OCB e CNA alertam governo sobre colapso no campo
OCB e CNA alertam governo sobre colapso no campo
As duas maiores representações dos produtores rurais do País – Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) – enviaram correspondência nesta quarta-feira (10/05) à ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil da Presidência da República, alertando o governo federal sobre “o risco de instabilidade social no campo devido à crise do setor rural”. O documento, assinado pelos presidentes da OCB, Márcio Lopes de Freitas, e da CNA, Antônio Ernesto de Salvo, ressalta que por diversas vezes já alertaram o governo quanto à “gravidade da situação e suas preocupantes conseqüências”.
Segundo Freitas, desde o ano passado, o Sistema OCB vem se antecipando ao problema do endividamento do setor rural e, a partir de fevereiro deste ano, quando as duas entidades encaminharam um documento contendo as propostas para superação da crise no campo, as ações se intensificaram no sentido de sensibilizar o governo federal. “Já solicitamos audiência com o presidente Lula e, agora, com a ministra, porém, em vão”, explicou o presidente da OCB, assinalando que a carta à ministra é mais uma das ações ao longo desse período.
Freitas chama a atenção para as manifestações que vêm ocorrendo espontaneamente, organizadas pelas bases dos produtores rurais. Segundo ele, o Sistema está articulado. “As cooperativas estão conversando, estão se mobilizando, ligadas num processo de ação comum”, disse o presidente da OCB, que estima o “rombo” do setor em R$ 30 bilhões, no mínimo, considerando-se que o produtor não foi remunerado nas últimas duas safras.
A expectativa agora, é de que medidas efetivas sejam tomadas pelo governo federal, uma vez que o pacote agrícola emergencial, anunciado pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi insuficiente para reverter a crise setorial. No documento à ministra Dilma Rousseff, a OCB e a CNA responsabilizam o governo “pelo que vier a acontecer”. Veja a íntegra do ofício, a seguir:
“Brasília, 10 de maio de 2006.
ASSUNTO: Crise do Setor Agropecuário
Senhora Ministra,
Há mais de um ano a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) vêm alertando o Governo Federal para o risco de instabilidade social no campo, em função da crise do setor rural. Mais uma vez nos dirigimos ao Governo, para informar Vossa Excelência da gravidade da situação e suas preocupantes conseqüências.
Produtores de todas as regiões do País têm promovido manifestações espontâneas, fruto da angústia e da falta de perspectivas impostas pela ausência de uma política agrícola capaz de garantir a essas famílias condições mínimas de sobrevivência digna. As medidas tomadas até aqui, além de insuficientes, apenas postergaram a crise.
Os protestos não têm reunido apenas produtores rurais, mas também homens e mulheres de todas as classes sociais, trabalhadores, comerciantes, funcionários públicos, estudantes e donas-de-casa. O que os une é a insegurança provocada pela súbita queda de renda, cujo efeito é devastador para as economias dos municípios que vivem da agricultura.
A descrença e a falta de esperança vêm se transformando em combustível para o desespero. Em muito locais, o clima de tensão é imenso e há o sério risco de tragédias acontecerem.
Somos contra qualquer tipo de violência e tudo faremos para evitá-la. A responsabilidade pelo que vier a acontecer é do Governo Federal, que dispõe dos instrumentos para agir, com a serenidade e a sabedoria que o momento exige, a fim de manter a paz social.
Nossa pauta mínima emergencial já é do conhecimento das autoridades. Se adotada, ajudará a superar este momento agudo.”
Respeitosamente,
Márcio Lopes de Freitas Antônio Ernesto de Salvo
Presidente da OCB &"