Agricultura, Cooperativismo e os Japoneses
*Américo Utumi
No apagar das luzes das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, a Câmara Municipal e o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo se uniram para fechar com chave de ouro as festividades que marcaram este memorável acontecimento.
Em singelo evento realizado no Salão Nobre da Câmara Municipal, as instituições promotoras celebraram o centenário, em que enfocaram as duas maiores contribuições trazidas por esses bravos imigrantes ao desenvolvimento do nosso país: nas áreas da agricultura e do cooperativismo. Com efeito, esses imigrantes, tão logo cumpriram os termos contratuais de permanência nas fazendas de café, e não tendo concretizado os sonhos de riqueza objetos de sua vinda, não tiveram escolha. Para sobreviver, decidiram permanecer no País, agora como agricultores independentes.
Arrendaram pequenas áreas ou adquiriram terras com as economias feitas do seu trabalho nas fazendas. Espraiando-se, no início, pelo interior de São Paulo, e mais tarde no norte do Paraná e sul de Minas Gerais, esses imigrantes passaram a produzir legumes, frutas, hortaliças e produtos avícolas para o mercado, introduziram novas variedades, melhoraram a qualidade, substituíram importações e alteraram a dieta dos brasileiros.
Exemplos disso são inúmeros, como o pepino japonês, a alface americana, a acelga, o rabanete, entre outros alimentos. Sem contar os típicos produtos japoneses, que já foram incorporados ao gosto dos brasileiros, como o sushi e o sashimi. Podemos citar ainda a introdução das tecnologias que esses imigrantes trouxeram, como a separação dessas aves por sexo, que antes não existia, a fabricação de suco congelado de frutas, entre outras que vieram para contribuir e inovar a culinária no Brasil.
A agropecuária, atividade de maior contribuição nipônica, sujeita às dificuldades próprias dos pequenos lavradores, que, sem escala e sem conhecimento da língua e do mercado, eram presas fáceis de comerciantes inescrupulosos, fez com que eles buscassem instrumentos capazes de colocar seus produtos sem as inconveniências da intermediação. Passaram, então, a formar cooperativas agrícolas, que além de comercializar a produção também buscavam no mercado os insumos necessários à sua atividade agrícola, tais como fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes, máquinas e implementos. Muitas delas mantinham um setor de crédito rural para financiar seus associados.
O sucesso de tais cooperativas foi tamanho que o governo, interessado em fomentar e divulgar este tipo de sociedade, baixou o Decreto 22.239, em 1932, a primeira lei normativa das sociedades cooperativas, cinco anos após a fundação da primeira cooperativa de imigrantes japoneses, em 1927. Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a comunidade japonesa foi a grande introdutora do cooperativismo agrícola no Brasil.
E estas duas vertentes da contribuição da coletividade japonesa no desenvolvimento do nosso país foram representadas, nesta homenagem na Câmara, por dois grandes líderes desses setores no Brasil: Roberto Rodrigues, indiscutivelmente o nosso maior líder cooperativista, e Allysson Paulinelli, um dos expoentes da nossa agricultura, aos quais foram outorgados o Colar do Bicentenário da Chegada da Família Real ao Brasil. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e nove personalidades vinculadas à agronomia e ao cooperativismo foram, também, homenageadas com um Diploma de Mérito pela inestimável assistência prestada à comunidade rurícola japonesa.
Em seus discursos de agradecimento, ambos os homenageados, ex-ministros da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foram unânimes em ressaltar o importante e extraordinário papel da comunidade japonesa no desenvolvimento da agricultura brasileira.
Uma cooperativa agrícola, formada por esses imigrantes japoneses no início da década de setenta, implementou o primeiro projeto de assentamento dirigido no cerrado, na região de São Gotardo, Minas Gerais. Em terras que o mineiro não queria "nem dada nem herdada", os japoneses cooperados, com assessoria técnica de competentes engenheiros agrônomos, mudaram o visual agrícola de uma vasta área, substituindo as árvores retorcidas, matéria-prima de fornos produtores de carvão, única atividade econômica local, por um mar de soja, trigo, milho e café. E hoje, o melhor café do Brasil é o do cerrado. Além disso, a região se tornou a maior produtora de cenouras do País.
Não foi por outra razão que o governo do Japão, informado do sucesso do projeto das cooperativas, manifestou o desejo de investir no cerrado, dando lugar ao PRODECER - Programa de Desenvolvimento do Cerrado - que, contando com expressiva colaboração financeira do governo nipônico, abriu horizontes da agricultura para o enorme potencial do cerrado.
Estes projetos mudaram o perfil econômico e social de imensa parcela do território sul mineiro, criaram riquezas e proporcionaram desenvolvimento.
Vários outros, dos quais as cooperativas fo"