Cooperativa de presidiários transforma material descartado em renda
Porto Velho (2/7) – Um velho pneu abandonado em um canto qualquer leva centenas de anos para ser decomposto. É lixo que polui e enfeia o meio ambiente. Mas nas mãos de apenados do sistema prisional de Rondônia, esse entulho se transforma em arte, em lucro, em uma nova oportunidade de vida.
Tem sido assim há cinco anos, desde que um grupo de pessoas resolveu criar uma cooperativa que fosse capaz de dar uma nova expectativa de vida para si e para os outros. Nascia então a Cooperativa de Trabalho Multidisciplinar da Amazônia (Cootama).
“Para nos firmarmos como cooperativa, partimos para o social. O primeiro trabalho na Amazônia Legal, direcionado aos presídios, foi por meio da Funarte (Fundação Nacional de Artes)”, explicou Dulce Gonçalves Braga, presidente da Cootama. Depois disso, a cooperativa não parou mais e uma vez por semana vai aos presídios, feminino e masculino, ministrar cursos de tapeçaria, pintura em tela e panos de prato, fabricação de material de higiene e limpeza e reciclagem de pneus.
É o projeto 3 R em ação: Ressocializar, Reciclar e Reutilizar, que busca “libertar” o encarcerado dos efeitos negativos da restrição da liberdade, ensinando-lhe noções de preservação e uma nova profissão. E assim, pneus velhos se transformam em poltrona, caxeta e papelão viram puffs e vão parar nas casas de muitos que nem fazem ideia que cada peça dessas representa para quem a fez, dias a menos dentro de uma cela (progressão de regime), família alimentada com o suor do próprio trabalho e dignidade para quando as portas do presídio se abrirem para uma vida fora do cárcere.
“De cada peça vendida, a família do reeducando recebe 40%. Nós temos alunas que saíram do presídio e hoje vivem de vender produtos de limpeza. Todo dia tem 40 a 50 reais no bolso”, enfatizou Dulce Braga. A cootama já beneficiou cerca de 200 pessoas e pretende expandir os cursos para atender um número maior de apenados que possuem outras aptidões.
“Nós iremos manter o projeto 3 R e o Reciclar é Preciso (aproveitamento do óleo para fazer sabão), mas vamos implantar também o projeto Horta Orgânica que utiliza canos e pneus para o cultivo de hortaliças”, disse a presidente da Cootama.
Para tal intento, a Cootama conta com o apoio de voluntários como a professora Vânia Menezes. A educadora ressalta a importância dos cursos para quem passa pelo processo de reeducação social: “quando há um contratempo e nós não conseguimos ministrar o curso, a gente passa e eles ficam gritando: professora cadê as aulas”?
A Cootama também pretende ministrar curso nos presídios do interior do Estado. Para tanto, pretende fechar uma parceria com o governo do Estado que permitirá à Cooperativa ter um carro utilitário para transportar o material que será utilizado nos cursos.
O Sistema OCB/RO tem intermediado essas negociações com o governo para viabilizar a manutenção desse trabalho. “Cooperativa é uma família. Se todos tiverem a conscientização que é todo mundo junto, ajudando o outro estaríamos mais fortes hoje. A gente tem apoio da OCB. Se não tivesse nem existiríamos mais”, reforçou Dulce Braga.
Para Salatiel Rodrigues, presidente do Sistema OCB/RO. “Um dos valores de uma cooperativa é, justamente, promover a inserção social. Lutamos por isto. O resultado deste empenho da Cootama se reflete no êxito de projetos como o 3 R que constrói um novo horizonte para quem não tinha perspectiva nenhuma de qualificação e oportunidade de trabalho”. (Assimp Sistema OCB/RO)