ENTREVISTA DA SEMANA: Marcio Valle

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Brasília (30/04) – As dificuldades do ramo Consumo, setor que fomentou o surgimento da primeira cooperativa do país, estão entre as questões tratadas pelo coordenador do ramo, Márcio Francisco Blanco Do Valle, que concedeu entrevista ao Informativo do Sistema OCB. Ele fez uma avaliação do trabalho de representação da unidade nacional e comentou sobre a principal necessidade do cooperativismo, neste ano eleitoral. Além disso, Márcio Valle destacou a urgência e a necessidade de as cooperativas do ramo Consumo terem seu desenvolvimento estimulado. Leia a entrevista, na íntegra.


Quais as principais demandas do ramo?

Márcio Valle -
A principal demanda é o reconhecimento do “Ato Cooperativo” para o ramo Consumo e a consequente não incidência dos impostos federais, sobre a relação cooperativa/cooperado.
 
Do que dependente a implementação dessas demandas?

MV -
Há duas linhas de ação, no Judiciário e no Legislativo, mas o principal entrave vem do Executivo, particularmente Casa Civil e da Receita Federal, que não compreende a atuação das cooperativas de consumo, principalmente o seu relacionamento com o cooperado.
 
Considerando que este é um ano eleitoral, este fato pode ser entendido como positivo ou negativo para o setor?

MV -
Estamos na expectativa dos resultados que serão gerados este ano, principalmente com relação à votação das matérias que encontram-se sob apreciação dos deputados e senadores. É importante sempre ter em mente que o cooperativismo não pode ser conduzido conforme entendimento do governo. Pelo contrário, somos um modelo econômico diferenciado que precisa ser tratado como prioridade dada a sua participação na economia do país. A alternância de governos é sempre um motivo para a inovação. Esperamos que os próximos administradores estaduais, federais e nacional reconheçam a importância do cooperativismo promovendo e fortalecendo da sua atuação, em crescimento ao que já foi conquistado nos últimos anos.
 
Qual o principal projeto de lei que, na sua opinião, precisa se votado ainda neste ano?

MV -
Atualmente, a principal demanda do cooperativismo é o Ato Cooperativo. Ele concederá o adequado tratamento tributário às cooperativas brasileiras. É por isso que temos lutado ao longo dos últimos 30 anos. Mas é preciso deixar muito claro que para o setor, é importante que o projeto seja votado como está, ou seja, com o texto proposto pelo setor. Se houver muitas interferências do governo e dos próprios parlamentares, é possível que matéria desfavorável seja incluída na matéria. Se isso vier a ocorrer, é melhor que o Sistema OCB mantenha proposta atual, com o objetivo de defender o interesse das cooperativas. Até a sua aprovação, uma alternativa é a via judicial, onde o Sistema OCB está monitorando a forma de tratamento e conscientizando os atores principais.
 
Qual sua opinião sobre o ramo Consumo considerando os princípios cooperativistas, dificuldades e potenciais?

MV -
O Consumo é talvez o ramo no qual seja mais frágil a ligação do cooperado com a cooperativa. Digo isso, por que a cooperativa não reflete o elemento essencial do cooperado, mas oferta os produtos e serviços que necessita. O varejo é altamente competitivo, diversificado e inovador, possibilitando sempre encontrar uma unidade de distribuição superior, em algum aspecto, à cooperativa (preço, produto, mix, sofisticação, etc). Assim, a cooperativa vive no melhor dos ambientes concorrenciais, mas tem de lidar com questões contraditórias, sendo:

i)    A observância dos princípios cooperativistas, que a coloca como empresa não somente 100% ética, mas fortemente engajada com as comunidades onde atua. Contudo, vale ressaltar, nem sempre as pessoas estão dispostas a pagar por esta postura;
ii)    O risco e a fragilidade dos nossos sistemas de governança, por conta da forma democrática de gestão, conforme nosso segundo princípio. Em termos de país, num ambiente onde florescem tantos grupos de interesse, muitas vezes com objetivos pessoais, políticos ou simplesmente de poder, o cooperativismo, e outros setores, ficam à mercê de uma tomada decisão, por pessoas sem nenhum comprometimento com a nosso sistema, nossa filosofia ou com a própria cooperativa;
iii)    A falta de fomento que estimulem o desenvolvimento das cooperativas do ramo Consumo. Justificado pelos itens i e ii as cooperativas lutam de forma igualitária para a permanência no mercado, sendo possível observar a diminuição do número de cooperativas, ano após ano.
 
Qual a sua avaliação sobre o trabalho de representação do Sistema OCB?

MV -
O Sistema OCB vem crescendo muito na representação do sistema frente aos poderes da República e é certo que sem ele, hoje, estaríamos – todos os ramos – em situação muito ruim.

Ocorre que a percepção destes poderes vem se firmando cada vez mais no sentido de não reconhecer, não fomentar e, até mesmo de eliminar o cooperativismo, especialmente alguns ramos, como é o caso do Consumo.

E isto tem feito com que nosso esforço seja direcionado para ações de defesa, dedicando nossos recursos e tempo para sensibilização dos interlocutores, pois da forma como está, o setor corre o risco de extinção.

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