O cooperativismo na modernidade

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Carecemos de senso associativista, de uma postura aberta de cooperação. Cooperativismo é uma doutrina cujo objetivo - conforme internacionalmente conceituado - é corrigir o social através do econômico. O instrumento da doutrina é a cooperativa, que se caracteriza por ser ela uma sociedade de pessoas, e não de capital, como acontece nas empresas em geral; a sua função é prestar serviços de interesse comum aos seus associados, e não buscar o lucro. Em outras palavras: os serviços prestados pela cooperativa permitem que seus sócios tenham melhores resultados econômicos em suas atividades, de forma a progredirem também no social.

É um movimento impressionante na escala mundial: em quase todos os países existem cooperativas, e de todos tipos - agrícolas, de consumo, de crédito, de habitação, de produção de trabalho, de telefonia, de eletrificação rural, de serviços. Enfim, não há atividade econômica em que as cooperativas não estejam presentes. E os associados a elas chegam a 800 milhões de pessoas em todos os continentes. Se adicionarmos duas pessoas a cada cooperado, serão 2,4 bilhões de cooperativistas em todo o mundo! É um gigantesco contingente humano ligado a uma única doutrina, que se baseia em princípios e valores universais como a solidariedade, a honestidade, a transparência, a verdade e a democracia.

Na cooperativa, independentemente do número de quotas-partes que possui, cada sócio tem apenas um voto, o que dá a dimensão democrática dos processos decisórios. E o retorno do resultado positivo em cada balanço não se dá em função da participação acionária do sócio, mas sim em virtude das operações que ele realizou com a cooperativa, de modo que o prêmio é dado a quem ajudou a construir este resultado.

É uma doutrina que calça como uma luva a natureza humana, porque tem um eixo no idealismo e outro no pragmatismo: como nós, que somos alma e corpo, espírito e matéria. A doutrina é idealista, mas a cooperativa é empresa que exige resultados.

E o Brasil, como está? Hoje temos pouco mais de 6 milhões de cooperados. Pelo mesmo critério de mais dois agregados por cooperado, seríamos 18 milhões, menos de 10% da população brasileira. Porque esta diferença gritante? Por que 40% das mulheres e homens do mundo todo estão ligados a cooperativas e no Brasil nem 10%?

Basicamente porque nos falta o senso associativista. Não se trata de formalismo educacional, de diploma de cooperativista, mas sim de comportamento cooperativo, de uma postura de cooperação. E isto precisa ocorrer em todos os níveis: dentro da cooperativa, precisam entender bem o que estão fazendo os seus associados, os dirigentes e os funcionários. E fora dela, a sociedade toda, e em especial a mídia e os formadores de opinião.Esta desinformação, por outro lado, leva a erros políticos que perturbam o desenvolvimento do modelo no País. Por exemplo, desde julho de 1989 está no Congresso Nacional um projeto que reforma a lei cooperativa, porque esta vem de 1971 e a Constituição de 1988 modificou totalmente as relações do cooperativismo com o Estado, exigindo uma nova lei. E até hoje a lei não foi votada porque existem parlamentares que, mesmo bem intencionados, misturam ideologia política e partidária com uma doutrina que é suprapartidária e, por princípio, tem neutralidade ideológica. Agora, este projeto, um pouco modificado em função do tempo decorrido, está no Senado para ser relatado pelo senador Osmar Dias (PDT/PR), profundo conhecedor do assunto, e poderá ser votado este ano.

Hoje, existe o Sescoop, o S do cooperativismo, correspondente ao Sesi, Senai, Senac, Senar, etc., cuja gestão está por conta do Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), órgão de cúpula do movimento no nosso País, e que vem fazendo um excelente trabalho de treinamento e capacitação de profissionais. Com o Sescoop e a nova lei, o Brasil ficará apto a desenvolver o cooperativismo nos níveis dos países mais avançados.

E já não é sem tempo. As cooperativas brasileiras faturaram R$ 100 bilhões em 2006. No primeiro semestre de 2007, exportaram US$ 1,45 bilhão, 34% a mais que no ano passado.

Dados recentes indicam estarem por conta do nosso cooperativismo agrícola a produção de 62% do trigo, 39% do leite, 27% do café, 29% da soja, 38% do algodão, 31% dos suínos, entre outros.

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