6/5/2009 - BC intervém e segura a queda do dólar
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Fernando Nakagawa
Brasília
Um dia depois de o dólar cair ao menor valor desde novembro de 2008, o Banco Central (BC) surpreendeu analistas de mercado ao voltar a comprar a moeda americana ontem. Em um único leilão, comprou US$ 3,4 bilhões. Essa atuação expressiva revirou o mercado, que operava em queda, mudou de rumo e fechou em alta de 1,03%, a R$ 2,148. O BC não fazia esse tipo de operação desde setembro de 2008, mês do agravamento da crise.
A ação de ontem foi feita com o chamado swap cambial reverso, instrumento financeiro que equivale à compra de dólares no mercado futuro. Esse retorno às compras foi explicado pelo BC como uma decisão provocada por "alterações nas condições de fluxo prevalentes no mercado nas últimas semanas". De fato, indicadores sinalizam a volta dos dólares ao Brasil. Em abril, o comércio exterior, por exemplo, foi responsável pelo ingresso de US$ 3,71 bilhões.
Ao mesmo tempo, mais investidores têm trazido seus recursos para comprar ações e títulos de dívida no País. No mês passado, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou entrada de mais de US$ 1,6 bilhão em aplicações de estrangeiros. O ingresso desses dólares eleva a oferta da moeda no Brasil e derruba as cotações. Esse cenário não lembra em nada a fuga de recursos causada pela crise no fim de 2008.
Além da entrada de dólares, também chama a atenção a forte alteração na posição dos investidores no câmbio futuro. Há alguns dias, prevalecia a estratégia de permanecer "comprado" na moeda, na crença de que a cotação do dólar deve subir.
Nos últimos dias, porém, o quadro tem mudado rapidamente, com prevalência da posição "vendida", o que indica a aposta na queda do preço da moeda estrangeira.
Em meio à reviravolta do mercado, a autoridade monetária reafirmou que a ação não cria um piso para as cotações. "O BC reafirma mais uma vez que não trabalha com piso, teto ou qualquer meta para a taxa de câmbio", informou a assessoria de imprensa. "O regime de câmbio no Brasil é flutuante."
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avalia que a atuação mostra que o BC não está distante do mercado e a instituição está atenta à preocupação dos exportadores. "O BC parece ter se sensibilizado de que o câmbio precisa estar acima de R$ 2, numa faixa de R$ 2,15 a R$ 2,20, para garantir resultado adequado aos exportadores", diz o economista, que não descarta o retorno das compras de dólares no mercado à vista.
"Parece que o BC se surpreendeu com a velocidade de queda do dólar. Com essa ação, ele tenta suavizar o movimento", diz o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto. Porém, ele discorda da criação de um nível para o dólar. "A experiência mostra que é muito difícil impor alguma cotação."
Colaborou Silvana Rocha
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Fabio Graner e Renata Veríssimo
Brasília
A intervenção do Banco Central ontem no mercado de câmbio foi analisada por setores da equipe econômica como um indicativo de que é procedente a tese de que o ritmo menor na queda das taxas de juros pode provocar uma desvalorização mais acentuada do dólar em relação ao real.
Esse avaliação não corresponde à interpretação do Banco Central. Para a diretoria do BC, a valorização do real não pode ser atribuída, apenas, ao nível da taxa de juros, mas principalmente há outros fatores.
Segundo o Banco Central, as razões principais para a maior entrada de dólares no País e a pressão sobre o mercado de câmbio são a menor aversão ao risco no mercado internacional e a alta recente dos preços das commodities exportadas pelo Brasil.
Disputa - As visões divergentes entre integrantes da equipe econômica e do Banco Central sobre a questão foram acentuadas depois da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), no dia 11 de março.
Na ocasião, o Copom decidiu reduzir o ritmo da queda dos juros de 1,5 ponto percentual, cortados na reunião anterior, para 1 ponto percentual.
Integrantes da equipe econômica ficaram insatisfeitos e, nos bastidores, manifestaram preocupação com uma valorização do real que seria provocada pelo grande volume de operações do tipo "carry trade".
Nessas operações, os investidores captam recursos a juros baixos em mercados desenvolvidos e aplicam nos títulos brasileiros, que estão entre os de melhor rentabilidade no mundo.
Esse movimento seria favorecido"