ENTREVISTA DA SEMANA: José Angelo Mazzillo Junior

Banco Central do Brasil é um dos maiores entusiastas do projeto Conhecer para Cooperar

Brasília (21/9/16) – O Sistema OCB está realizando nesta semana o segundo módulo prático do projeto Conhecer para Cooperar, cujo objetivo é possibilitar que agentes financeiros e os formuladores de políticas públicas conheçam de perto a rotina operacional das cooperativas brasileiras. O Banco Central do Brasil, cujos representantes integram à comitiva que está conhecendo cooperativas paranaenses desde a última segunda-feira, é um dos grandes entusiastas do projeto. O chefe do Departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações de Crédito Rural e do Proagro, José Angelo Mazzillo Júnior, explica o motivo.

Como o BCB percebe a contribuição do cooperativismo para a economia brasileira?

José Angelo
– As entidades que operam no sistema financeiro e no setor agropecuário para serem competitivas dependem, cada vez mais, de escala operacional. Tal tendência constata-se a partir dos movimentos de concentração que se observam nesses setores. No sistema financeiro, a concentração traz maior nível de padronização de produtos, por vezes distanciando seus serviços da melhor necessidade dos usuários, como, por exemplo, daqueles que residem em cidades médias e pequenas cuja atividade econômica principal é a agropecuária.

Esta atividade, por sua vez, tem se tornado cada vez mais intensiva em tecnologia, o que requer estruturas produtivas mais especializadas. O cooperativismo é uma alternativa real e viável em nossa sociedade tanto para atender os usuários do sistema financeiro não plenamente atendidos pelo sistema bancário convencional, quanto para estruturar o sistema produtivo de produtores rurais que, isoladamente, não teriam condições de produzir em escala que justificasse a adoção das melhores técnicas produtivas.


Ao atuar junto ao Governo Federal nas discussões para elaboração de normativos, o BCB considera o equilíbrio financeiro do país. Acredita que, conhecendo mais de perto a realidade das cooperativas, os normativos que envolvem o setor possam ser redigidos de forma a contemplar as necessidades das cooperativas?

José Angelo
- A missão do BC é dual, ou seja, controlar a inflação e desenvolver o Sistema Financeiro Nacional. No combate à inflação, a produção de alimentos desempenha um papel importantíssimo. Por outro lado, um sistema financeiro desenvolvido é o que melhor atende às necessidades da sociedade. Nesses dois sentidos as cooperativas – de crédito e de produção agropecuária – possuem papel muito relevante e, por essa razão, é indispensável que o BC e seus pares do Governo Federal conheçam bem de perto suas especificidades para, ao regular suas atividades, criarem os incentivos corretos, na direção necessária. Também é muito importante o cooperativismo melhor conhecer a realidade dos reguladores a fim de que se estabeleça uma sinergia construtiva que deve permear a relação entre ambos. 


O Banco Central é um dos maiores entusiastas do projeto Conhecer para Cooperar. Poderia nos explicar a razão disso?

José Angelo
– De fato, a necessidade de se regular adequadamente o cooperativismo, especialmente se considerarmos a importância do papel reservado a esse modelo societário, ainda não estudado como os modelos societários baseados no capital, requer do regulador estimular, apoiar e participar de iniciativas como o excelente projeto Conhecer para Cooperar, que certamente reforçará a construção de um ambiente mais favorável ao melhor desenvolvimento das atividades reguladas tanto no sistema financeiro quanto no setor agropecuário o que, em última análise, beneficiará a sociedade brasileira.   

Quais são as expectativas deste BCB ao enviar seus representantes para participarem deste projeto?

José Angelo
– As cooperativas são beneficiárias clássicas do crédito rural e têm direito a uma parcela relevante dos recursos obrigatórios direcionados à agropecuária. Nesse sentido, é importante que o BC esteja sempre atualizado em relação às especificidades do cooperativismo para, em conjunto com o segmento, implementar uma agenda regulatória efetiva visando o melhor desenvolvimento de nossa agricultura.

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