade do complexo agroindustrial das cooperativas por meio da modernização dos sistemas produtivos e de comercialização, o que inclui inúmeros e variados projetos, beneficiamentos e aquisições necessários à industrialização do segmento.
A uma taxa de 6,5 % ao ano, valor a ser pago em um prazo máximo de 12 anos, incluída a carência de três anos, o financiamento vai de, no mínimo, R$ 20 milhões até o limite que varia de R$ 100 a R$ 200 milhões por cooperativa, em uma ou mais operações, a depender de algumas condicionalidades, como porte, alcance e destinação de recursos.
Mais recentemente, outra linha é o Programa para Construção e Armazenamento de Armazéns (PCA), que vem beneficiando produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas e cooperativas rurais de produção. A lógica é intensificar investimentos voltados à armazenagem, para cobrir déficits importantes nessa área, uma iniciativa bastante demandada no último Plano Safra.
Quanto à forma de atuação do BNDES no crédito rural, o que pode ser mencionado em termos de operações indiretas, operações diretas e da relação com os agentes financeiros?
Marcelo Cardoso - Em primeiro lugar, ao analisarmos a formação desses programas, vale sublinhar a relação que o banco construiu na formatação de suas linhas de investimento – totalmente linkadas com as políticas públicas do Estado brasileiro, o que fortalece o elo entre o governo e o mercado. Importante frisar, porém, que somos um banco, logo, a afinação dessas políticas tem de ser regida também pelas necessidades de mercado, claro.
Quanto ao modelo operacional, dispomos de uma ampla e diversificada frente de agentes financeiros, presentes em todo o território nacional, tendo a rede bancária como importante parceira, estimulando os bancos a operar com esse segmento. Com foco em investimentos no setor agropecuário, é permanente e crescente, por exemplo, a nossa interlocução e parceria com fóruns representativos, como a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
As cooperativas de crédito são parceiros importantes que têm assumido especial relevância nos últimos anos, já que colaboram expressivamente no aquecimento e orquestração do setor como um todo, configurando um meio significativo de democratizar o acesso ao crédito, especialmente na figura do cooperado.
O senhor poderia informar os desembolsos – diretos e indiretos - para as cooperativas em 2014 e 2015?
Marcelo Cardoso - Somente para as cooperativas, sem mencionar os cooperados, em 2014, aplicamos R$ 6,7 bilhões, sem dúvida uma soma muito expressiva e que vem crescendo nos últimos anos – em termos de investimentos diretos ou indiretos voltados para diversificadas e variadas linhas e programas. As cooperativas de crédito constituem outro foco nosso, no qual o repasse se dá diretamente para o produtor.
Em 2015, acompanhando o mercado, projeções ainda estão em revisão, já que vivemos um ano atípico, de ajuste fiscal. No setor agropecuário, porém, temos boas notícias, já que o câmbio está ajudando, o que acaba por gerar uma compensação, especialmente para as cooperativas associadas à exportação, ainda que haja impacto nos insumos da produção. Até abril, já operamos R$ 1, 8 bilhão.
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