Entre a crise e lobby

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Giovani Ferreira *

A proposta de reduzir e em alguns casos até zerar os subsídios agrícolas norte-americanos promete ser o capítulo mais tenso da cruzada do presidente Barack Obama para cortar os gastos públicos e tentar equacionar o déficit orçamentário. Os agricultores dos Estados Unidos têm, reconhecidamente, o mais forte lobby dentro do Congresso Nacional entre os países produtores de grãos. Mas o que governo, os congressistas e a cadeia produtiva começam a se perguntar, é o que dará mais peso às decisões. Em jogo, a representação política dos fazendeiros e a opinião pública de uma sociedade que sente na pele a quebra dos bancos, a falta de crédito e o desemprego recorde.

Esse pelo menos foi o tom das interpretações feitas por representantes do setor que participavam ontem da abertura do Agricultural Outlook Forum, em Arlington, nos Estados Unidos. Aliás, o governo não poderia ter encontrado época melhor para tratar do tema. O evento, promovido pelo USDA, o departamento de agricultura dos Estados Unidos, reúne perto de 2 mil pessoas, analistas e especialistas do agronegócio, de praticamente todo o mundo, além de um pequeno batalhão de jornalistas. Na verdade, ninguém foi pego de surpresa. Todos sabiam que a agricultura teria que dar a sua contribuição no processo de recuperação do país. Mas por conta do tabu que envolve o tema subsídios, da complexidade e falta de clareza das medidas, pouca gente ousou comentar as propostas. Quem o fez, foi em sigilo.

Conversei com um funcionário do USDA -- por motivos óbvios não pode ser identificado --, que não dúvida do corte nos subsídios, mas diz que paga para ver. Será a popularidade do presidente Obama, no primeiro embate político com o Congresso Nacional, disse. Em tom de crítica, ele destacou também que o apoio à agricultura é “quase nada” diante dos recursos destinados à Defesa, trocando por miúdos, as guerras. Em 2007, segundo o censo da agricultura do país, o governo destinou, em pagamentos diretos, perto de US$ 8 bilhões, excetuando-se os subsídios indiretos para salvaguardar o mercado e a produção.

Outro lado dessa moeda, é que o corte nos subsídios pode agravar o círculo vicioso da crise. Afinal, onde há menos dinheiro, há menos consumo. Não esqueçamos de que a política de apoio aos produtores ajuda a financiar outros elos da cadeia, como a indústria de máquinas, fertilizantes, sementes e de tecnologia agrícola. Dizer que isso pode tornar a agricultura brasileira mais competitiva. Talvez, mas são reflexos que viriam no longo prazo. Por enquanto, o que passa a valer mais, no Brasil e nos Estados Unidos, é a eficiência dos produtores, neste caso, da porteira para dentro.

* Editor de Agronegócio da Rede Paranaense de Comunicação (RPC)/ Gazeta do Povo, de Arlington, nos Estados Unidos. 

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