10/05/2010 - Os embaixadores do agronegócio

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Por Guilherme Queiroz

Ao atracar no porto japonês de Yokohama, em janeiro de 2005, um navio carregado de mangas do Vale do São Francisco marcava o fim de uma das mais longas disputas do comércio mundial. A fruta brasileira, que durante 32 anos esbarrou no embargo imposto por uma intransponível barreira sanitária, voltava a aportar no mercado asiático.

Agora, escolado por intermináveis pendengas comerciais, o governo colocará em campo uma arma há tempos reivindicada pelos exportadores do agronegócio. Até 31 de maio, embarcam para oito países espalhados pelo globo os primeiros adidos agrícolas brasileiros, um time montado para defender os interesses da segunda maior potência rural do mundo.

Sua tarefa pode ser dimensionada numa cifra: US$ 65,8 bilhões em bens agropecuários, ou 42% de tudo que o País exportou em 2009. Um valor com potencial para chegar à casa dos US$ 80 bilhões, com a valorização das commodities e a reabertura de antigos mercados, mas que pode ser ainda maior se os novos embaixadores do agronegócio tiverem sucesso.

Os países onde eles atuarão representam mercados ou foros de negociação estratégicos para as exportações brasileiras. Nesta segunda categoria, estão Bélgica e Suíça, respectivamente, sedes da União Europeia e da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os demais têm importância que variam de acordo com o produto em questão. A Rússia é o principal importador da carne brasileira.

Na Ásia, a China importou US$ 6,3 bilhões em soja plantada no Brasil no ano passado, e o Japão é o país que mais depende de importações agrícolas em relação à produção própria.
 
Os Estados Unidos são um forte concorrente no comércio de cereais e palco de disputas comerciais com o Brasil. A África do Sul é um mercado com grande potencial de crescimento.

A Argentina, único país com balança superavitária no comércio agrícola com o Brasil, abriga gigantes como os frigoríficos Bertin e JBS Friboi. “A ideia foi trabalhar com os mercados mais relevantes. Cresce a importância do Brasil no comércio internacional e a participação do agronegócio na balança comercial”, disse à DINHEIRO Célio Porto, secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura e coordenador da equipe de adidos.

O cargo de adido é um antigo e importante apêndice da diplomacia internacional. Nas embaixadas brasileiras, há adidos encarregados de assuntos militares, culturais e de inteligência.

Mas a área comercial ficava a cargo de diplomatas de carreira, nem sempre familiarizados com as motivações de barreiras tarifárias e sanitárias. “Os adidos poderão auxiliar no entendimento correto de questões muito complexas”, avalia o ex-ministro da Agricultura Roberto Pratini de Moraes.

O Brasil é a última das potências agrícolas a enxergar o papel estratégico da função. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, por exemplo, mantém um batalhão de analistas ao redor do mundo. “Os americanos sabem o que se passa no campo, como serão as safras”, observa Otávio Cançado, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne.

Os enviados também terão como tarefa prospectar novas oportunidades para o agronegócio. Eles  foram selecionados entre 195 funcionários de carreira do Ministério da Agricultura ou de órgãos vinculados, como Embrapa e Companhia Nacional de Abastecimento, que se candidataram ao posto. Dentre os escolhidos, Odilson Luiz Ribeiro e Silva vai para Bruxelas; Guilherme Antônio da Costa Júnior, para Genebra; e Gutemberg Barone de Araújo, para Tóquio (veja destaques).

Nos últimos dois meses, o grupo tem se reunido com representantes dos principais exportadores agrícolas. As expectativas são grandes. “Exportamos 600 mil toneladas porque há mercados que ainda estão fechados. É possível triplicar”, diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Se a experiência der certo, Índia, Coreia do Sul, México e Dubai devem receber os próximos adidos brasileiros.

Veículo: Isto É Dinheiro
Publicado em: 10/05/2010

 

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