PERFIL: presidente da Comigo é destaque da revista Saber Cooperar
Brasília (23/09) – Acaba de ser lançada a mais nova edição da revista Saber Cooperar, uma publicação do Sistema OCB. O periódico conta um pouco da trajetória de uma das referências do cooperativismo: o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia.
Conhecido por ser um homem de pulso forte, Chavaglia é um incansável sonhador que conquistou o Centro-Oeste brasileiro por acreditar no cooperativismo. Modesto, define-se como um produtor rural que, por acaso, é presidente da Comigo. Quem trabalha com ele sabe que isso está longe de ser verdade. O “doutor Chavaglia” – como costuma ser chamado pelos seus cooperados e amigos – hoje é o coração da cooperativa, liderando com sabedoria os mais de 6,1 mil associados da instituição. Confira a íntegra do perfil.
CONFIRA A ENTREVISTA
Antônio Chavaglia - Incansável sonhador, presidente da Comigo relembra os tempos pioneiros da conquista do Centro-Oeste brasileiro
“Minha história no cooperativismo não é diferente da de qualquer outro sócio”. É assim, modesto, que o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo) começou a contar sua longa trajetória no nosso movimento. O tom coincide com as definições comumente associadas a ele: reservado, exigente e, sobretudo, incansável. Esse é Antônio Chavaglia, agricultor, 67 anos, há 30 à frente de uma das maiores cooperativas agrícolas do Centro-Oeste.
Definindo-se apenas como um produtor rural que, por acaso, é presidente da Comigo, a história do “doutor Chavaglia”, como costuma ser chamado pelos seus cooperados e amigos, confunde-se com a da própria cooperativa. Nascido no interior de São Paulo, na pequena Aramina, cidade de 10 mil habitantes na divisa do estado com Minas Gerais, quinto filho de sete irmãos, aos 16 anos já apresentava duas características de personalidade que o acompanhariam por toda a vida: responsabilidade e foco no trabalho.
Com essa filosofia em mente, começou na agricultura como meeiro (trabalhador que arrenda a propriedade de outra pessoa e divide os lucros da produção com o dono) –, plantando arroz e milho em terras pertencentes à avó. “O sangue italiano não deixou a sociedade durar muito”, brinca, referindo-se ao temperamento forte. Logo depois, decidiu arriscar-se. Arrumou as malas e, em 1968, partiu para o então inóspito Centro-Oeste. Em Rio Verde, Goiás, fincou sua enxada, apostando na produção de algodão quando muitos diziam que o cultivo não era propício na região.
Alguns anos depois, nova ousadia: trazer soja para o cerrado. “Nem no Mato Grosso essa cultura estava consolidada. Você imagina como era chegar ao banco e pedir financiamento para um produto novo, em um lugar sem tradição na agricultura?”, relembra. “Naquela época era mais fácil ir a Goiânia do que tentar uma ligação telefônica. Não existia nenhuma infraestrutura de apoio ao produtor. Tem gente que aprende na faculdade, outros aprendem apanhando, tentando fazer. Este era o nosso caso”, orgulha-se.
Nesse cenário, o cooperativismo surgia como a salvação da lavoura para dezenas de agricultores. Em 1974, o arroz e o milho eram os principais plantios do interior goiano e havia muitos problemas, como a falta de locais para secagem, armazenagem e escoamento dos grãos, além da dependência de atravessadores. Na época, Chavaglia percebeu na dificuldade de encontrar produtos agrícolas a preços acessíveis uma oportunidade. Decidiu, então, abriu uma pequena loja. Daí para a criação da Comigo foi um pulo. “Quando a ideia de montar uma cooperativa foi ganhando forma, fomos conhecer iniciativas de sucesso em outros estados, vimos como fazer e, em 1975, vendi a empresa e me tornei um dos sócios fundadores da Comigo”, rememora.
RÉDEA FIRME - Passados 38 anos, a Comigo já atende a 6.128 cooperados espalhados por 13 municípios goianos. Uma referência no ramo Agrícola, com patrimônio de quase R$ 2 bilhões. Além disso, é uma das poucas cooperativas brasileiros a reunir um complexo industrial com infraestrutura tão completa: centro tecnológico, lojas agropecuárias, fazendas florestais e armazéns próprios. Realizações conquistadas sob a rédea firme de Chavaglia, admitem seus colaboradores. “As pessoas dizem que sou bravo, mas não é bem isso. Sou democrático, ponho em discussão o que precisa ser debatido. Porém, me convença que estou errado e acato sua ideia. Não aceito é que falem bobagem”, justifica-se, com senso de humor. “Quero deixar claro, no entanto, que o êxito da Comigo vem do esforço de cada um dos associados e colaboradores, e não de uma pessoa apenas.”
Chavaglia é também o atual presidente do Sicoob Credi-Rural e ex-presidente da OCB-GO. Em 2003, foi o líder cooperativista mais votado do Brasil pelos leitores do jornal Gazeta Mercantil, então maior veículo de economia. “Quando me perguntam o segredo do sucesso, digo: é preciso trabalhar 48 horas por dia. Quero dizer, na hora que não estiver trabalhando, é preciso estar planejando os próximos passos. Existem diversas maneiras de construir a vida. A minha foi aos poucos, mas com muita garra. É essencial também ter visão, se informar, se antecipar”, aconselha.
O olhar atento ao futuro ficou comprovado durante este entrevista. Enquanto conversava com a Saber Cooperar, em seu escritório, na sede da Comigo, um placar eletrônico na parede apontava, em tempo real, o movimento das bolsas de valores e mercadorias mais importantes do mundo. De tempos em tempos, o piscar incessante da tela repleta de números capturava o olhar deste incansável cooperativista. “Tenho tudo que preciso: dois filhos e três netos maravilhosos, mas o diabo da cabeça não para de pensar; mal conquisto um projeto,já penso no próximo”, diverte-se, acrescentando, com um sonoro sotaque goiano: “quando minha mulher questiona se não é hora de me aposentar, respondo que no dia que eu parar de sonhar com novos projetos, ela pode encomendar meu velório e me enterrar”, emenda, com um riso solto.