Mais mulheres no comando

Brasília (12/11/20) – Histórias que inspiram. Este é o título da matéria especial da nova edição da revista Paraná Cooperativo digital editada pelo Sistema Ocepar e que se dedicou a contar os relatos de mulheres que se reinventaram e, atualmente, são referência em superação e empoderamento feminino. Segundo a revista, hoje as mulheres já representam 53,71% no quadro de cooperados e 45,25% da força de trabalho nas cooperativas paranaenses.

Além de mostrar a presença das mulheres nas coops do estado, a nova edição da revista Paraná Cooperativo traz diversos exemplos de que, ao terem a liderança estimulada, as mulheres tanto fizeram a cooperativa crescer quanto mostraram para outras cooperadas que nem mesmo o céu é o limite para elas.

A edição traz também uma entrevista com a gerente geral da OCB, Tânia Zanella, uma referência no Brasil em protagonismo feminino. A líder fala sobre os dois lados de uma mesma moeda: vida pessoal e vida profissional, e conta um pouco da sua trajetória até ocupar a liderança de equipes para desenvolver estratégias que fortaleçam as cooperativas do país. Confira um trecho da entrevista.

 

O fato de ser mulher traz cobranças maiores quando se assume um cargo de liderança?

 

Acho que a frase “ter que matar um leão por dia” é uma realidade da qual não se pode fugir. Acho que a mulher tem essa pressão sim, talvez muitas vezes não é nem a cobrança externa, mas é autocobrança, o quanto eu, mulher, me cobro para ser melhor, por inúmeros fatores que a sociedade nos impõe. Às vezes não é uma questão específica de liderança, mas de toda a pressão que recebe da sociedade, dos degraus que a mulher ainda precisa subir para atingir a equidade com o homem. Fui casada e tenho dois filhos e sempre me cobrei quanto à questão do tempo que dedicava ao trabalho e à construção de minha carreira, tentando conciliar com o cuidado à família. É um dilema que a mulher vive, de cuidar da família e ao mesmo tempo agregar no aspecto profissional.

 

Às vezes o preconceito vem de uma piada ou um comentário sutil machista?

 

Todas as mulheres já passaram por isso. “Quero ver conseguir trocar esse pneu sozinha”, entre outros comentários e piadas de mal gosto. Trabalho com uma rede de jovens gerentes, em sua maioria mulheres, e tento passar a elas que a estratégia mais assertiva é minimizar coisas negativas e potencializar as questões positivas. Considerar esse preconceito dissimulado um estímulo para potencializar nossas qualidades e nos superar, trabalhando em equipe de forma coesa e objetiva.

 

Como foi sua educação familiar no aspecto de gênero? O fato de ser mulher era um impeditivo para muitos projetos tidos como exclusivos dos homens?

 

Eu nunca tive esse encaminhamento dentro de casa ou algum conselho de que, por ser mulher, teria que ser assim ou assado. Embora tenha vindo de uma família tradicional de descendência italiana, onde o papel da mulher era ser a dona de casa e o homem ser o provedor, tive uma educação livre, e meus pais sempre me deixaram tranquila quanto as minhas escolhas. Muitas vezes me aconselhando sim, opinando sobre os prós e contras, mas me apoiando em todas as decisões que tive na vida. Em todos os projetos de vida, meus pais sempre me apoiaram e estiveram ao meu lado.

 

Como começou sua ligação com o cooperativismo?

 

Minha família sempre teve uma relação próxima ao cooperativismo. Meu pai foi cooperado da Copérdia (Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia) e segue cooperado do Sicoob. Mas onde meu contato com o cooperativismo realmente aconteceu foi no trabalho com o deputado Odacir Zonta, que, ao assumir sua cadeira na Câmara Federal, imediatamente ingressou na Frencoop (Frente Parlamentar do Cooperativismo). As bandeiras que o deputado defendia eram muito claras e dentro da linha do setor cooperativista (N. do editor: Odacir Zonta foi presidente da Copérdia, prefeito de Ipumirim e Concórdia, secretário de Agricultura de Santa Catarina, deputado estadual e federal). Trabalhando na equipe do deputado percebi o quanto esse movimento é importante, engajador e fundamental para a economia e a sociedade brasileira. Essa proximidade fez com que de fato eu tomasse consciência e me apaixonasse pelo cooperativismo.

 

Qual era sua atribuição e de que forma teve contato com o Sistema OCB?

 

A atuação parlamentar do deputado Zonta tinha na agricultura e no cooperativismo suas principais bandeiras. Esse trabalho fez com que conhecesse os representantes da OCB que tinham como função acompanhar as decisões no Congresso Nacional. Uma dessas pessoas era o então superintendente Ramon Belisário, que mais tarde foi quem me levou para a OCB, e quem considero uma referência profissional muito importante na minha trajetória no cooperativismo. No meu trabalho na assessoria parlamentar tive que aprender muita coisa sozinha, cometendo erros, batendo ‘cabeça’, mas, aos poucos, abrindo meus espaços e caminhos, encontrando soluções naquilo que estava ao meu alcance. Ninguém pode dizer que conhece Brasília sem ter vivido na cidade. Por isso, minha experiência na assessoria parlamentar foi muito importante para ampliar meus conhecimentos sobre o funcionamento e as características do Congresso Nacional.

 

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