ENTREVISTA DA SEMANA_Entrevista com Marcelo Gallo
Durante o dia de ontem (28/7), o Sistema OCB realizou o workshop “Os Desafios do Cooperativismo de Eletrificação”, com o objetivo de discutir os desafios do setor. O evento contou com a presença do assessor executivo da Federação Argentina de Cooperativas de Eletricidade, Marcelo Gallo, que participou do painel “Experiências Internacionais – um novo olhar sobre o cooperativismo de infraestrutura” e, ao final, conversou com a equipe de Comunicação do Sistema OCB sobre o panorama em seu país. Marcelo Gallo é o entrevistado de hoje na coluna “Entrevista da Semana”. Confira!
Qual o panorama do setor cooperativista na Argentina?
Nesta conjuntura, especialmente nestes anos, existe uma política tarifária congelada pelos preços dos estados concedentes. Os estados fixam a tarifa e as cooperativas vendem a energia. A partir do governo federal tem-se trabalhado em um programa nacional de congelamento de tarifas e concessão de subsídios para investimentos em infraestrutura. Em algumas províncias estes subsídios estão melhor estruturados e, em outras, nem tanto.
Em algumas províncias estes subsídios estão mal estruturados, uma vez que a concessão de fundos depende da relação das províncias com o governo federal da Argentina. Esta é uma situação delicada, mas que não impede que as cooperativas sigam prestando serviço de eletrificação para as comunidades. Questões externas interferem, mas não param as cooperativas em sua prestação de serviços.
Quais são os principais desafios ao cooperativismo de eletrificação na Argentina?
Dois grandes desafios para as cooperativas no país: o desafio da infraestrutura de comunicações e o diálogo com as energias renováveis, que seria uma forma de diversificar serviços, não somente a provisão elétrica. A maioria das cooperativas na Argentina (aproximadamente 600) trabalha com provisão de energia elétrica, mas têm-se diversificado e não trabalhado somente neste setor. Isso significa que em momentos de crises (econômicas, humanas ou financeiras), essas cooperativas puderam sobreviver graças aos serviços que elas ofertam de forma complementar.
A renda complementar é importante também para solucionar problemas de ordem energética. Estamos convencidos que esta fase de provisão de serviços complementares oferecidos pelas cooperativas, como por exemplo, a fibra ótica, são tão importantes como a fase de surgimento das cooperativas de energia na Argentina, nas décadas de 20, 30 e 40, período em que as cooperativas se tornaram as empresas mais importantes das cidades, gerando empoderamento à população.
De uma forma geral, o governo tem estimulado o crescimento de cooperativas?
O governo federal estimula a formação de novas cooperativas de eletrificação e o fortalecimento das cooperativas existentes. É um governo que tem dado atenção para as cooperativas, diferente de outros governos da década de 90, extremamente neoliberais, que pouca atenção deram às cooperativas. Durante este período, o setor cooperativista ficava apenas com mercados difíceis e pouco rentáveis, já que as maiores parcelas eram dadas para “amigos do poder” e grandes multinacionais.
Como a Argentina vê o cooperativismo no Brasil de uma forma geral?
Sumamente importante, do ponto de vista da escala. Sempre dizemos que as cooperativas não organizações sociais, são empreendimentos que buscam a rentabilidade social, que trará riquezas para as comunidades onde estas cooperativas estão. No Brasil, as cooperativas têm um potencial enorme, sobretudo porque muitas vezes se localizam em áreas muito afastadas e são capazes de gerar desenvolvimento econômico e social.
Eu digo que as cooperativas são filhas das necessidades e mãe das soluções. De toda forma, os grandes capitais não vão deixar lugar para as cooperativas para os melhores negócios, mas a partir da integração econômica e social, feita pela OCB, as cooperativas passam a ter uma ferramenta que pode permitir às cooperativas a juntarem um capital social e econômico extremamente importante para enfrentar os novos desafios.