ENTREVISTA DA SEMANA_Thiago Soares
Ser voluntário é levar o cooperativismo a sério
Brasília (3/6) – Daqui a um mês, o Brasil inteiro testemunhará o poder de transformação social cooperativista, numa grande ação de voluntariado. Estamos falando o Dia C, impulsionado pelo Sistema OCB e suas unidades estaduais, realizado por cooperativas de todo o Brasil. Será uma grande oportunidade para a comunidade ver, na prática, um dos princípios do cooperativismo: o interesse em zelar pelas famílias que vivem ao redor das cooperativas.
Um dos objetivos do Sistema OCB ao promover o Dia C é estimular a prática transformadora do voluntariado. Mas afinal, você sabe o que ser voluntário significa? Quem responde é Thiago Soares, integrante do Conselho Consultivo do Centro de Ação Voluntária de Curitiba. Ele foi um dos destaques da última edição da revista Gestão Cooperativa.
O que é ser voluntário?
Thiago Soares - Ser voluntário é perceber que seu papel como cidadão vai além de cumprir com seus deveres. É compreender que cada cidadão é copartícipe, corresponsável pela transformação social, portanto, ser voluntário é contribuir com a construção de um mundo melhor.
Por onde começar?
Thiago Soares - Identificando quais as necessidades que as comunidades de sua localidade demandam. Essas necessidades podem estar na casa ao lado, em nosso prédio, na escola do bairro, enfim, em qualquer lugar. Não precisamos nos deslocar quilômetros para praticar uma atividade voluntária. Podemos começar na própria casa, auxiliando com a manutenção diária, consertando um armário que há meses está quebrado, por exemplo. O voluntariado é a oportunidade de oferecer o seu melhor talento a qualquer pessoa, causa ou instituição que esteja precisando.
Os trabalhos feitos voluntariamente não são remunerados. Isso dificulta, de algum modo, a realização dos projetos?
Thiago Soares - Eu entendo que não. O que dificulta, muitas vezes, é o desconhecimento sobre como exercer uma atividade voluntária e a cultura presente em nosso país de que voluntariado deve ser destinado somente às causas assistenciais. Além disso, algumas entidades também confundem o papel do voluntário com o papel dos funcionários que devem ser contratados para as atividades cotidianas. Mas, posso afirmar, com certeza, que, nos dias de hoje, as dificuldades são mínimas e a vontade de ajudar e contribuir com a construção de uma sociedade mais justa e equânime é cada vez maior.
Quais são os benefícios do trabalho voluntário?
Thiago Soares – O crescimento pessoal, em primeiro lugar. Depois, o desenvolvimento de novas habilidades sociais, pessoais e profissionais que decorrem da prática das atividades voluntárias, pois o voluntariado nos desperta para um processo de aprimoramento constante, para que possamos proporcionar, sempre, um trabalho qualificado e efetivo.
Qual o impacto que o voluntariado exerce na vida de quem o pratica?
Thiago Soares - Sensibilidade para compreender a realidade do outro, o que nos leva a um aprimoramento das relações interpessoais, da forma como vemos o mundo e como enxergamos nosso papel na sociedade em que vivemos.
Dentro do cooperativismo já existe uma ação voltada ao voluntariado. Trata-se do Dia C – Dia de Cooperar. Existe alguma campanha para incentivar a atitude solidária dentro das empresas?
Thiago Soares - Muitas empresas possuem programas empresariais de voluntariado que visam a estimular os funcionários a praticarem atividades voluntárias em comunidades ou entidades sociais. O Centro de Ação Voluntária de Curitiba presta consultoria às empresas que desejam implantar, gerir ou aprimorar programas de voluntariado.
E já há uma onda positiva em todo o país, estimulando empresas a promoverem programas desta natureza mas, como sempre digo, nosso país ainda precisa evoluir neste quesito. Em Nova York, por exemplo, as pessoas são voluntárias para ajudar a própria cidade.
Em épocas de nevascas, os próprios cidadãos, de maneira organizada, auxiliam a prefeitura na varredura das ruas para desobstruir as vias tomadas pela neve. E fazem isso logo cedo, antes mesmo de os cidadãos que utilizarão as vias acordarem. E eles não veem problemas nisso, pelo contrário, compreendem que esta atitude faz parte de seu papel como cidadão.
Aqui, no Brasil, as pessoas diriam: isso é papel do governo. Os governantes que levantem cedo e varram a neve. Também não vejo problema no governante ser voluntário em algumas ações sociais, mas não é este o espírito que uma nação que pretenda ser desenvolvida precisa ter. Neste sentido, penso que as empresas podem ser um difusor de uma consciência nova, aprimorada, convergente com o desenvolvimento social, orientando seus funcionários para o papel que devem exercer em sua sociedade.
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