ENTREVISTA DA SEMANA_Vilmar Sebold

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Projeto Olho D’água da Cocari recupera mais de 500 nascentes no Paraná

Brasília (27/5) – Mais de 500 nascentes já foram recuperadas no interior paranaense graças ao projeto Olho D’água, realizado pela Cooperativa Agropecuária Industrial (Cocari), em parceria com a Nortox, empresa paranaense com solidado reconhecimento na área do desenvolvimento de soluções voltadas ao agronegócio. A iniciativa foi uma das vencedoras do Prêmio Cooperativa do Ano, em 2014, sendo a primeira colocada na categoria Desenvolvimento Sustentável. O presidente da cooperativa, Vilmar Sebold, afirma que quando a nascente passa pelo processo de recuperação, os benefícios para o meio ambiente e, também, para a comunidade são inúmeros. Confira.

Como o projeto surgiu?

Vilmar Sebold
– A Cocari foi procurada pela Nortox com um desafio de implantar um novo projeto. Este desafio, de imediato, foi aceito pela Diretoria da Cocari que há tempos estava preocupada com a qualidade da água consumida pelas famílias dos produtores rurais na área de ação da cooperativa. Foi lançado em 24 de novembro de 2009 – Dia do Rio, tendo as três primeiras minas restauradas no sítio São João, dos irmãos Henrique e Nelson Peloso, em Mandaguari.
 
A iniciativa foi inspirada em ação semelhante realizada na região de Cascavel, pela Coopavel. A Cocari contratou um colaborador, que passou por treinamento, para a restauração das nascentes. No Paraná, além da parceria com a Nortox, a iniciativa recebe apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA), do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e do Instituto Emater. Em Goiás, Cocari e Nortox contam com apoio da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Goiás (SEMARH-GO).

Qual a importância de celebrar a marca de 500 nascentes recuperadas?

Vilmar Sebold
– A conquista da importante marca de 500 minas restauradas veio na semana em que foi comemorado o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, deste ano. A nascente de número 500 foi restaurada na propriedade de Sonia Regina Durão Gouveia e Valterlei Alves Gouveia, em Cruzmaltina (PR), no dia 25 de março. Atualmente já restauramos 514 minas.

Essa marca alcançada traz reconhecimento principalmente diante da época vivida pelos grandes centros urbanos, que vêm sofrendo com a falta de água devido à ausência de preservação das matas ciliares das nascentes, responsáveis por alimentar as reservas de consumo. E, além disso, a grande adesão ao projeto demonstra a conscientização dos produtores e seus familiares quanto à necessidade da preservação do meio ambiente.

Como o projeto beneficia, também, o meio ambiente?

Vilmar Sebold
– Antes de restauradas, as nascentes têm baixa vazão e não apresentam condições necessárias de higiene, podendo trazer até mesmo problemas de saúde pelo consumo de água contaminada. A iniciativa contribui para a preservação de rios e mananciais, garantindo água limpa para consumo e uso nas atividades agrícolas.

Quais os desafios para o projeto?

Vilmar Sebold
– Os cooperados temiam contrariar o programa Força Verde, criado em 2003 pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e pelo Batalhão da Polícia Florestal do Paraná, para intensificar o patrulhamento do Meio Ambiente e Unidades de Conservação do estado, determinando que as áreas de preservação permanente não podiam ser tocadas.

No início, as principais dúvidas dos cooperados em aderir ao Projeto Olho D’Água se davam porque a proposta, de certa forma, contrariava essas determinações quando orientava a restauração das minas. Isso realmente causou insegurança, pois os produtores tinham medo de ser multados e até mesmo presos.

Outro temor era de que a restauração diminuísse a água ou mesmo que a nascente secasse, ou, ainda, que a água deixasse de ser potável. Os produtores não sabiam como o trabalho era feito. Na medida em que foram tomando consciência de que a proposta do Projeto Olho D’Água era proteger a água, de forma que não receba interferências externas na sua qualidade, o convencimento se tornou mais fácil e, gradativamente, foi crescendo o número de interessados.

O que precisa ser feito para um interessado aderir ao projeto?

Vilmar Sebold
– Para organizar a adesão dos cooperados ao Projeto Olho D’Água, a Cocari criou um cadastro de nascentes, que pode ser feito junto à unidade da Cocari em que o produtor é associado. A partir desse cadastro, um calendário que respeita a ordem cronológica das inscrições é registrado e a execução dos trabalhos é realizada. Com bastante procura por parte dos produtores, o cadastro de espera, conta com aproximadamente 200 minas e representa a conscientização dos cooperados quanto à importância desta ação.

Como se dá a recuperação da nascente?

Vilmar Sebold
– O processo não é complicado:

•    O técnico, treinado, visita a propriedade e analisa as características da mina, pois cada uma tem suas especificidades;
•    Com base nisso, estabelece aquilo que é necessário para fazer a restauração e o produtor rural disponibiliza uma pessoa, ou ele próprio, para auxiliar no processo;
•    O trabalho inicial consiste em fazer uma limpeza em volta da mina;
•    É criado um reservatório, onde é feita uma barragem. Essa mina é acuada com a terra da própria propriedade. A barragem é feita para segurar essa água;
•    Na parte inferior dessa barragem, fica um cano mais grosso, utilizado para fazer a limpeza da mina no futuro;
•    Continua-se levantando essa barragem para segurar a água. Um pouco mais acima é posto outro cano, que vai coletar água potável, sendo utilizada para consumo do produtor rural;
•    A barragem continua sendo levantada. E, por fim, é posto mais um cano, que será utilizado como “ladrão”, desviando o restante da água da mina para o leito normal do rio;
•     O espaço formado com a barragem é preenchido com pedras, e sobre estas é colocada cobertura com solo cimento (terra da do local da mina com cimento);
•    Em cima, ainda é colocado um suspiro para que a água receba semestralmente o tratamento com produtos indicados pelo técnico;
•    Na limpeza, o produtor rural abre o cano utilizado para essa finalidade (o maior), esgota a sujeira existente no fundo da nascente, fazendo com que a água fique limpa por pelo menos mais seis meses.

Há algum estudo que mostre a eficiência no aumento da vazão nas minas recuperadas?

Vilmar Sebold
– A medição é feita por um técnico em restauração de nascentes, com testes para aferir a vazão de água por minuto antes e depois do trabalho na nascente. Por exemplo, a vazão encontrada na nascente de número 500, saltou de 1.400 litros por hora para 3.600 litros por hora. Segundo o técnico, a vazão é suficiente para manter cerca de dez famílias.


- Números da cooperativa

Cocari – Cooperativa Agropecuária e Industrial
Fundada em: 7 de fevereiro de 1962
Atua em 24 municípios no Paraná, Goiás e Minas Gerais
Cooperados: mais de 6.800, na maioria pequenos produtores
Colaboradores: mais de 1.250
Faturamento Bruto anual: R$ 1,228 milhões

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