"Quimioterapia, custos e conforto"

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A tendência de utilizar tratamentos orais contra o câncer no lugar da administração intravenosa já é realidade em muitos países, como nos Estados Unidos e em toda a Europa, e tem se mostrado uma excelente opção para muitos pacientes, médicos e instituições, pelo fato de trazer maior comodidade aos pacientes e, em muitos casos, menos efeitos colaterais.

A quimioterapia convencional é normalmente administrada por via intravenosa - diretamente na veia do paciente ou através de um cateter implantado sob a pele - e requer ainda o uso de uma bomba especializada para infusão lenta dos fármacos. Com o advento de terapias-alvo para o tratamento do câncer, muitas delas desenvolvidas na formulação de comprimidos, o tratamento passa a ser feito de forma simples, não invasiva e, inclusive, mantendo o paciente em suas atividades de rotina, em casa ou no trabalho.

No Brasil, 48,6 milhões de pessoas têm plano de saúde privado em uma população de 190 milhões de habitantes, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). As empresas que oferecem qualquer tipo de plano de saúde atualmente são legalmente obrigadas a oferecer cobertura de drogas intravenosas de quimioterapia, de acordo com legislação da ANS, mas ainda existe debate sobre drogas da quimioterapia oral, especialmente sobre a capacidade financeira dos planos de saúde para absorver os custos das drogas orais e quão altos eles seriam.

No Brasil, alguns planos da saúde, como algumas cooperativas médicas e planos de autogestão, já aderiram a este movimento e são pioneiros em oferecer a terapia aos seus pacientes. Do ponto de vista médico, a quimioterapia tem sido cada vez mais usada por via oral, evitando a necessidade de infusão venosa. Como na maioria dos casos são medicamentos tão onerosos quanto outras inovações, os pacientes e as famílias acabam buscando formas de receber o medicamento por meio do sistema público - e nem todas essas drogas são disponíveis no SUS - ou através de seus planos de saúde.

Apesar de ser uma boa notícia, a incorporação rápida de vários medicamentos novos pode trazer um dilema. Muitas das fontes pagadoras não têm rotina e logística sequer para avaliar o impacto orçamentário ou definir a regulação racional desses recursos. A tensão judicial é frequente neste cenário. Muitas das operadoras já têm essa despesa, mas por demanda judicial e sem possibilidade de negociação porque acabam funcionando de forma reativa e não proativa.

O câncer é a segunda causa de morte no país e todo ano 500 mil novos casos da doença são diagnosticados na população brasileira, de acordo com dados do governo federal e do Instituto Nacional de Câncer do Ministério da Saúde (Inca). Existe consenso, principalmente em países desenvolvidos, de que temas de economia da saúde, com cálculos de custo-efetividade para os novos tratamentos, devem fazer parte da análise de incorporação de novos fármacos. No Brasil, este tema ainda está sendo desenvolvido e o debate precisa ser aprofundado.
(Fonte: Zero Hora)

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