ENTREVISTA DA SEMANA_Mikel Lezamiz

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Intercooperação, educação cooperativista e competitividade são estratégias apontadas por diretor do Grupo Mondragom

Brasília (15/7) – Este será o século do conhecimento e do cooperativismo. A afirmação é do diretor de Difusão Cooperativa do Grupo Mondragon, Mikel Lezamiz, que, durante visita à Casa do Cooperativismo Goiano, concedeu entrevista à revista Goiás Cooperativo, produzida pelo Sistema OCB. Segundo ele, as cooperativas precisam ampliar sua capacidade competitiva e utilizar melhor a intercooperação, assim, com a utilização destes dois mecanismos, as cooperativas só têm a crescer. Confira o material.

O Grupo Mondragon é uma referência mundial de cooperativismo, completo nesse modelo de negócio. Vocês estão presentes em vários países e têm conhecimento da realidade global. Como o senhor avalia a situação atual do cooperativismo no mundo?

Mikel Lezamiz
– Atualmente, o cooperativismo está melhorando muito, na imagem e funcionamento. Este século será o século do cooperativismo, da cooperação, do conhecimento. Quem tem o conhecimento? Eu, você, as pessoas. E, portanto, os trabalhadores terão o poder neste século. O capital é só um recurso, um meio para melhorar a sociedade.

Há 100, 200 anos, as cooperativas de trabalho não funcionavam, porque a maior parte das pessoas era analfabeta. Agora, existem poucas analfabetas. Os jovens têm muita formação, cultura e viagens. O conhecimento está muito desenvolvido e, com isso, todas as pessoas podem tomar decisões nas empresas. O cooperativismo tem muito futuro neste século.

Estão surgindo cada vez mais, em cada país, leis para fomentar cooperativas em geral e, mais ainda de trabalho. Porque o cooperativismo gera uma riqueza mais equitativa, mais solidária e gera uma sociedade mais correta. Acho que nós – eu, você, a OCB, Mondragon – estamos dentro do caminho do futuro.

O sistema em que o capital tinha mais poder do que os trabalhadores foi um esquema do século 19, 20. Mas, nesse século 21, o capital tem de ser só um recurso e as pessoas têm de ser a chave e o coração das empresas e da sociedade.

O cooperativismo está crescendo mais rápido que antes?

Mikel Lezamiz
– Acho que sim. Há dados, em muitas partes do mundo, de que se estão gerando mais cooperativas e elas promovem mais correção, comprometimento e compartilhamento na sociedade. Acho que a imagem do cooperativismo está melhorando um pouco também no Brasil. Na Europa, isso é fato. O parlamento europeu, no ano de 2013, fez uma resolução e todos os partidos políticos, de direita e de esquerda, aprovaram-na para fomentar e gerar cooperativas. E o parlamento europeu é de direita.

O senhor tem visto uma evolução no cooperativismo brasileiro em relação aos outros países?

Mikel Lezamiz
– Temos muitas visitas do Brasil. Percebo que o cooperativismo no Brasil está tendo uma melhor imagem que antes e que está melhorando muito. Constantemente, podemos ler nos meios de comunicação que o cooperativismo está aumentando dentro do PIB e na proporção de cooperativas agrícolas, de crédito, de saúde, bem estendidas em todo o País. As de saúde aqui são ainda melhor que na Europa e que em Mondragon.

Portanto, podemos pensar que, no futuro, ainda estarão melhor que agora. Só falta ter uma maior segurança política, porque, caso os partidos ou a administração pública façam uma lei contra o cooperativismo, isso pode ser prejudicial. Mas acho que a OCB está trabalhando na relação com os governos para manter (o bom cenário). Nós (de Mondragon), por exemplo, não temos vínculo com o governo, mas temos muitas relações com todos os partidos políticos (popular, conservador, socialista, nacionalista).

Temos que estar abertos e ser neutros, porque assim podemos fazer com que os governos entendam o cooperativismo e o apoiem. Acho que os governos veem que o sistema cooperativo é um movimento são, que gera um sistema mais correto, equitativo e solidário e, no futuro, seja de esquerda ou direita, também apoiarão o cooperativismo.

Então, acho que o futuro é positivo, tanto no Brasil como na América do Sul e em todo mundo. Por exemplo, na Ásia, está aumentando muito o número de cooperativas de trabalho. Na Coreia, só existiam cooperativas agrícolas e de crédito. Mas mudaram a lei em 2012 e agora há muitas cooperativas de trabalho. Na China, ainda não é possível gerar cooperativas de trabalho, apenas agrícolas.

Em Cuba, sim, porque mudaram a lei. Então, estamos mudando tudo para que o cooperativismo, em geral, seja um sistema de futuro, que funcione e que mostre que está gerando uma sociedade mais equitativa, mais solidária, mais correta. E, portanto, nenhum partido político irá contra o desenvolvimento. Sabemos que, às vezes, os bancos e empresas de capital não veem com bons olhos o sistema cooperativo.

Mas têm de entender também que é outro sistema, que funciona bem e que pode ser melhor para a nossa sociedade. Acho que também as empresas privadas de capital estão se aproximando cada vez mais de um sistema ético. Há um dado que, nos Estados Unidos, as empresas eticamente mais responsáveis são mais resilientes que as pouco éticas.

Clique aqui para conferir a entrevista na íntegra, publicada na revista Goiás Cooperativo. (Avance até a página 6)

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