28/04/2011 - Brasil só elevará exportações de lácteos no longo prazo
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Por Fabíola Gomes
(Reuters) - O setor de lácteos no Brasil tem em mãos um plano que busca ampliar o espaço do país nas exportações mundiais desses produtos, mas especialistas alertam que isso só deverá ocorrer de médio a longo prazo.
A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) preparou o estudo, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que já foi enviado para a Agência Brasil de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), disse à Reuters um representante da organização que reúne as cooperativas do país.
"Elaboramos um planejamento estratégico para determinar mercados prioritários, que já foi enviado para a Apex, e agora esperamos pela avaliação deles", disse Evandro Ninaut, gerente de Mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Segundo ele, se aprovado, este planejamento deve gerar um Programa Setorial Integrado (PSI), que definirá sete a oito mercados prioritários e as dificuldades e oportunidades para os produtos lácteos brasileiros.
"As discussões são iniciais, mas (o plano) não deve ficar restrito a cooperativas e pequenos produtores. Pretendemos ter várias reuniões com empresas até o final do ano", afirma Ninaut.
O MDA deu o passo inicial por conta do peso dos pequenos e médios produtores, que representam cerca de 80 por cento do setor. Já a OCB foi incluída porque as cooperativas também têm atuação expressiva, sendo responsáveis por 40 por cento, ou cerca de 8,4 bilhões de litros produzidos em 2010 (muitos dos pequenos e médios produtores são associados às cooperativas).
Ninaut lembra que antes as cooperativas tinham até 70 por cento do setor, mas a partir de meados dos anos 90 perderam espaço com a entrada de multinacionais.
"Umas quebraram e outras foram incorporadas. Isso fez reduzir o número de cooperativas. E a tendência é que elas se tornem cada vez mais fortes", afirmou Ninaut, referindo-se ao movimento que pode ajudar no ganho de escala e preparar o setor para atuar no mercado externo.
A OCB aposta na África, Oriente Médio e, em menor escala, a Ásia, como mercados potenciais e aponta mais dificuldades para entrar na União Europeia e Estados Unidos.
LONGO PRAZO
Para o diretor executivo da consultoria Bigma, Maurício Palma Nogueira, é uma iniciativa que tende a beneficiar o setor somente no prazo mais longo.
"Quando empresas se reúnem para ter uma estratégia para os próximos anos é sempre interessante para o país", disse Nogueira. "A iniciativa é coerente porque o Brasil tem espaço grande para crescer (no setor de leite)", acrescentou.
O executivo considera que o Brasil é o país que terá mais condições de aumentar o fornecimento para atender a crescente demanda mundial, a partir do aumento da produtividade, já que os demais produtores enfrentariam limitações de área e custos maiores para elevar a oferta.
Contudo, ele ressalva que atualmente a competição é desigual. Nogueira observa que a União Europeia respondeu por cerca de 30 por cento do comércio mundial de lácteos em 2010, mas o setor tem sido beneficado por subsídios.
Em 2010, o déficit na balança comercial de lácteos brasileira --que inclui leite em pó, queijos, leite condensado, iogurte, manteiga e leite-- foi de 174 milhões de dólares, observou Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
O último superávit na balança do setor foi registrado em 2008, quando atingiu 328 milhões de dólares, seguido por dois anos de déficit. Somente no primeiro trimestre deste ano, o setor já apresenta saldo negativo de 111 milhões de dólares.
Atualmente, o Brasil exporta principalmente para os países da América Latina e África, mercados mais instáveis e menos exigentes.
O pesquisador observa que para ganhar espaço no mercado internacional, o Brasil terá de competir com a Nova Zelândia, União Europeia, Argentina e Estados Unidos, países que têm custos de produção menores.
CÂMBIO
Além disso, a questão cambial também dificulta o avanço do setor no curto prazo. "Com a valorização da moeda, fica difícil. Mas no longo prazo, o mercado de lácteos deve crescer, especialmente com a demanda da China", afirma Carvalho.
Para ganhar espaço nos próximos anos, diz o pesquisador da Embrapa, o país precisará elevar a produtividade. A média atual do Brasil é de 1.300 litros por vaca por dia, enquanto a Nova Zelândia produz 4.500 litros por vaca/dia.
Carvalho acrescenta que será preciso cuidar de questões sanitárias e ambientais, para evitar barreiras, e avançar em acordos comerciais para entrar em outros mercados.
Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, entidade que reúne empresas do setor, observou que o país não tem um histórico de grande"