Apagão na reciclagem agrava efeitos da pandemia
Brasília (22/5/20) – A pandemia do coronavírus está causando uma série de impactos negativos em diversos setores da economia, como o de limpeza urbana. Num artigo publicado nesta quarta-feira (20), o deputado federal Arnaldo Jardim (SP), integrante da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), e o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio, Cátilo Cândico, trataram do assunto, já que impacta as cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
Segundo dados da Análise Econômica do Sistema OCB, em 2017 havia 1.153 associações e cooperativas de reciclagem no país. Juntas elas congregavam 28.880 catadores de resíduos sólidos. Já o Censo de 2010 indicava que no país havia cerca 400 mil catadores. O Sistema OCB congrega 97 dessas cooperativas. Os catadores foram profundamente afetados pela Covid-19, pois suas atividades foram interrompidas em função das medidas governamentais.
De acordo com o documento, muitos municípios suspenderam a coleta seletiva e o repasse dos valores de convênio ou contrato às cooperativas. Em 2018, dos 1.322 municípios brasileiros que realizavam a coleta seletiva, 52,87% contratavam associações ou cooperativas (SNIS, 2019). Como consequência, os problemas financeiros - que já eram sentidos em função do fechamento de fábricas recicladoras e grandes geradores, foram potencializados. Os resíduos passaram a ser recolhidos diretamente nas residências, o que aumenta o risco de contaminação.
Além disso, os materiais são diversos, misturados e de baixo valor. Houve queda de 50% nos valores pagos pelos resíduos segundo a coordenadora do MNCR - Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis. Os catadores frente à pandemia da Covid-19 ficaram ainda mais vulnerabilizados nesse contexto, contudo o Sistema OCB atuou para incluí-los como público beneficiário da renda emergencial.
ARTIGO
Confira abaixo a opinião do deputado Arnaldo Jardim e do presidente Abralatas sobre a situação desse setor.
Apagão na reciclagem agrava efeitos da pandemia
O lixo é um dos grandes desafios da humanidade. Desde a declaração da pandemia do novo coronavírus pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tornou-se um sério problema. Diante da possibilidade de transmissão do vírus por meio dos resíduos sólidos descartados por quem está em isolamento domiciliar, por suspeita ou infecção pela covid-19, a necessidade de cuidados aumentou.
O risco de contaminação e a falta de conhecimento de como lidar adequadamente com esses resíduos levaram governadores e prefeitos a suspenderem os serviços de coleta seletiva. Todo o lixo gerado agora vai direto para os aterros ou lixões. Essa medida, porém, trouxe consequências devastadoras para o setor.
A começar pelas cooperativas de catadores, responsáveis, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), pela coleta de 90% de todos os resíduos recicláveis no país. Um exército de mais de 1 milhão de catadores, que trabalha de forma autônoma ou integrada a cooperativas, na seleção de todo o material recolhido na cidade, de onde retiram seu sustento, subitamente, foi obrigado a suspender as atividades.
Em São Paulo, desde o início do isolamento social, a Vigilância Sanitária recomendou que as 25 cooperativas de reciclagem da cidade suspendessem as suas atividades. Essa interrupção, que ocorreu em quase todo o país, trouxe, além da perda de renda das famílias, dificuldades para as cooperativas, que se encontram sem condições de fazer frente às despesas básicas de manutenção como água, energia, transporte, etc.
Se, por um lado, esse tipo de trabalho implica em contato direto com o material coletado, aumentando o risco de contaminação dos profissionais da reciclagem, especialmente os catadores, por outro, a suspensão da coleta seletiva resulta em mais resíduos dispostos em lixões e aterros sanitários. Desde o início do isolamento social, por exemplo, houve, segundo a Abrelpe, um aumento de 15% a 25% na geração de resíduos domiciliares.
As empresas recicladoras também sofrem com a pandemia. A cadeia da reciclagem é alimentada exatamente pelos materiais coletados e selecionados nas cooperativas. Sem matéria-prima, estão paradas. Continue lendo...
Fonte: Poder 360