28/03/2011 - O boom das cooperativas de crédito no Brasil

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Marcelo Beledeli

MAURO SCHAEFER/ARQUIVO JC 
 
O fortalecimento da economia nacional ao longo da última década veio acompanhado de uma forte expansão do crédito às empresas e aos consumidores. Embora esse movimento tenha beneficiado, principalmente, os grandes bancos, um dos segmentos que mais aproveitou o bom momento foi o de cooperativas de crédito.
 
Apenas em 2010, o setor, que conta com 1.370 cooperativas em todo o Brasil, atingiu um incremento de 60% em seus ativos em comparação com os resultados de 2009. Isso significou um desempenho recorde de R$ 13,2 bilhões, levando o total dos ativos do segmento a alcançar R$ 66 bilhões.

Com 4,85 milhões de associados, o Brasil conta com 4% da população economicamente ativa (PEA) ligada à uma cooperativa de crédito, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Os depósitos recebidos em 2010 demonstram a elevada confiança que o segmento vem recebendo de seus associados, totalizando uma captação recorde de depósitos. Foram R$ 7,7 bilhões, 130% a mais do que em 2009, que já havia sido o melhor ano da história do setor. Com esse resultado, o segmento acumula R$ 29,9 bilhões de depósitos.

As operações de crédito também apresentaram bom desempenho, porém não acompanharam os mesmos percentuais dos depósitos e ativos. A carteira de empréstimos chegou a R$ 29,8 bilhões em dezembro de 2010, apresentando um crescimento de R$ 4,6 bilhões, o segundo maior da história do segmento, perdendo apenas para o ano de 2008. Isto porque, em razão da crise mundial, as cooperativas de crédito atuaram fortemente na concessão de crédito (quando da retração de mercado de boa parte das instituições financeiras convencionais no pior período da crise), tendo apresentado naquele ano um incremento de R$ 5,9 bilhões.

Já na evolução patrimonial, 2010 registrou o segundo melhor resultado, com R$ 1,8 bilhão. Em 2009 o aumento foi de R$ 2 bilhões. Com esse resultado, o cooperativismo de crédito brasileiro apresentou um total de patrimônio de R$ 13,1 bilhões no ano passado.

Os resultados positivos não se verificaram apenas no balanço financeiro, mas também na expansão do sistema. Em 2010, houve uma acentuada evolução nos postos de atendimento avançados (pequenas filiais com estrutura enxuta) saindo de 2.914 em dezembro do ano anterior para 3.159 doze meses depois, uma média de 20,4 novos pontos por mês. "Isso foi praticamente um ponto de atendimento por dia útil", lembra Silvio Giusti, gerente de Relacionamento em Desenvolvimento do Cooperativismo de Crédito da OCB.

No entanto, a exemplo do sistema financeiro tradicional, esse crescimento também gerou a necessidade de melhorar as condições do segmento para enfrentar a competição com os bancos. Com isso, diversas cooperativas passaram por um processo de fusão.

Em dezembro de 2010, havia 1.370 cooperativas, uma redução de 35 em comparação com o mesmo mês de 2009. "Há um processo de aglutinação e consolidação das bases, principalmente entre aquelas que atuam em áreas geográficas próximas, a fim de se fortalecer de modo a aumentar sua capacidade de escala", explica o gerente da OCB.

Somando cooperativas e postos avançados, o cooperativismo de crédito nacional atingiu a marca de 4.529 pontos de atendimento em 2010. Hoje, se o segmento compartilhasse suas estruturas, seria a segunda maior rede de atendimento do País, atrás apenas do Banco do Brasil (5.087) e na frente do Itaú (3.739).

Segundo Giusti, os bons resultados do setor apontam que os números podem apresentar maiores elevações no futuro. Atualmente, as cooperativas de crédito participam apenas de 2,5% do sistema financeiro nacional, enquanto em países europeus, como França, Holanda e Alemanha, a média gira em torno de 20% a 30%. "Isso mostra que temos um grande potencial a desenvolver, mas é preciso que a sociedade conheça mais as oportunidades do sistema", afirma.

Rio Grande do Sul é o estado onde o sistema é mais forte

Pioneiro no cooperativismo de crédito no País, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que possui a maior parte da população ligada ao segmento. Cerca de 1,2 milhão de gaúchos (17,3% da população economicamente ativa) são associados a uma cooperativa de crédito.

Em relação à cobertura territorial, dos 496 municípios do Estado, 439 possuem pontos de atendimento de cooperativas de crédito (89%). Apenas Santa Catarina (com 88% de seus 293 municípios) tem um índice maior que o Rio Grande do Sul.

A importância do setor deve-se, principalmente, à história da colonização do Estado, onde os pequenos produtores importaram modelos associativistas europeus para resolver as dificuldades de obter financiamentos junto aos bancos tradicionais. "O mundo cooperativo na Europa não nasceu da agricultura, mas do crédito.

As primeiras cooperativa"

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