Saromcredi: um caso emblemático no cooperativismo brasileiro
Brasília (4/7) – Como transformar um cenário aparentemente sem soluções em mecanismo de desenvolvimento socioeconômico. Esse foi enredo do bate-papo animado que o presidente da cooperativa financeira Sicoob Saromcredi, João Carlos Leite, teve com os colaboradores do Sistema OCB, na manhã de hoje. A palestra foi realizada como parte da celebração do Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado amanhã, em todo o mundo.
De acordo com o presidente da cooperativa, o maior desafio, ao longo desse processo, foi mostrar à população de São Roque que a cooperativa era viável. “Os problemas foram muitos, especialmente porque o município vivia numa realidade de produção para subsistência, dependendo quase que vitalmente de outros municípios. Com a criação da cooperativa, entendemos que a questão bancária era só o mecanismo para atingir o desenvolvimento econômico e social, mudando a história da cidade”, lembrou Joãozinho.
Segundo o superintendente do Sistema OCB, Renato Nobile, o caso da Saromcredi é um dos mais emblemáticos do cooperativismo brasileiro no que diz respeito ao desenvolvimento econômico-social de um município.
“As cooperativas têm a função de mitigar os efeitos das crises. A cidade de São Roque de Minas, encravada na Serra da Canastra, em Minas Gerais, vivia uma crise. O povo não tinha acesso a crédito, nem a bancos e, por isso, como muita bravura, um grupo de agricultores fundou a cooperativa financeira. O processo não foi fácil e, por isso, decidimos trazer o Joãozinho – como é conhecido o presidente da Saromcredi – aqui, para nos contar essa história de superação”, comenta Renato Nobile.
CASO EMBLEMÁTICO: São Roque de Minas é uma cidade localizada próximo à nascente do rio São Francisco. Possui quase de 6,5 mil habitantes e um orgulho que não cabe no peito. O motivo? Sua cooperativa de crédito rural. De 1940 a 1950 a cidade era praticamente isolada, estradas precárias, pontes de madeira que não ofereciam segurança e o carro de boi movia a economia local.
A economia da cidade era apenas de subsistência, com o cultivo de milho, café, mandioca, arroz, feijão e pecuária leiteira. “Os filhos dos fazendeiros saíam para estudar nos grandes centros urbanos e não voltavam mais. Com isso, restaram apenas 800 aposentados responsáveis por impulsionar a economia, juntamente com os pequenos produtores rurais e as arrecadações do FPM e ICMS do município”, afirma o cooperativista.
PROBLEMA – O leite produzido no município era destinado quase só para a produção artesanal de queijo, o famoso queijo da Serra da Canastra, comercializado pelos queijeiros, em São Paulo. Até 1991, toda movimentação financeira passava pela Minas Caixa, instituição financeira liquidada pelo Banco Central.
A extinção do banco local representou a morte de São Roque de Minas, pois toda economia teve de ser transferida para cidades vizinhas. O município não contava com nenhuma agência bancária. “Foi aí que um grupo de 27 agricultores tomou a iniciativa de constituir uma cooperativa de crédito – a Saromcredi – pois o serviço bancário mais próximo estava a mais de 60 km”, relembra Joãozinho.
No início, o desejo era um mínimo de dignidade no que diz respeito a serviço bancário. Em 1994, com o Plano Real, começaram as operações de crédito para o cultivo de milho e café dos associados, investimento na produção, o que gerou emprego, renda, depósito e mais operações de crédito. Esse movimento, desde então, nunca mais parou mais.
DESENVOLVIMENTO - A Saromcredi é um surpreendente caso de força da comunidade. A instalação da cooperativa alavancou o desenvolvimento do comércio, da prestação de serviços na cidade, da produção agrícola, etc. A cooperativa, além de contar com serviços bancários completos, passou aplicar no próprio município os recursos ali captados, o que vem fomentando o desenvolvimento econômico e social da região.
A cidade, que no passado era exportadora de mão de obra, passou a ser importadora. O PIB do município cresce ano a ano. “A cooperativa, juntamente com os pais de alunos que lá são associados, criou a Cooperativa Educacional de São Roque de Minas, entidade mantenedora do Instituto Ellos de Educação, que oferece filosofia cooperativista, resgata a tradição e a cidadania, e trata das questões do meio-ambiente”, comenta o presidente da cooperativa.
Neste sentido, a cooperativa pode desfrutar do acervo natural no Parque da Serra da Canastra. E ainda tem um viveiro de mudas de eucalipto e de espécies nativas para reposição das matas ciliares.
QUALIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO – Atualmente, a cooperativa investe no projeto de qualificação do Queijo Minas Artesanal da Serra da Canastra, com apoio de técnicos franceses e da Secretaria de Agricultura do Estado de Minas Gerais, do Sebrae, do Sistema Ocemg e do CNPQ, entre outros.
Também está implantando uma unidade armazenadora de grãos (milho e soja) com nome mil toneladas de capacidade. E, como a comunidade não tinha acesso à Internet, providenciou a instalação de um provedor.