Intenção do governo de vender estoques preocupa setor produtivo
A possibilidade do governo federal de comercializar os estoques públicos de trigo a partir do mês de março está causando preocupação ao setor produtivo paranaense. O assunto foi discutido nesta terça-feira (22/02), no Ministério da Agricultura, em Brasília, durante a reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno. Atualmente há 1,27 milhão de toneladas armazenadas no País, das quais 554 mil toneladas no Paraná, 555 mil toneladas no Rio Grande do Sul e o restante nos demais estados.
Técnicos do governo informaram que existe a intenção de promover o escoamento desse produto no próximo mês, o que foi questionado pela Ocepar. "Esse não é momento adequado para vender os estoques. No Paraná, ainda há 1,4 milhão de trigo nas mãos dos produtores e a entrada do governo no mercado agora deverá provocar a depreciação dos preços e prejudicar ainda mais os nossos triticultores", afirmou o analista técnico e econômico da Ocepar, Robson Mafioletti, que participou da reunião da Câmara Técnica. "O setor industrial poderia trabalhar com preços próximos à paridade de importação para possibilitar uma remuneração melhor aos produtores paranaenses", acrescentou Mafioletti.
Audiência - O presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski, está tratando dessa questão nesta quarta-feira (23/02) com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, em audiência que acontece em Brasília.
Comercialização - De acordo com dados da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), o Paraná, maior produtor nacional do cereal, comercializou 56% das 3,4 milhões de toneladas colhidas nesta safra. São 1,91 milhão de toneladas, das quais 682 mil toneladas foram escoadas para fora do estado por meio dos leilões de PEP (Prêmio de Escoamento do Produto), a maior parte destinado à exportação. Em janeiro, o Brasil exportou 500 mil toneladas de trigo para países como a Argélia, Tunísia, Quênia, Sudão e Turquia. Por outro lado, importou 550 mil toneladas, tendo como principais fornecedores a Argentina (350 mil toneladas); Uruguai (110 mil toneladas) e Paraguai (56 mil toneladas). "As perspectivas do mercado internacional são favoráveis, embora os preços elevados lá fora não tenham refletido em aumento dos valores no Brasil. Por outro lado, contribuíram para aumentar a liquidez no mercado interno e atualmente há compradores para os produtores que têm interesse em vender trigo", afirma Mafioletti.
Classificação - Na reunião da Câmara Técnica de Culturas de Inverno, ocorrida nesta terça-feira, o setor produtivo voltou a defender a prorrogação da Instrução Normativa (IN) nº 38, que trata do padrão oficial de classificação do trigo. "Estamos solicitando ao governo que o cronograma de início da vigência da IN seja postergado para julho de 2012. A normativa entraria em vigor em julho de 2011, mas ainda não houve tempo hábil para a pesquisa e as demais empresas realizarem a readequação para indicação das variedades conforme a nova classificação para a safra 2011", explica Mafioletti. Representantes do governo federal informaram que o assunto está sendo analisado pelo ministro da Agricultura. O presidente da Ocepar também deve discutir essa questão com Rossi na audiência desta quarta-feira.
Agenda estratégica - Membros do governo, indústria e entidades representativas dos produtores também estiveram reunidos na segunda-feira (21/02), no Ministério da Agricultura, para elaborar a agenda estratégica da cultura do trigo para os próximos anos. O documento é dividido em dez temas com suas diretrizes, ações, coordenação e prazos. Na agenda foram incorporadas as propostas do Paraná e criados alguns grupos de trabalho com diversas temáticas, entre elas, a da certificação e segregação das variedades, cuja reunião será realizada provavelmente em abril em local a ser definido. A Ocepar está apoiando e participando de vários temas e grupos de trabalho.
Participantes - Participaram das reuniões em Brasília representantes da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado de Santa Catarina (Fecoagro), Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ministério da Fazenda, Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Associação de Moinhos de Trigo do Norte e Nordeste (Atrigo) e Sindicatos da Indústria do Trigo (Sinditrigo) dos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. (Fonte: Ocepar)