Projeto de educação financeira do Sistema OCB e BC é destaque no Valor

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Brasília (18/6) – O Jornal Valor Econômico apresenta em sua edição de hoje uma reportagem sobre os projetos de Educação Financeira executados pelo Banco Central do Brasil em parceria com diversas entidades. Um destes projetos será realizado com participação do Sistema OCB. O foco são os cooperados brasileiros. A ideia é assegurar que o dinheiro destas pessoas seja utilizado de forma consciente, evitando o endividamento da família brasileira.

Confira a reportagem.


BC leva à rua projetos de educação financeira

Tablets com conteúdo de educação financeira produzido pelo Banco Central começaram a chegar a famílias brasileiras de baixa renda em maio. Moradores de dez comunidades foram treinados para ajudar no uso da tecnologia, escolhida pela possibilidade de trabalhar com a oralidade, mesmo com populações que têm dificuldade com a linguagem escrita. A intenção é chegar a 5 mil famílias no projeto-piloto, inspirado em experiências de outros países da América Latina. O programa fica em campo até o fim do ano, período em que será avaliado. Caso se mostre eficiente, a ideia é que ganhe escala.

Esse é um dos quatro projetos educacionais que começam a sair do forno do BC neste ano, com base em tecnologias desenvolvidas internamente. Faz cinco anos que a autarquia passou a perseguir oficialmente a educação financeira, ao incluir o tema em seu planejamento estratégico. Ainda mais recente é a área dedicada ao assunto. O Departamento de Educação Financeira completa neste mês três anos; foi criado em 2012 sob a também nova diretoria de Relacionamento Institucional e Cidadania.

Um segundo projeto é voltado para a educação financeira do consumidor, por meio dos Procons. O Banco Central prepara um conteúdo virtual e vai fazer turmas presenciais a partir de 2016 a fim de treinar quem recebe as reclamações do consumidor. "Grande parte dos atendimentos é sobre sistema financeiro nacional ou cartão de crédito. E o Procon não tem muitas pessoas especializadas no assunto", diz Elvira Cruvinel, chefe do Departamento de Educação Financeira do Banco Central.

Os cooperados são o foco de um terceiro programa, que entra em campo no segundo semestre. O banco fez uma parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) para formar orientadores em gestão de finanças pessoais. A ideia aqui é aproveitar a capilaridade da organização, que reúne 6 mil cooperativas, em 13 setores diferentes.

O quarto projeto da área novata do Banco Central é voltado para empreendedores. Nesse caso, o parceiro é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O material de educação financeira do banco já foi distribuído para 3 mil escolas de cursos técnicos, mas a ideia é ampliar para o microempreendedor. Ou seja, fazer a orientação chegar ao vendedor de cachorro-quente e à costureira, explica João Evangelista de Sousa Filho, coordenador do Departamento de Educação Financeira.

O caminho do BC tende a ser sempre o de parcerias, já que o novo departamento tem apenas oito pessoas, responsáveis ainda pela secretaria-executiva da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef).

O banco tinha intervenções pontuais de educação financeira desde 2000, como seminários, mas uma abordagem mais institucionalizada, com o desenvolvimento de projetos, veio nos últimos anos na esteira de uma tendência global. "Principalmente depois da crise internacional, o mundo percebeu que educação é um pilar importante para a inclusão financeira ser adequada", diz Elvira. O entendimento, diz, é que esse tipo de instrução alavanca a eficiência do sistema e promove a estabilidade financeira. A orientação do BC é concentrada em poupança e uso responsável do crédito.

Para avaliar a real eficácia dos programas de educação financeira e buscar subsídios, a área de educação financeira trabalha juntamente com o departamento de estudos e pesquisas. Foram feitas no ano passado duas pesquisas domiciliares, o que não era comum na instituição. Uma trata do processo de endividamento e a outra da qualidade da inclusão financeira.

Resultados preliminares indicam, por exemplo, que o excesso de endividamento está ligado ao fato de o brasileiro não querer admitir sua condição. Ele dá preferência a mecanismos de crédito pré-aprovados, como os do cartão e do cheque especial, para não ter que ir negociar com o gerente. "Se fizer isso, ele vai institucionalizar sua condição de devedor. E ele não quer se admitir assim", diz Sousa Filho. O problema é que assim, lembra, o brasileiro fica com a opção que cobra juros de mais de 10% ao mês no lugar da que pode ficar abaixo de 2% ao mês, como o consignado. "Na cabeça ingênua dele, aquilo é uma questão temporária, mas não é. E vai virando uma bola de neve", completa.

Outra linha de pesquisa, ainda também sem resultados finais, é a de medir a educação financeira da população, para permitir comparação com outros países. Essa é uma demanda da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), já que o Brasil faz parte da rede internacional de educação financeira, uma iniciativa da organização.

Também está no forno, para ser divulgada nos próximos dois meses, uma fotografia da inclusão financeira no período que vai de 2010 a 2014.

Além dos projetos especiais, que passam a rodar agora, o Banco Central quer transformar em referência o site Cidadania Financeira. Um exemplo de iniciativa virtual é o curso gratuito de Gestão de Finanças Pessoais, que foi colocado no ar em setembro do ano passado e teve 13 mil alunos. O BC também tem feito vídeos curtos, com personagens, para tratar de questões como crédito consignado, portabilidade de crédito e de salário.

Muitos dos temas em que se concentra a área de educação financeira são inspirados nos contatos dos consumidores com a instituição. O BC recebe cerca de 600 mil demandas por ano, sendo metade delas reclamações.

O alto nível de queixas parece um indicador de que os próprios bancos precisam ser educados. A indução de boas práticas na oferta de crédito também é uma frente da nova área do BC, diz Elvira. Um guia de excelência já foi produzido. É o desenho de um mundo ideal, em que as instituições não usam termos como "dinheiro agora" e "crédito fácil", evitam oferecer produtos na primeira tela de acesso ao caixa eletrônico, exigem mais de um clique para contratação de operações e incentivam a liquidação antecipada.

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