Pecuaristas entregam documento ao governo

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Pela primeira vez em seis anos, o valor bruto da produção de leite será menor que o ano anterior. A previsão de crescimento da balança comercial de lácteos já caiu pela metade e os preços médios pagos aos produtores foram reduzidos em 27%, de R$ 0,59 para R$ 0,50, de junho de 2005 a janeiro deste ano.

Para evitar que esse quadro se agrave ainda mais no período de safra, que começa agora em outubro na região Centro-Sul, cerca de 300 líderes do setor de pecuária de leite cobraram a adoção de medidas imediatas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em documento encaminhado ao ministro Luís Carlos Guedes, nesta terça-feira (26), os representantes do setor pediram apoio especialmente no lançamento do Prop-Leite e na fiscalização das fraudes no leite e derivados, além de pedir apoio à prorrogação das tarifas antidumping sobre o leite em pó importado da Nova Zelândia e da Europa.

A exemplo do que ocorre com produtos como algodão, milho, soja e arroz, o Prop-Leite (Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agropecuário Oriundo de Contrato Privado de Opção de Venda) é uma indicação de política pública, como lembrou o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, que falou à  imprensa na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Custa muito menos do que programas de aquisição do governo federal. É uma sinalização do governo que vai amparar a sustentação de preço ao produtor na época da safra. É isso o que precisamos”, afirmou Freitas.

Outra medida importante para setor é a adoção de maior rigor na fiscalização das fraudes nos produtos lácteos, prática criminosa que reduz a demanda por leite in natura. Além de prejudicar os pecuaristas que investem na qualidade do produto, as fraudes enganam o consumidor. “A adição de soro no leite não traz riscos à saúde da população, mas representa um crime econômico, pois oferece um produto com menor valor nutricional sem esclarecer o consumidor a respeito dessa alteração”, explicou Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite, da CNA. Segundo Alvim, as fraudes ocorrem tanto no leite quanto nos derivados lácteos. Já chegaram inclusive ao leite condensado. “Alguns produtos possuem mais açúcar do que o que consta na composição.”

O presidente da OCB lembrou que, há 20 anos, as cooperativas produtoras de laticínios no Brasil chegaram a 65% na captação de leite. “Viemos perdendo espaço para empresas mercantis, para empresas que suspeitamos praticar atos não muito lícitos para poder prevalecer. Hoje temos uma participação de 35%”, disse Freitas. “Atuamos para oferecer bons produtos e remunerar adequadamente o produtor. Não podemos freqüentar esse ambiente e sobreviver a ele.”

Diretor executivo da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL), Paulo Roberto Bernardes foi incisivo ao cobrar tais medidas do Mapa. “Queremos que o ministro atual diga que não vai aviltar o preço do leite, porque os preços aviltados prejudicam principalmente os pequenos agricultores”.

Na coletiva, o governo esteve representado pelo secretário de Defesa Pecuária da Mapa, Gabriel Alves Maciel. Ele apoiou a iniciativa das lideranças dos produtores e disse que, se for o caso, o ministério vai acionar a Polícia Federal para punir as empresas que fraudam o leite. Quanto à fiscalização, Maciel contou que o Mapa gastou R$ 37 bilhões na compra de equipamentos de laboratório para analisar a composição dos produtos que entram no mercado. No entanto, ainda falta capacitar os profissionais que vão operacionalizar esses equipamentos.

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