Após estagnação, otimismo volta a contagiar cooperativismo nacional
Após um 2009 marcado pela estagnação derivada da ressaca da crise financeira global, as cooperativas brasileiras estão novamente otimistas. Os grupos, que devem faturar R$ 85 bilhões em 2009, projetam um ano novo de significativa elevação nas vendas do segmento, retomada das exportações, mas um tímido início de recuperação no volume de investimentos, estimado em cerca de R$ 10 bilhões no ano passado.
Em 2010, as vendas desses grupos devem superar de 8% a 10% o faturamento deste ano. "Entraremos o ano em condições melhores, com mercados mais consolidados, sobretudo na Ásia. O mercado interno segue aquecido e o ano político deve movimentar a economia", aposta o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. Neste ano, avalia, o resultado não foi totalmente.
"Tínhamos uma perspectiva muito ruim e sobrevivemos a tudo. Ficamos no lucro". Ele lembra que 2008 começou "com tudo para cima", mas fechou muito ruim. "O leite [em pó] estava a US$ 4,5 mil [a tonelada], as carnes lá em cima e as cooperativas vendiam tudo o que produziam", diz Freitas. A partir de meados do ano, a demanda desapareceu e não havia mais crédito. "A crise piorou tudo".
As vendas externas das cooperativas agropecuárias, puxadas pela forte demanda por açúcar e soja, devem voltar à faixa dos US$ 4 bilhões registrados em 2008. "Os preços lá fora voltaram a subir e começamos a andar. Os mercados já começaram uma estabilização e vamos voltar aos US$ 4 bilhões". Neste ano, as vendas externas estão estimadas em US$ 3,5 bilhões.
Ao contrário dos anos anteriores, quando muitas sociedades adotaram estratégias agressivas de investimentos, as cooperativas devem concentrar esforços em projetos de "intercooperação" e na ampliação do uso da capacidade ociosa do complexo agroindustrial cooperativo.
"A queimada que deu em 2008 fez o pessoal dar uma brecada muito forte. Muitos fizeram até loucura de tirar do caixa para investir", relembra Freitas. "Fizemos R$ 10 bilhões de investimentos no ano passado, mas não temos grandes previsões para 2010. Antes, tem que consolidar a recuperação econômica lá fora e usar toda a capacidade ociosa industrial".
O momento de retomada aponta para uma tendência de ampliação e intensificação do processo de "intercooperação", principalmente na área agroindustrial. "Vamos aprofundar as parcerias entre cooperativas, o que pode facilitar, inclusive, projetos de fusões a longo prazo", afirma o presidente da OCB, que destaca que a mineira Itambé e as cooperativas centrais Cemil (MG), Confepar (PR), Centroleite (GO) e Minas Leite (MG) negociam uma aglutinação das operações (ver texto acima).
Mesmo mais otimistas com 2010, os dirigentes cooperativistas reclamam uma ação mais efetiva do governo para resolver alguns problemas importantes. Um exemplo: a linha de R$ 2 bilhões do "Procap Agro" ainda não saiu do papel. "Não saiu nenhuma operação porque os bancos demoraram a criar confiança, porque entendiam que havia mais riscos envolvidos", diz ele. "Mas as cooperativas aprenderam a não confiar na burocracia. A decisão acontece, mas a efetivação não vem".
A reforma do Código Florestal, em vigor desde 1965, também é listada como essencial. "É emergencial. Se não votar definitivamente, ficamos na insegurança. Não se sabe se vamos ter obrigação de recompor a reserva legal nem para que lado a conversa corre", diz, em referência aos acalorados debates no Congresso sobre alterações nas leis ambientais do país.
Igualmente importante é, segundo Freitas, a consolidação do seguro rural no país, especialmente para a região Sul. "Parece que o setor ainda não entendeu a dimensão do seguro para a atividade". O orçamento para o seguro será R$ R$ 238,7 milhões, mas a demanda já ultrapassaria R$ 600 milhões para o próximo ano. O registro de novos produtos agrotóxicos também figura no topo da lista. A Anvisa avalia banir produtos, mas os agricultores temem a falta de similares e a elevação dos custos. (Valor Econômico - 22/12)