ENTREVISTA: Vergílio Perius, presidente do Sistema Ocergs
Graduado em Direito, Filosofia e Pedagogia, o presidente da Ocergs Vergilio Perius, é um intelectual. Pós-graduado em Cooperativismo pela Unisinos e pela Universidade de Münster (Alemanha), atuou foi professor em diversas universidades e escreveu nove publicações sobre o cooperativismo. Representante da região Sul no Conselho Nacional do Sescoop, Perius esteve hoje, em Brasília, para a reunião ordinária do órgão. Entre uma pauta e outra, ele falou com exclusividade ao Informativo sobre o futuro do cooperativismo e sobre os desafios à consolidação de uma visão 100% sistêmica. Confira!
Visão sistêmica
Nó Fórum de presidentes e superintendentes, realizado pelo Sistema OCB há algumas semanas, a necessidade da visão sistêmica ficou bem marcada. Acho fundamental termos um sistema e a OCB está construindo isso. Não é fácil. O País é completamente diferente em suas regiões, nas suas culturas, nas suas etnias, no conhecimento e na prática cooperativista. Enquanto, no Sul, estamos discutindo como a agroindústria pode crescer mais, no Norte e Nordeste, discute-se como organizar o produtor em cooperativas.
Marketing
O Sistema Raiffeisen, alemão, representa o cooperativismo europeu. É como se fosse a nossa OCB, aqui no Brasil. E não há um sócio, um colaborador sequer, que não saiba o que é o sistema Raiffeisen. O Sistema OCB ainda não conseguiu chegar lá. O marketing nos ajudaria. Seria necessário investir mais recursos nessa área para que o Sistema OCB possa divulgar o cooperativismo em todo o Brasil, falando a mesma linguagem dos brasileiros de todos os estados, mostrando as riquezas do cooperativismo – não do Sistema OCB em si –, mas as experiências exitosas. Isto vai criar uma marca, um conceito.
Congressos
O segundo ponto necessário ao fortalecimento da visão sistêmica é lançar grandes congressos para os 13 ramos. O Sicredi, por exemplo, faz isso todos os anos. O Sistema OCB teria que negociar essa proposta, eminentemente, com as forças do cooperativismo. Também seria preciso fazer um congresso nacional de agronegócio, só para discutir as questões agrícolas, de crédito voltado para o setor e à capitalização dessas cooperativas. Distribuição, logísticas, armazenagem, os entraves que nos amarram; o papel do estado em relação aos incentivos à agricultura. Esses são temas que carecem um debate nacional.
Formação
O terceiro aspecto que eu acho fundamental ao fortalecimento da visão sistêmica é reforçar – e muito – o modelo da profissionalização e da educação cooperativista. Nós precisamos muito de ensino. No Rio Grande do Sul, por exemplo, nós temos uma escola. Terceirizamos, também, cursos cooperativistas. Seria interessante termos quatro ou cinco faculdades de cooperativismo espalhadas pelo Brasil. Isto daria uma marca de gestão. Teríamos profissionais saídos de faculdades cooperativistas. Todos os anos nós soltamos no mercado 35 gestores. Eles carregam a marca do Sistema. Por onde eles forem, saberão que passaram por uma escola cooperativada. Eles levam a marca da gestão cooperativista.
Futuro
Eu só imagino o melhor para o Sescoop. Sabe o porque? Porque nós resolvemos o problema da formação profissional. Principalmente o Sescoop, um dos últimos membros dos “S”. Ele foi criado especificamente para, em primeiro lugar, formar e capacitar pessoas em gestão cooperativa. Ele tem esta função e está exercendo isso em todo o País. O Sescoop, com absoluta certeza, veio pra ficar. E deve ficar mesmo porque ele faz o diferencial no ensino. Para o ensino cooperativo é necessário algo diferenciado. Nós não temos na cooperativa o cliente ao qual você vende ou de quem você compra algum produto. Na cooperativa, todos são sócios, que são donos do empreendimento. E esse sócio é usuário e beneficiário da cooperativa. E isso totalmente diferente do conceito de cliente. Cliente eu posso atender bem, hoje. Amanhã, eu atendo mal e ele não volta. Na cooperativa isso não dá, porque o dono vai reclamar, e vai chiar na assembleia.
Cooperativismo
A cooperativa é, essencialmente, uma organização vinculada às famílias. Fundamentalmente, o enraizamento das cooperativas se dá na comunidade. O que não acontece com o comérciotradicional, que está onde tem riqueza. Quando a riqueza acaba, ele vai embora, levando a riqueza consigo. Agora, as cooperativas – quando há sobras ou resultados – tudo é distribuído na comunidade. Não há evasão de recursos, nem para os grandes centros brasileiros, nem fora do Brasil, e muito menos para as multinacionais. Tudo fica na comunidade. Além disso, os gestores precisam ser da comunidade e nós precisamos qualificar esse gestor.