ENTREVISTA DA SEMANA: Scott Taylor
Brasília (9/11/16) – Desde segunda-feira, presidentes de unidades estaduais do Sistema OCB e de quatro confederações estão refletindo sobre liderança e gestão. Para isso, contam com professores especialistas da escola americana Babson College. Um deles, Scott Taylor, afirma que liderança é sinônimo de relacionamento e que sem uma relação saudável, pautada na transparência e na verdade, não há como uma equipe atingir suas metas. Segundo ele, um bom líder possui características que podem, sim, ser desenvolvidas e até potencializadas.
Scott Taylor é professor de comportamento organizacional. O foco principal de sua pesquisa é avaliação e desenvolvimento de líderes. Ele tem estudado os vários métodos utilizados por organizações ao redor do globo para definir métodos e tecnologias capazes de desenvolver lideranças. Além disso, Scott Taylor tem mais de 20 anos de experiência de ensino em diversas partes do mundo, sendo instrutor e facilitador de recursos humanos em cursos de comportamento organizacional para executivos, estudantes de pós-graduação e alunos de graduação.
Na sua opinião o que significa liderança?
SCOTT – Liderança é relacionamento. Não tem nada a ver com posição ou autoridade. A história tem mostrado que muitas pessoas em posições de liderança tiveram uma trajetória desastrosa em suas organizações. Então, para mim, liderança é a essência de uma relação amparada na alta qualidade da conexão entre duas pessoas e como elas se influenciam e geram um tom emocional. Então, dentro deste contexto, temos a permissão um do outro para estabelecermos confiança, verdade e transparência. Esses elementos são essenciais para tomarmos a melhor decisão, inovarmos, sermos criativos e inspirar uns aos outros. É por isso que digo que, qualquer pessoa que se enquadre nessa definição e que se preocupe com o outro pode ser um bom líder.
Você acredita que liderança é a chave do sucesso?
SCOTT – Com certeza, especialmente se você definir sucesso como a habilidade de promover e manter efetividade e de motivar as pessoas para alçar seus objetivos. Para isso, realmente, precisamos influenciar. Isso cria tudo que é necessário para crescer e se desenvolver. E se alguém tem a habilidade para orquestrar todos esses elementos – não importa quem seja – deve fazê-lo. Agora, fazer isso muito bem, é uma obrigação de quem está em uma posição de autoridade. É dessa pessoa a responsabilidade de liderar uma equipe até o atingimento de suas metas. Com certeza liderança é a chave do sucesso.
Porque líderes devem se preocupar com a forma com a qual lideram suas equipes?
SCOTT – A primeira coisa que precisamos é deixar claro que existe uma diferença entre ser líder e ser gerente. Um gerente é treinado para ser responsável por organizar, planejar e pensar em recursos financeiros. Além disso, muitos cargos de gerentes não são estruturados para inspirar, encorajar e motivar. Então, eu acredito que há muitas teorias sobre gerenciar pessoas, direcionando-as previsivelmente para alcançar um objetivo.
Já para ser um líder, a pessoa precisa estar preocupada com as relações. Um líder, é alguém em posição de autoridade e precisa conter tanto o conteúdo de liderança quanto de gerenciamento. Destaco que um líder é a pessoa que cria um propósito na organização. Precisa se preocupar com o crescimento da empresa, sem se esquecer das pessoas, sem as quais, nada é possível. Tudo nessa relação se baseia num nível muito alto de transparência.
Existe diferença entre ser líder no cooperativismo e em outros modelos econômicos?
SCOTT – Sim. Existe uma grande diferença entre a liderança no cooperativismo e a liderança em outros tipos de modelos econômicos. Começa pela legislação que difere também. Por exemplo, em empresas familiares ela precisa ser exercida de uma forma distinta em relação às cooperativas. Como inspirar um familiar e um cooperado? Não dá para usar as mesmas técnicas, pois a natureza das relações é diferente. Então, sim, há uma grande diferença entre ser líder nesses dois modelos.
Como o senhor descreveria um bom líder?
SCOTT – Independente do contexto do negócio, um bom líder precisa ter habilidade de se conectar com o outro. Primeiramente ele precisa saber claramente quem ele é. Precisa dominar o conhecimento sobre suas características mais marcantes – forças, fraquezas e valores – e, sobretudo sobre o seu propósito na organização.
Em segundo lugar, destaco a necessidade de o líder estar focado na construção de uma relação de qualidade com sua equipe, baseada na transparência, na verdade, na inspiração e no entendimento dos valores e propósitos, nos sonhos e nas esperanças de cada pessoa da equipe. Conhecendo cada um, o líder terá a chance de usar essas informações para estar atento às necessidades e oportunidades que podem afetar tanto a vida do funcionário quanto a organização, promovendo ganhos tanto para um quanto para o outro. Então, um líder precisa ter muito claro para si mesmo quem ele é, quais são suas responsabilidades perante a equipe e quais os resultados a organização espera do time todo.
Para finalizar, o senhor acredita que alguém já nasce líder ou pode ser tornar uma liderança?
SCOTT – Esse é um tópico bastante discutido. Gosto sempre de dizer que um líder pode ser formado. É evidente que nascem pessoas com mais capacidade de liderança, mas esse conjunto de habilidades pode ser adquirido, exercitado, treinado mesmo. Ser uma grande liderança não está atrelado a estudar em grandes universidades, por exemplo. Temos inúmeros exemplos disso. Uma criança pode ser uma grande liderança, por exemplo. Um bom líder precisa inspirar, ser um bom ouvinte, um bom comunicador e todos esses comportamentos podem ser desenvolvidos.