Cooperativas garantem educação financeira para brasileiros




Brasília (10/5/17) – A educação financeira do brasileiro tem sido a pauta de uma série de eventos que ocorrem por todo o país, desde segunda-feira (8/5). A temática é o foco de uma Semana Nacional, promovida pelo Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF), do qual o Banco Central faz parte, para promover a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). O Sistema OCB é um dos grandes parceiros do evento.

Para a chefe do Departamento de Educação Financeira (Depef) no Banco Central do Brasil, Elvira Cruvinel, as cooperativas de crédito possuem uma excelente capilaridade e isso assegura que um maior número de brasileiros seja alcançado pelas ações de educação financeira, realizadas ao longo da Semana Nacional.

“Acreditamos que o fato de o cooperativismo ter a Educação e o Interesse pela Comunidade dentre seus princípios, é um fator que revela o potencial dessa parceria em prol da educação financeira. É importante destacar que, no ano de 2016, mais da metade dos eventos da Semana ENEF foram realizados por cooperativas”, comenta.

Confira abaixo, a entrevista completa com Elvira Cruvinel.

Qual o objetivo do Banco Central do Brasil ao realizar a quarta edição da Semana Nacional de Educação Financeira?


Elvira Cruvinel – A educação financeira tem como objetivo conscientizar o indivíduo sobre a importância do planejamento financeiro, para que desenvolva uma relação equilibrada com o dinheiro e decisões acertadas sobre finanças e consumo. Quando o cidadão entende os fatores que influenciam suas escolhas financeiras, consegue equilibrar seus desejos imediatos com suas necessidades de longo prazo.

Um dos efeitos disso é o aumento do hábito de poupar, outro importante pilar da educação financeira. E todos saem ganhando, já que cidadão financeiramente educado contribui para o bem-estar coletivo, seja porque essa qualificação resulta em um sistema financeiro mais sólido e eficiente, seja porque cada pessoa tem melhores condições para lidar com emergências e momentos difíceis da vida.

 

Qual a importância da parceria com o Sistema OCB, na realização de eventos como a Semana ENEF?

Elvira Cruvinel – Acreditamos que o fato de o cooperativismo ter a “Educação” e o “Interesse pela Comunidade” dentre seus princípios, é um fator que revela o potencial dessa parceria em prol da educação financeira. Além disso, o Sistema OCB, por meio das cooperativas, possui excelente capilaridade, chegando aos diferentes municípios do nosso país.

Assim, o seu poder de multiplicação do conhecimento, bem como a disponibilidade e o interesse com o que o tema Educação Financeira tem sido abraçado, são elementos fundamentais. É importante destacar que, no ano de 2016, mais da metade dos eventos da Semana ENEF foram realizados por cooperativas. E, para este ano, esperamos ainda um aumento expressivo no número de ações!

Somado a isso, ressalta-se a cooperação técnica entre o Sescoop e o BC visando a formação de uma Rede Cooperativa para a Cidadania Financeira. Assim, já foram formados mais de 200 facilitadores no segmento cooperativista, no âmbito do Programa de Formação de Facilitadores em Gestão de Finanças Pessoais. Estes facilitadores estão aptos a ministrar cursos e palestras sobre educação financeira em todo o país. Assim, acreditamos que dessa parceria resulte uma grande parcela da população apta a fazer escolhas financeiras conscientes e responsáveis.

 

Podemos dizer que a população brasileira é educada no que diz respeito à administração de sua renda? Por que?

Elvira Cruvinel – Não. Os resultados de diversas pesquisas realizadas desde 2008 mostram que o brasileiro tem carência de conhecimentos para entender o mundo financeiro e tomar as decisões mais adequadas para sua realidade. Na verdade, a educação financeira é processo novo no mundo, não apenas no Brasil. Conforme mapeamentos realizados, cujos resultados podem ser consultados no portal Vida e Dinheiro, da ENEF, o volume de ações de educação financeira tem crescido exponencialmente no Brasil. Mas o brasileiro, pobre ou rico, jovem ou idoso, analfabeto ou pós-graduado, ainda demonstra dificuldades na gestão de suas finanças pessoais e familiares.

Essa dificuldade deriva de diversos fatores, tanto no plano cognitivo quanto no plano comportamental. Apenas recentemente, escolas brasileiras começaram a incorporar a educação financeira à sala de aula. Historicamente, o aprendizado neste tema tem sido mais frequente na transmissão informal, de pai para filho – especialmente pelo exemplo.

Como qualquer processo educativo e que vise a mudar comportamento, a educação financeira deve ser permanente e continuada ao longo da vida, iniciando-se desde a escola e avançando pela vida adulta. E não se trata de uma questão associada a crises, nem mesmo a bonanças financeiras.

O ato de poupar para o curto prazo, para fazer frente a emergências, por exemplo, ou para a constituição de sonhos no médio prazo ou para a formação de uma reserva de longo prazo para a aposentadoria, independe do contexto econômico momentâneo. Essa é uma forma que garante a tranquilidade e a autonomia financeiras do indivíduo e sua família.

Consumir de forma consciente e planejada, aderir ao crédito apenas quando necessário e conveniente, investir em produtos financeiros de origem conhecida, ofertados por provedores de serviço legalmente atuantes no mercado, todos esses são elementos que devem estar presentes na vida do cidadão bem-educado financeiramente, independente da conjuntura econômica que se viva.

 

E qual o melhor caminho para promover a educação financeira do brasileiro?

Elvira Cruvinel – O “como” disseminar as práticas é o grande desafio. Com esse propósito, o Banco Central vem atuando em três área temáticas: a gestão de finanças pessoais, com foco no hábito de poupança e na responsabilidade no uso do crédito; o relacionamento do cidadão com o Sistema Financeiro Nacional, oferecendo informação, formação e orientação sobre serviços e produtos financeiros, sobre os canais de atendimento e de resolução de conflitos com o SFN e sobre o papel e as funções do SFN e do BCB; e o relacionamento das instituições financeiras com o cidadão.

O BCB vem buscando, por meio de parcerias estratégicas, desenvolver ações de educação financeira complementares às ações transversais do Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF), responsável pela promoção da ENEF, e que, no momento, prioriza a educação financeira nas escolas de ensino médio e fundamental.

Dentre as parcerias firmadas pelo BCB para a promoção da educação financeira, destaca-se, por um lado, o processo de formação de multiplicadores em gestão de finanças pessoais, construído em conjunto com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), e que conta com outros parceiros como Exército, a Marinha e a Fundação Escola de Governo ENA.

Por outro lado, o Projeto Relacionamento do Cidadão com o SFN, em parceria com a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon), visa à formação de atendentes dos Procons e demais instituições componentes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor sobre temas relacionados ao consumo de serviços financeiros.

O Banco Central não atua isoladamente no campo da educação financeira. Ao contrário, o BCB é um dos atores em um processo maior que constitui a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

Com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores, a ENEF tem por diretrizes a atuação permanente e em âmbito nacional; a gratuidade das ações de educação financeira; a prevalência do interesse público; a promoção de informação, formação e orientação; a centralização da gestão e descentralização da execução das atividades; a formação de parcerias com órgãos e entidades públicas e instituições privadas; e avaliação e revisão periódicas e permanentes.

Assim, a sinergia entre órgãos públicos e iniciativas privadas e do terceiro setor é fundamental para o ganho de escala e a capilaridade dos programas, ações, iniciativas de educação financeira no País.



De que forma as cooperativas podem contribuir com o BCB neste trabalho de educar financeiramente os brasileiros?


Elvira Cruvinel – O BC objetiva promover a cidadania financeira de toda a população brasileira, por meio da inclusão financeira adequada, da proteção ao consumidor e da educação financeira. Nesse sentido, as cooperativas, devido à sua proximidade com o cooperado e à sua inserção nas mais diversas localidades, podem contribuir com o BC por meio da divulgação do tema, seja realizando eventos que levem a Educação Financeira aos seus colaboradores, cooperados e familiares –, tanto na Semana ENEF como em outros momentos do ano –, seja por meio de cursos virtuais.

O portal Cidadania Financeira do BC, www.cidadaniafinanceira.bcb.gov.br, tem diversos cursos gratuitos, que podem ajudar nesse sentido. Contamos com as cooperativas para construir um país com pessoas e organizações que saibam o valor do dinheiro e como lidar com ele! E isso é bom não somente para as pessoas, suas famílias, para as cooperativas e suas comunidades, mas é bom para o país como um todo!

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