Cooperativa é um negócio

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O conceito do cooperativismo ainda é nebuloso para a grande maioria da população brasileira. Hoje, apenas 7,4 milhões – ou 3% dos brasileiros – são associados a uma cooperativa. O percentual é pequeno quando comparado aos 800 milhões de cooperados em todo o mundo. Nos Estados Unidos há mais 150 milhões de pessoas associadas a cooperativas, o que representa 60% da população. Na Alemanha 80% dos agricultores e 75% dos comerciantes estão organizados dessa forma.

No Brasil, as cooperativas são vistas por muitos, exclusivamente, como alternativa para parcelas carentes da sociedade – catadores, costureiras ou artesãos - se inserirem no mercado de trabalho. É mais comum do que se pensa ouvir comentários que ilustram esta realidade. Não que esta não se seja uma função. Inclusive, podemos citar dezenas de cooperativas que cumprem com sucesso este objetivo, beneficiando milhares de pessoas. Mas é preciso deixar claro que não é a única. 
 

Cooperativa é um negócio que dá resultados econômicos efetivos. Mais do que isso, tem potencial de transformar a realidade de quem é associado e das comunidades do entorno, principalmente nos pequenos municípios onde estão instaladas. Na economia, o resultado da atuação das cooperativas é direto. As 7.026 entidades que integram a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) estão presentes em 31% dos mais de 5 mil municípios do país. Elas empregam diretamente 220 mil pessoas e faturaram R$ 68 bilhões em 2006 – 6% do PIB brasileiro. E a atuação é variada, passando por setores como educação, crédito, consumo, habitação, saúde, entre outros.  

em São Paulo, as cooperativas agropecuárias registradas na Ocesp movimentaram quase R$ 8 bilhões em 2006 – um terço dos resultados de toda produção agropecuária paulista no ano. Cerca de 70% dos associados possui propriedades com menos de 70 hectares. Ou seja, a cooperativa é a grande força para o homem do campo ter acesso à tecnologia, crédito ou assistência especializada para poder competir com os grandes conglomerados que compõem o agronegócio.  

A atuação não se restringe à agropecuária. As cooperativas habitacionais de São Paulo entregaram mais de 80 mil unidades nos últimos anos. As educacionais somam 54 unidades no Estado. O sistema de saúde cooperativo ultrapassa 13 milhões de usuários e está disseminado por todo o Brasil. No caso das cooperativas de consumo, os estabelecimentos funcionam como supermercados. Na área do crédito, a alternativa empresta dinheiro a juros médios de 2% ao mês.  

Os dados mostram que o movimento cooperativista é plural – reúne desde grandes proprietários rurais até multidões de pequenos e médios agricultores, passando por estudantes, profissionais liberais e cidadãos das mais variadas áreas.

Infelizmente, as imagens errôneas associadas ao movimento não residem apenas na falta de tradição associativa do brasileiro. Envolve falta de investimentos em educação e o não-reconhecimento dos Poderes Públicos à especificidade do cooperativismo. Sim, porque mesmo estando inseridos em nossa Constituição artigos que determinam o apoio e incentivo ao movimento, pouco se tem feito em benefício a essa forma de organização. Aos poucos, o Legislativo está percebendo o potencial transformador do movimento cooperativista e vários projetos de lei em nosso favor estão na Câmara dos Deputados. 
 

Acreditamos no poder transformador e no potencial das cooperativas para gerar negócios, contribuindo para a distribuição de renda de forma mais equalitária. Porque, afinal, renda mais bem distribuída é o que o Brasil mais precisa. 

*Presidente da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de S. Paulo)

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