02/12/2009 - Projeto no PR prevê transformar "cama de frango" em fertilizante

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Marli Lima, de Curitiba

Um dos camarins do Teatro Positivo, em Curitiba, foi usado por presidentes de cooperativas e representantes do Ministério da Agricultura na semana passada para tratar de um assunto que tem incomodado produtores de aves. O que fazer com o esterco que está sendo gerado na criação dos animais? A chamada "cama de frango", uma mistura da casca de arroz ou serragem de madeira colocada nos aviários com as fezes, penas e restos de ração, tem sido usada em pastos e lavouras de grãos sem antes passar por tratamento adequado. A intenção, agora, é usar os dejetos como matéria-prima para a fabricação de fertilizantes organo-minerais que, segundo envolvidos na discussão, podem ficar melhores e mais baratos que os encontrados no mercado.

Com a discussão sobre a "cama de frango", o setor busca se antecipar a uma eventual exigência de importadores relacionada a questões ambientais. Só no oeste do Paraná, onde há cinco cooperativas que atuam na produção de frango e empresas como Sadia e Globoaves, são geradas cerca de 600 mil toneladas por ano de esterco de "cama de frango".

A Conagro, criada no ano passado como consórcio para buscar redução de preço de insumos, foi transformada em outubro em uma cooperativa central com 21 associadas e está encabeçando o processo que pode resultar na construção de uma fábrica com capacidade instalada para 500 mil toneladas de adubo por ano. Os aportes estão estimados em R$ 50 milhões, mas um grupo de trabalho foi criado para estudar custos, mercado e investidores. O resultado do levantamento é esperado para o primeiro trimestre de 2010.

"Onde há concentração de esterco, a intenção é criar fábricas comuns", explicou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que esteve na reunião. Ele veio ao Paraná para participar de evento da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), na quinta-feira. "Resolve-se problemas ambientais e cria-se uma atividade lucrativa". Segundo Stephanes, por enquanto trata-se de divisão de ideias. O ministro comprometeu-se a apoiar as iniciativas que surgirem no Paraná e em outros Estados produtores de aves e acrescentou que as fábricas deverão contar com financiamento do BNDES.

No início de novembro, a Copercampos, de Campos Novos (SC), inaugurou sua indústria de fertilizantes, que teve investimentos de R$ 5 milhões. O diretor-executivo, Laerte Thibes Júnior, disse que o tema foi estudado durante oito anos e a intenção inicial era aproveitar esterco de suínos, o que ainda não foi possível. A cooperativa compra esterco de aves e planeja fazer mil toneladas de adubo por mês, ou um terço do que é consumido pelos associados. "Fica 15% mais barato", disse Thibes Júnior, ao compartilhar a experiência com colegas do Paraná.

O diretor-executivo da Conagro, Daniel Dias, explicou que a cama de frango costuma ficar um ano nos aviários e recebe oito gerações de pintinhos. Depois desse período, o esterco está rico em matéria orgânica e sais minerais. No processo industrial, ele vai passar por fermentação e adição de componentes antes de ser usado na agricultura. "Na busca de alternativas para baratear o custo de fertilizantes, queremos incluir as cooperativas nesse projeto", disse.

Ele lembrou que o esterco chegou a ser usado como alimento para gado, antes de ser proibido. Há o temor de que o uso no solo sem passar por tratamento também seja vetado no futuro.

Dias comentou que, uma vez aprovado o projeto, os produtores de aves poderão fazer troca com a indústria, com a entrega da cama de frango e o recebimento de adubo.

O tamanho da produção vai depender dos estudos em andamento, mas o que se sabe é que não será usada toda a quantidade de esterco disponível. Inicialmente, fala-se em 25%, porque o volume total resultaria em 2 milhões de toneladas de adubo, o dobro do volume consumido pelas associadas da Conagro.

Com os 25% de esterco da região oeste do Paraná poderão ser feitas as 500 mil toneladas de adubo. "Será um grande avanço e um importante passo do ponto de vista ambiental", afirma o diretor. Por enquanto, o projeto prevê a construção de uma fábrica, mas existe a possibilidade de que os custos logísticos exijam a necessidade de fazer unidades menores e mais próximas dos aviários.

Veículo: Valor Econômico
Publicado em: 02/12/2009

 

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