Aprendizes realizam ação solidária em Belém

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Belém (13/10) – Uma mistura de satisfação e amor fazia correr lágrimas contidas de alguns aprendizes. Enquanto isso, as crianças da creche da Vó Neia sorriam, carregando os brinquedos novos. O local é bem apertado. Um tapete é a única mordomia das crianças que, no chão mesmo, começam a brincar. A casa toda de madeira abriga 31 crianças do loteamento Olga Benário, no bairro de Águas Lindas. Odinéia Costa Luz, mais conhecida como Vó Néia, conta que realiza o projeto há 10 anos.

“Eu via crianças pela rua, As mães trabalhavam no lixão do Aurá e os filhos ficavam soltos, maltratados. Isso me comoveu bastante e eu resolvi criar a creche. Eu fico com eles às vezes até sábado e domingo. Antes nós tínhamos um local alugado que nos ajudavam a manter, mas abandonaram o projeto. A creche passou a funcionar na minha casa mesmo. Eu até já pensei em largar esse trabalho, mas vi a necessidade e continuo até hoje. Os pais às vezes me ajudam com uma contribuição pra alimentação das crianças. Alguns vizinhos ajudam, meus filhos também, mas é bem difícil pra mim dar conta de tudo”, comenta Vó Neia.

Dona Odinéia confessa que a comunidade espera ansiosa durante o ano pela Gincana Solidária, uma ação coordenada pelo Sistema OCB/PA que estimula os alunos do Programa Aprendiz Cooperativo a colaborar com comunidades carentes do Estado. “Fico muito feliz com a campanha. Foi Deus que enviou esses jovens pra me ajudar. Eu preciso de ajuda. Às vezes fico triste, mas lembro que Deus nunca me abandonou. Ele sempre me ajuda, enviando pessoas como os aprendizes. As crianças pedem brinquedos e não tenho condições pra dar. Hoje eu estou feliz porque eles estão felizes”, se emociona Vó Neia.

No total, os aprendizes conseguiram arrecadar 478 brinquedos usados e 68 brinquedos novos que foram distribuídos para as crianças da Vó Néia e da comunidade em que está inserida a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Aurá (Cootpa).  Além dos brinquedos, os alunos conseguiram cerca de meia tonelada de alimentos que foram destinados aos cooperados da Cootpa. Noemia do Nascimento, presidente da cooperativa, conta que a ajuda dos aprendizes faz uma diferença enorme para o dia a dia dos cooperados.

“Nossa renda é muito baixa. Não dá pra gente comprar a carne, o frango, o feijão, o arroz que é o básico. Isso não é luxo. Toda família tem que ter. É uma necessidade de cada um. O dinheiro não dá. Digo como uma dona de casa, como mãe de família. É difícil não saber se você vai ter dinheiro pra comprar o pão no outro dia para os teus filhos. Eu já passei por isso. Você fica naquela tensão de pensar: Meu Deus, será que eu vou ter um real amanhã pra comprar pão pro meu filho comer?  O dia de cooperar é um momento muito feliz pra gente. Nos deixa mais aliviados. A gente vive sempre escolhendo o que comprar. Se eu comprar um frango não dá pra comprar o arroz. Ou é carne, ou é feijão. Essa ajuda dos aprendizes é fundamental porque a gente se preocupa em comprar só a mistura. Os alimentos duram por um bom tempo”.

Noemia relata bastante emocionada a situação dos cooperados. “Tem quinzena que a gente fez R$ 60,00. Em outras fazemos R$ 100,00. O máximo foi R$ 140,00. Trabalhar duas semanas pra ganhar R$ 140,00 é complicado. Sendo que você tem uma família pra sustentar. A gente não tem dinheiro pra comprar um presente para o filho e o Dia das Crianças é uma data importante pra eles. Todo mundo quer ganhar nem que seja uma bola ou uma boneca. Muitos não têm condições. O dinheiro não dá. A minha filha me pergunta se eu posso comprar um brinquedo quando eu tiver dinheiro e eu tenho que responder que não dá porque preciso comprar o básico pra gente. Isso dói. É muito bom quando o filho pede e a gente tem para atendê-lo e angustiante quando tu não tens. Por isso esse dia pra nós é fundamental. Talvez eles não tenham a noção do quanto nos ajudam. Pode parecer uma atitude mínima, mas pra gente é tudo”.

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