Entra em operação a primeira cooperativa de energia renovável do país

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Com um investimento de R$ 600 mil, 23 pessoas iniciam, no interior do Pará, uma revolução na geração de energia limpa

Brasília (5/8/16) – A primeira cooperativa de energia renovável do Brasil entrou em funcionamento hoje, no município de Paragominas, no estado do Pará. A solenidade contou com diversas autoridades políticas, como o secretário de estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demachki, e também com o superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Renato Nobile. A micro-usina de energia solar fotovoltaica da Cooperativa Brasileira de Energia Renovável (Coober) começou a operar com capacidade de 75 KWp, potência que deve ser ampliada em breve.

Ao todo foram investidos R$ 600 mil na micro-usina solar. O recurso é oriundo da contribuição dos 23 cooperados. A cooperativa foi criada em fevereiro deste ano, com base nas novas regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que entraram em vigor em dezembro de 2015, com o objetivo de estimular a geração de energia pelos próprios consumidores.

O espaço físico da micro-usina reúne 288 placas fotovoltaicas que possuem capacidade de produção média de 11.550 KW/H por mês. Toda energia será injetada no sistema da rede Celpa. O resultado será rateado entre os cooperados e descontado diretamente na conta de energia. Estima-se que metade do quadro social da Coober tenha a conta completamente zerada, dependendo do nível de consumo individual.

Segundo Renato Nobile, atualmente, existem cerca de duas mil unidades gerando energia no Brasil, mas nenhuma em formato de cooperativa. “Esse modelo adotado pela Coober, envolvendo profissionais de tantos setores distintos, só funciona com cooperação e desde o início a cooperativa buscou o apoio da OCB/PA para nascer atendendo todos os requisitos da legislação vigente”, comenta o superintendente.

Para ele, o modelo de energias renováveis adotado pela Coober é uma tendência que, em breve, ganhará o Brasil. “Tenho convicção que em pouco tempo as técnicas de aproveitamento das fontes de energia limpa serão irradiadas para todo o país, assegurando mais emprego e mais qualidade de vida para os brasileiros”, comenta Renato Nobile.

Para o presidente do Sistema OCB/PA, Ernandes Raiol, a Coober é um passo concreto em um caminho que não tem volta. “A matriz de produção mundial será renovável. Hoje, ainda depende de combustíveis fósseis, e outras alternativas não sustentáveis. No Brasil, a produção energética está baseada em grandes hidrelétricas que geram uma série de impactos sociais e ambientais. Em poucos anos, o Brasil terá centenas de cooperativas de energia renovável espalhadas de Norte a Sul produzindo energia elétrica de forma compartilhada e distribuindo entre seus cooperados, gastando muito menos sem transmissão, afetando muito menos o ambiente com uma forma econômica mais viável e acessível. Esse é um momento histórico. É uma grande transformação”, afirma o presidente do Sistema OCB/PA.

MARCO HISTÓRICO – Segundo o advogado ambientalista Raphael Sampaio Vale, presidente da Coober, colocar a cooperativa em operação representa um corte na história do setor elétrico brasileiro. “Todos nós estamos na expectativa de começar a gerar a própria energia elétrica de fonte limpa, sem agredir a natureza e sem causar prejuízos às populações que normalmente são afetadas pelos grandes projetos”, afirmou Raphael Vale.

Para Raphael Vale, a produção de energia renovável é um dos principais pilares de uma sociedade ambientalmente sustentável e as cooperativas de energia renovável são o futuro de uma geração socialmente sustentável. “Agimos movidos pela ideia de unirmos esses dois mundos (energia renovável e cooperativismo) no Brasil, e produzirmos a energia que consumimos. A possibilidade legal de fazermos isso por meio da geração distribuída foi possível por meio da alteração da resolução da nº 482/2012 da Aneel pela 687/2015, que entrou em vigor em março passado”, explica Vale.

Para a Coober, as vantagens de se produzir energia renovável (solar fotovoltaica) em cooperativa e não de maneira individualizada são várias. Entre elas: menor valor investido, já que os custos são divididos por 23; mobilidade na produção, os cooperados podem mudar de endereço sem se preocupar com os equipamentos; desenvolvimento de uma cultura de colaboração; melhor escolha/avaliação das opções, mais pessoas pensando com o mesmo objetivo; melhor relação com a concessionária; e tratativas mais adequadas de benefícios e isenções fiscais.

REFERÊNCIA – Os cooperados estão conscientes de que a pequena usina de Paragominas é uma espécie de grão de areia em relação ao gigantesco sistema elétrico brasileiro, contudo, sabem que o tamanho não é o mais importante. E, de fato, entusiasmo e vontade de colocar o projeto em funcionamento não faltam ao grupo. Entre maio e junho, Raphael Vale e mais dois cooperados tiraram dinheiro dos próprios bolsos e bancaram uma viagem à Alemanha, para conhecer como funcionam as usinas de energia renovável naquele país.

A Alemanha é uma referência para o projeto de Paragominas. Lá, existem 822 cooperativas de energia, sendo que mais de 700 são de energia renovável. “Fomos lá para entender como funciona e observamos que, embora muito à frente do Brasil nesse campo, eles enfrentam as mesmas dificuldades que temos aqui, principalmente como estar integrado à rede de distribuição local”, explicou Vale.

APOIO – Ele lembrou que que a Coober tem apoio institucional da Confederação Alemã de Cooperativas (DGRV) e trabalha em parceria com o Ministério das Cidades (Probiogás) e a agência alemã para cooperação e desenvolvimento (GIZ), além do apoio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Governo do Pará e Prefeitura de Paragominas.

A COOPERATIA – A Coober tem como base o mesmo espírito que leva as pessoas a consumirem alimentos orgânicos, por exemplo, em vez de produtos industrializados e pouco saudáveis. Só que agora, em vez de consumir compulsoriamente uma energia elétrica gerada por uma usina que leva ao desaparecimento de uma parte da floresta, que inunda reservas indígenas ou de uma térmica a óleo combustível que joga diariamente toneladas de veneno na atmosfera, os integrantes da cooperativa estão fazendo a opção para consumir uma energia limpa, produzida e distribuída por eles mesmos.

As metas da cooperativa visam ampliar a geração para um grupo maior de pessoas. De acordo com Raphael, o número de cooperados será ampliado para 300 ou até 600 a partir do segundo semestre de 2017, dependendo da expansão da capacidade de produção. Pela legislação, o teto que cada concessionária pode atingir é 5MW de potência. Hoje, a Coober produz 7,5% de 1MW. “Por Mega instalado, conseguimos atender até 300 pessoas. A partir de agora, vamos iniciar uma fase pós-inauguração e injeção de rede para entendermos a tratativa por concessionária, compreendendo o fluxo entre a Coober, a Celpa e os cooperados de contratação. Posteriormente, implantaremos um plano de negócio para ampliar a cooperativa e abrir para novos cooperados”, completa Raphael.

Os investimentos em fontes renováveis vêm aumentando e devem ser ainda maior após acordo firmado recentemente entre os países na Conferência do Clima (COP 21), realizada em Paris. O objetivo é reduzir as emissões de poluentes que causam o efeito estufa e o aumento das temperaturas no mundo. Além de terem um custo menor do que as hidrelétricas, projetos de energia renovável têm um processo de implantação mais rápido, com a obtenção de licenças ambientais mais simples do que as térmicas e hidrelétricas. (Com informações da Assessoria de Imprensa do Sistema OCB/PA)

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