08/03/2010 - Produtividade sustenta a força do campo

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Fernando Lopes, de São Paulo
 
Não será por falta de produtividade que o agronegócio brasileiro perderá força nos próximos anos. Para praticamente todas as cadeias mais importantes do setor, as projeções de longo prazo indicam ganhos progressivos de eficiência, suficientes para garantir o abastecimento doméstico e defender a posição de destaque do país no mercado internacional. O problema é que velhos riscos e gargalos, como câmbio e deficiências logísticas, mostram que nem só de produtividade vive o campo, e que para as profecias positivas se realizarem é preciso combatê-los.

Extenso trabalho publicado na semana passada pelo Ministério da Agricultura aponta que, entre as principais culturas agrícolas do país, apenas a cana deverá apresentar queda de produtividade na próxima década, em parte graças à expansão do plantio em regiões com condições naturais menos propícias A retração, estimada em 1,76% ao ano, será compensada por um aumento de área (4,09% ao ano até 2019/20) e, assim, a produção tende a crescer 2,26% ao ano até atingir 893 milhões de toneladas.

E ainda assim há controvérsias. Com novas variedades convencionais e transgênicas em desenvolvimento em época de ampliação das apostas em biocombustíveis como o etanol, a indústria canavieira prevê que seus dois principais produtos, açúcar e álcool, vão, sim, continuar evoluindo. Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), lembra que na década de 70 a produtividade do etanol era de 3 mil litros por hectare, que hoje o rendimento já é de 8 mil litros por hectare e que na próxima década há estudos que apontam 14 mil.

Entre os demais produtos analisados pelo ministério, apenas ganhos de produtividade. O maior salto previsto é para o arroz (4,77% ao ano), seguido por batata inglesa (2,62%), algodão (2,61%), trigo (2,29%), feijão (2,05%), milho (1,92%), laranja (1,48%), soja (0,92%), mandioca (0,58%) e fumo (0,4%). Desta lista, café, laranja, arroz, feijão e batata inglesa deverão perder área plantada, mas todos aparecem com previsões de incremento da produção, proporcionado por técnicas de plantio mais modernas - adensamento, por exemplo - e novas tecnologias.

Confirmadas, as previsões representarão a continuidade de um movimento iniciado há décadas, e isso para os cultivos nacionais mais "recentes". Na década de 70, quando começava a ser introduzida em Mato Grosso, a soja, hoje o carro-chefe do agronegócio nacional, apresentava produtividade média de 30 sacas por hectares no Estado; atualmente, a média já supera 50 sacas, acima da média registrada nos EUA.

Cálculos do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), apontam que entre as safras 2002/03 e 2009/10 o aumento médio da produtividade da soja brasileira foi de 1,22%, mais que o dos EUA (1,13%) e menos que o da Argentina (1,33%). Apesar de perder para o país vizinho neste caso, a produtividade do Brasil é 1,3% maior; na comparação com os americanos, ainda é 3,4% menor. EUA, Brasil e Argentina são, nesta ordem, os maiores produtores e exportadores de soja do mundo.

No caso do milho, o levantamento preparado pelo diretor-geral do Icone, André Meloni Nassar, identifica que a produtividade do milho plantado no Brasil aumentou 3,39% ao ano entre as safras 2002/03 e o que se espera do ciclo atual (2009/10), ante evolução anual média de 1,84% nos EUA e de 3,46% na Argentina. Aqui, contudo, a eficiência brasileira ainda é muito menor que a dos concorrentes, o que ainda deixa as exportações brasileiras dependentes de problemas em outros fornecedores.

"O custo do milho é superior ao da soja, e a soja é uma lavoura que apresenta menos riscos. Assim, o viés de Brasil e Argentina é para a soja, que tem mais liquidez e costuma apresentar maior retorno por hectare. Nos EUA, que é eficiente, a preferência do produtor é pelo milho", afirma Nassar. Questões culturais e familiaridade com a cultura também pesam. Na dúvida, quem pode optar por soja ou milho em Argentina e Brasil plantam soja, enquanto nos EUA, milho.

De acordo com análise do Cepea/Esalq, o custo de produção de soja em uma propriedade típica de Iowa, nos EUA, foi de US$ 366 por hectare na safra 2006/07, ante os US$ 438 de uma fazenda típica do Paraná, US$ 332 em Mato Grosso e entre US$ 150 e US$ 227 na Província argentina de Buenos Aires. O estudo realça que as vantagens operacionais argentinas incluem a baixa utilização de fertilizantes, porque os solos são melhores, e a menor aplicação de defensivos, já que a incidência de doenças ainda é menor.

Quando incluídos o custo da terra, a depreciação de máquinas e outros custos fixos, a soja de Iowa custava US$ 745 por hectare, ante US$ 617 em Buenos Aires e US$ 602 no Paraná. E aqui aparece uma das principais vantagens b"

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