Cooperativismo vale ouro
Peixoto de Azevedo (20/7/18) – No norte do estado do Mato Grosso, o trabalho de mais 5,2 mil pequenos mineradores, associados à Cooperativa de Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (Coogavepe), é a prova de que o cooperativismo vale ouro quando o assunto é aliar produtividade e sustentabilidade. A cooperativa que, em 2018 completa 10 anos de constituição, é considerada pelos órgãos de fiscalização ambiental como um case de sucesso, contribuindo, dessa forma, para a quebra de um paradigma histórico: garimpos destroem o meio ambiente.
Na região de Peixoto de Azevedo isso não acontece mais. Além de estimular os mineradores a explorar apenas as áreas regularizadas, a cooperativa também tem atuado para agilizar a obtenção das licenças prévias, de instalação e de operação, desenvolvendo, ainda, iniciativas de longo prazo que transformam a realidade da extração de ouro, em Mato Grosso.
Para isso, a cooperativa está presente na rotina do garimpeiro desde o início de todo o processo da mineração, oferecendo tanto o suporte legal quanto orientações sobre os aspectos que envolvem a preservação dos recursos naturais, como por exemplo, a remoção da cobertura vegetal da área a ser minerada e sua respectiva recuperação no final do processo.
Outra iniciativa transformadora tem sido desenvolvida junto às escolas públicas da região. Os alunos são estimulados a recolher sementes de árvores nativas e, em troca, a escola recebe um apoio financeiro da cooperativa. As mudas geradas a partir da germinação das sementes são aproveitadas de duas formas. Parte delas é doada aos cooperados para recuperarem as áreas mineradas.
A outra parte das mudas é destinada ao projeto Cidade Verdade, desenvolvido pela Coogavepe em toda sua área de atuação. A ideia é ampliar os percentuais de área verde por habitante em sete cidades mato-grossenses: Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, Matupá, Nova Guarita, Nova Santa Helena, Novo Mundo e Terra Nova do Norte.
A iniciativa, inclusive, ficou em primeiro lugar na categoria Desenvolvimento Sustentável, da 10ª edição do Prêmio SOMOSCOOP – Melhores do Ano, realizado em 2016 pelo Sistema OCB.
“Esse trabalho realizado junto ao cooperado e à sociedade tem refletido na preservação dos recursos naturais. Nós, do cooperativismo, acreditamos que a única forma de garantir e atividade garimpeira para as futuras gerações é preservando o meio ambiente”, destaca o presidente da Coogavepe, Gilson Comboim.
Reconhecimento
A atuação da Cooperativa de Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto também foi reconhecida nesta quinta-feira (19/7), durante a abertura do 4º Seminário das Províncias Metalogenéticas Brasileiras – Província Aurífera Juruena/Teles Pires, realizado pela Serviço Geológico do Brasil (CPRM), na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O evento que termina nesta sexta-feira, véspera do Dia do Garimpeiro, contou com a participação de diversos representantes do setor mineral. Dentre as mais de 130 pessoas, estavam garimpeiros, geólogos, estudantes, mineradores e representantes dos governos estadual e municipal.
O presidente do Sistema OCB/MT, Onofre Cezário, também prestigiou o primeiro dia do seminário. Para ele, a programação composta por 19 palestras, visitas técnicas e espaços de perguntas e respostas, nos dois dias do evento, oportuniza o compartilhamento de experiências e conhecimento.
“Todos os que aqui vieram voltarão para casa muito mais ricos, não por causa do ouro, mas pela troca de informações, pelas redes que se formam, por todas as possibilidades de cooperação que surgem depois de um evento como este. Cooperativismo é isso, espaço democrático onde todos têm espaço para manifestar suas ideias e crescer de forma sustentável”, avalia o líder cooperativista.
Exemplo
Por falar em cooperação, um dos apoiadores da quarta edição do seminário é a Coogavepe e, segundo o presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração, Roberto Vargas, uma das reguladoras da atividade mineral no estado, a atuação da cooperativa é um exemplo para todo o país.
“Sempre nos perguntam como é possível extrair a riqueza do solo, atuando dentro da lei e com tanto resultado. E, com alegria, eu cito a Coogavepe. Graças aos seus princípios, o resultado realmente aparece”, enfatiza Vargas.
Oxigênio
Garimpeira, a vice-prefeita da cidade de Peixoto Azevedo, Benta Noleto de Brito Borges, também fez questão de destacar a contribuição da cooperativa para a história do município. “A sustentabilidade é uma prioridade para o governo local, pois acreditamos que ela, aliada à tecnologia, pode melhorar as questões do trabalho do garimpeiro. E a Coogavepe se empenha muito em assegurar a qualidade do trabalho e de vida de quem vive do ouro, pois sabe que o garimpeiro é o oxigênio da nossa região”, reconhece Benta Noleto.
“O trabalho que a Coogavepe vem fazendo nos últimos anos tem contribuído para mudar a realidade do setor mineral tanto no Mato Grosso quanto no restante do país. Ao aliar preservação dos recursos naturais e a atividade garimpeira responsável e consciente, a cooperativa mostra que é possível prosperar de forma respeitosa e eficiente e, isso, fortalece a imagem de todo o movimento cooperativista”, avalia Onofre Cezário.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração, o CAGED, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio, e o IBGE: a mineração no Brasil é majoritariamente composta por micro e pequenas empresas (87%). A atividade ocorre em todo o território nacional. O setor produziu, em 2017, mais de dois bilhões de toneladas, faturou US$ 32 bilhões e gerou 180 mil empregos diretos e mais de dois milhões de postos indiretos de trabalho. A produção do setor mineral representa 16,8% do PIB industrial, composto pelo segmento da indústria extrativista, de transformação, produção e distribuição de eletricidade, água, esgoto, limpeza urbana e construção civil.
Ouro e exportação
As exportações do setor mineral em 2017 subiram mais de 30% e o saldo mineral cresceu 27% em relação a 2016. Dessa forma, a atividade mineradora contribuiu, no ano passado, com 30% do saldo comercial brasileiro.
O ouro, por exemplo, é considerado um dos minerais estratégicos da balança comercial do Brasil. Em 2017, foram produzidas 95 toneladas. Esse metal contribuiu com 9% do total mineral exportado pelo país. Para fins de comparação, a produção de ferro, por exemplo, girou em torno de 430 milhões de toneladas no ano passado, representando 68% na balança. (Fontes: Instituto Brasileiro de Mineração, CAGED, MDIC e IBGE)
Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o Brasil conta, atualmente, com 79 cooperativas do Ramo Mineral, focadas na produção de ouro, diamante, esmeralda, quartzo, ametista, areia e argila. Juntas, elas reúnem mais de 57,2 mil cooperados.
Dentre os principais desafios para o desenvolvimento sustentável das cooperativas do setor mineral estão questões relacionadas à agilidade no processo de liberação de autorização, permissão ou concessão de áreas para exploração; ampliação de linhas de crédito; capacitação; marco legal; tributação adequada; e o reaproveitamento dos rejeitos e resíduos.
No Mato Grosso, oito cooperativas estão registradas na OCB/MT, das quais: três atuam no segmento outro (a Coogavepe é uma delas); outras três se especializaram na extração de diamante; areia e argila são as atividades das outras duas cooperativas.
Números da Coogavepe
- Completa 10 anos em 2018;
- Conta com 5,2 mil cooperados ativos;
- Atua em sete municípios: Guarantã do Norte, Matupá, Nova Guarita, Nova Santa Helena, Novo Mundo, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do Norte;
- Foco: ouro, mas tem planos de expandir;
- Produção: cerca de 7 toneladas de ouro, em 2017;
- Principal cliente: mercado financeiro.