12/01/2011 - Dependência em derivados leva importação a US$ 15 bi
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Cláudia Schüffner | Do Rio
A importação de combustíveis e outros derivados superou a aquisição de petróleo do exterior no ano passado. O Brasil importou US$ 15 bilhões em derivados e US$ 10 bilhões em óleo bruto, indicando uma nova dependência no suprimento do mercado doméstico.
O aumento da produção interna de petróleo permitiu ao país encerrar o ano com expressivo superávit na balança exclusiva de produto - US$ 6 bilhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mas a necessidade de suprir a demanda interna por gasolina, nafta, diesel, GLP e outros derivados reduziu o impacto desse ganho e fez a balança comercial total do petróleo e derivados encerrar o ano com déficit próximo a US$ 5,8 bilhões. O país gastou US$ 25 bilhões em petróleo e derivados e conseguiu exportar, no mesmo grupo de bens, cerca de US$ 19,2 bilhões, de acordo com a Secex.
O aumento do déficit da balança brasileira de derivados é resultado de uma série de fatores, entre eles um aumento de 10,3% no consumo de óleo diesel, de 21,4% na gasolina A (antes da mistura com álcool) e de 2,2% na nafta até novembro, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) compilados pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Por causa do consumo, a ANP registrava, até novembro, aumento de 160% no volume de importações de óleo diesel. Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, avalia que os dados indicam a necessidade de aumentar a capacidade de refino do país, pois "já temos um quadro de contas externas que é adverso".
Paulo Roberto Costa, diretor da área de Abastecimento da Petrobras, estranha o déficit registrado pela Secex e pela ANP. Segundo ele, em 2010 a Petrobras gastou US$ 8,9 bilhões com a importação de derivados e obteve US$ 5,6 bilhões com as exportações de óleo combustível, bunker (de navios) e gasolina, o que resulta em déficit de apenas US$ 3,3 bilhões. A conta não inclui as importações de gás da Bolívia, a cargo da diretoria de Gás e Energia.
Já no petróleo, a Petrobras contabiliza superávit de US$ 4,8 bilhões em 2010, resultado de importações de US$ 9,1 bilhões de óleo leve e exportações de US$ 13,9 bilhões de óleo pesado. Seu número também é diferente (17,8%) para o crescimento do mercado de gasolina. "Nossas vendas de gasolina aumentaram por causa do álcool. A safra foi menor por conta das chuvas e com o aumento dos preços o consumidor optou pela gasolina", diz o executivo. Os dados do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) projetam consumo de 108 bilhões de litros de combustíveis em 2010 - 9,5% mais que no ano passado e maior que o crescimento do PIB, estimado em até 7,5%.
Conjuntura: Com mais carros nas ruas, consumo de combustíveis aumentou acima do PIB no ano passado
Produção interna de derivados só cresce no fim de 2013
Cláudia Schüffner e Chico Santos | Do Rio
A nova dependência na balança comercial brasileira, decorrente do aumento no consumo de combustíveis e demais derivados de petróleo, ainda vai demorar para ser "consertada". Apenas em 2013 a oferta das refinarias em construção começa a chegar ao mercado nacional.
Enquanto a dependência cresce, as causas da explosão de consumo de gasolina no ano passado não são uma unanimidade. Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras, atribui o aumento à quebra da safra de cana, que reduziu a oferta de etanol no início do ano, enquanto Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, afirma que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) elevou de tal forma o consumo de combustíveis no país que evidenciou a necessidade de mais investimentos em refino.
Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), acrescenta mais hipóteses. Para ele as causas são pontuais, reflexo da política anticrise adotada pelo presidente Lula em 2009 para reduzir os impactos na crise financeira internacional. "2010 foi um ano atípico. Em 2009 o governo brasileiro criou uma série de incentivos para aumentar o consumo e passamos a crise financeira vendendo carros, geladeiras e outros bens de consumo não duráveis. E quem comprou carro foi aos postos, achou o etanol caro e trocou pela gasolina, que acabou sendo insuficiente", diz Pires.
Silveira avalia que o país precisa urgentemente das novas refinarias da Petrobrasjá que a estratégia de importar derivados aumenta o risco das contas externas. Na opinião dele, o déficit na balança de petróleo e derivados aumenta a dependência do país por alguns "poucos setores cujas exportações estão predominantemente vinculadas a dinâmica de crescimento chinês" como a agricultura e siderurgia e continuar nesse ritmo de aumento das importações de derivados seria uma política suicida.
"O PIB cresceu 7,2% (segundo projeção da RC Consultores) e o que a gente percebe por esses n&uacu"