Jovens discutem liderança e sucessão familiar no setor lácteo

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Encontro Pan-Americano também debate economia global do setor, competitividade e oportunidades de negócios

 
Brasília (16/9) – O cenário econômico latino-americano da produção de leite, bem como os benefícios de se consumir produtos lácteos e de se permanecer na propriedade rural foram tratados hoje de manhã durante o 2º Encontro Pan-Americano de Jovens Produtores de Leite. O evento realizado pela Federação Pan-Americana de Produtores de Leite (Fepale), pelo Sistema OCB e pela Embrapa Gado de Leite, ocorre na cidade de Juiz de Fora (MG) e termina amanhã.
 
O presidente da Fepale, Bernardo Macaya, falou sobre o futuro do mercado internacional de lácteos, explicando que a produção mundial tem crescido à medida em que o consumo aumenta. Ele destacou que, de modo especial, os países da América Latina tem um importante papel a desempenhar no cenário mundial, considerando a crescente demanda por alimentos.
 
“Considerando aspectos como disponibilidade de terras, de água e infraestrutura temos tudo para despontar no mercado global. Somos ricos nestes indicadores e eles fazem de nós uma grande potência. Agora, precisamos fazer o nosso dever de casa e melhorar questões como qualidade do leite e custos da produção. O setor lácteo não pode mais trabalhar de forma amadora. É preciso entrar no mercado com muita competitividade”, argumenta Macaya, que é produtor de leite desde que tinha 18 anos.
 
Sobre a participação do jovem na produção leiteira, o presidente da Fepale foi enfático. “O perfil do produtor mudou nos últimos anos. Não é mais aquele mero tirador de leite. Hoje, ele precisa ser empreendedor, cooperativo, atendo às novas tecnologias, precisa entender de marketing, de atendimento ao cliente e de convívio harmônico com parceiros e fornecedores. O jovem faz isso naturalmente e, por isso, precisa assumir sua posição de continuidade da atividade láctea. Só assim a América Latina ocupará seu espaço no mercado consumidor mundial”, analisa.
 
MITO – Sobre as recentes notícias que tornam o consumo de produtos lácteos um grande vilão da saúde humana, o pesquisador do Centro de Investigação em Alimentos e Desenvolvimento do México, Aaron Gonzalez, disse se tratarem de mitos divulgados sem cuidado. O especialista palestrou para os mais de 200 jovens, oriundos de sete países e 10 estados brasileiros, sobre as evidências científicas que sustentam os benefícios do consumo de leite e seus derivados.
 
Ele explicou que, até os dias de hoje, não há nada que prove a correlação entre o consumo de produtos lácteos e doenças como cânceres ou mesmo as gástricas. “Pelo contrário, o que temos percebido é que os cientistas indicam quantidades diferentes de porções de lácteos, com base na composição corporal. Assim, temos lugares onde recomenda-se, pelo menos, duas porções ao dia, ao passo que, em outros, o indicado é consumir no mínimo três tipos diferentes de derivados de leite”, assevera o pesquisador mexicano.
 
Além disso, ele comparou as listas de países com maior incidência de câncer e a relação das nações que mais consomem leite e derivados. O resultado desmente àqueles que dizem que produtos lácteos causam câncer. “O que vimos, como esta simples comparação foi que não há correlação alguma entre uma listagem e outra. Os países com maior número de casos desta doença, nem aparecem na lista dos maiores consumidores. Isso prova que o câncer não provém do consumo de lácteos”, afirma Aaron Gonzalez.
 
SUCESSÃO FAMILIAR – A questão da sucessão familiar na atividade produtiva do setor lácteo é tão relevante na atualidade que mereceu um painel específico, do qual participaram: o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, o pesquisador Fábio Homero Diniz, e o consultor Lucildo Ahlert, especialista no assunto.
 
Paulo Martins discorreu sobre a importância da conscientização do jovem sobre o papel de produtor, no âmbito da continuidade da atividade. “Vocês são líderes em suas comunidades. Portanto, caberá a vocês liderar o segmento produtivo num futuro muito próximo. A América Latina necessita da agricultura como fator de geração de emprego e renda. No Brasil, isso é mais evidente ainda. Todavia, os estímulos são muito maiores para o jovem buscar outros caminhos no setor urbano-industrial. As políticas públicas não agem no sentido de trazer ao jovem produtor expectativas favoráveis. Ao contrário, atuam como indutores de sua migração para as cidades”, contextualiza.
 
Fábio Diniz, por sua vez, fez questão de frisar que o processo de sucessão não é fácil e envolve diversos fatores, dentre eles, o planejamento familiar para a questão. “O jovem busca na cidade itens como: salário fixo, folgas, qualificação profissional, novas tecnologias e lazer, o que ainda não é uma realidade na zona rural. Por isso, o pai deve ouvir do filho, quais são suas intenções em relação ao futuro, assim como o jovem precisa compreender que seu genitor será sempre um consultor no negócio familiar”, explicou o pesquisador ressaltando que o processo de sucessão deve ocorrer aos poucos, tão logo o jovem comece a demonstrar interesse e aptidões.
 
Para o especialista Lucildo Ahlert, após a definição do sucessor, é importante tomar alguns cuidados administrativos. “Quem for tocar a propriedade vai precisar de conta em banco e cartões específicos. É fundamental criar um fundo, que pode ser um percentual da arrecadação obtida com a venda da produção, a fim de assegurar o futuro dos outros herdeiros, bem como do próprio sucessor. Há ainda a necessidade de se encontrar mecanismos legais que garantam os direitos civis tanto dos pais, quanto dos filhos, sucessores ou não”, orienta o professor.
 
NA PRÁTICA – O jovem César Augusto Figueiredo vive na prática a questão de suceder seus pais na atividade principal da fazenda onde moram: a produção leiteira. “Já tem um tempinho que estamos neste processo. Meus pais, na medida do possível, vão me passando algumas obrigações e eu vou assumido o que consigo fazer. Nós jovens precisamos quebrar velhos paradigmas dos nossos antecessores. Como lidamos com a internet melhor do que eles, conseguimos com muito mais agilidade os dados que precisamos para tomar as melhores decisões. Eu quero dar continuidade ao negócio dos meus pais e ter um bom futuro assim”, comenta o jovem leiteiro, cuja família é vinculada à Cooperativa Agropecuária de Paraoapeba (MG). 
 
Para ele, estar vinculado à uma cooperativa é fundamental para a sobrevivência do negócio. “Quando falamos em produção de leite, tudo é contabilizado em centavos, então, a cooperativa proporciona mais competitividade, sempre que possibilita a redução de preços e o acesso a novos mercados, sem falar na qualificação da mão-de-obra”, conclui César Augusto.
 
AMANHÃ – Na sequência os participantes tiveram a oportunidade de assistir ao painel “Papel dos jovens na cadeia produtiva do leite e participação em organizações coletivas”, que contou com a participação do coordenador da Câmara Temática do Sistema OCB, Vicente Nogueira, e do representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura no Paraguai, Henan Chiriboga. Logo depois, ouviram alguns depoimentos de jovens produtores.
 
Amanhã, último dia do evento, os jovens assistirão a duas palestras: uma com o pesquisador da Embrapa e coordenador do Projeto Balde Cheio, Artur Chinelato de Camargo, sobre como empreender na produção do leite; e na segunda, o produtor de leite, Nivaldo Michetti, falará sobre o orgulho de ser um produtor de leite.
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