Setor produtivo reclama de lentidão na liberação de crédito
Kátia Abreu se reuniu ontem com produtores e representantes de bancos para tratar do assunto
Brasília (26/8) - O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, se reuniu ontem, em Brasília, com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, e representantes da agropecuária brasileira e de bancos públicos e privados para discutir as dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo no momento de tomarem financiamentos de custeio nas agências bancárias do país, e se preparam para iniciarem o plantio da nova safra. A reunião foi convocada pela ministra após entidades agrícolas se manifestarem em relação ao problema.
Entre as reclamações apresentadas pelos produtores, estão, por exemplo, a morosidade na análise de crédito, o aumento das exigências dos bancos na hora de contratar financiamento, inclusive condicionando fortes exigências, especialmente de garantias reais. Além disso, há queixas sobre juros altos, venda casada e sobre “mix” de taxas, quando há mistura entre recursos controlados e crédito livre.
As dificuldades, segundo o setor produtivo, provocaram atraso na compra de insumos necessários para o início do plantio, como sementes e fertilizantes com reflexos na elevação dos custos de produção.
Para o presidente do Sistema OCB, “é sugestivo que o produtor rural aja com cautela, especialmente pelas condições macroeconômicas vivenciadas pelo país e intensifique a comunicação, via entidades de representação, junto ao governo relatando todas as situações que venham estrangular a contratação de seus financiamentos. É importante ressaltar a disposição do governo em reunir o setor produtivo e do agronegócio brasileiro junto aos agentes financeiros, na tentativa de mitigar eventuais entraves.”
BANCOS - Preocupados com a inadimplência, os bancos apertaram as regras de cadastro e passaram a exigir mais garantias, o que, para a Ministra, é o resultado de um contexto maior. “Nada mais justo do que ouvir o choro. Ninguém chora sem motivo, contudo estamos passando por uma crise na China e por ajustes sérios na nossa economia. Todo o mercado, obviamente, se sensibiliza. Então é normal que os bancos, temorosos com os riscos, fiquem mais exigentes e preocupados. Mas não é nenhuma dificuldade incontornável”, completou Kátia Abreu.
A ministra ainda ponderou que os bancos devem respeito ao acordo de Basileia, por isso têm a obrigação e a responsabilidade de analisarem o nível de risco das contratações. “Os bancos precisam ficar no fio da navalha entre o cumprimento do Plano Safra e as determinações de Basileia.
NOVA REUNIÃO – A ministra marcou para daqui um mês nova reunião a fim de avaliar a evolução das contratações. “Tenho certeza que a realidade em agosto estará melhor”, disse. “Apesar do preço das commodities terem caído, estamos vendendo nossos produtos, abrindo nossos mercados”.
BANCO DO BRASIL - O vice-presidente do Banco do Brasil, Osmar Dias, participou da reunião e informou aos agricultores que a diminuição do pré-custeio em 2015 se deveu à queda do deposito à vista e da poupança. “Não foi porque o banco não queria dar pré-custeio. Mas há necessidade de se ampliar o lastro para não faltarem recursos”, explicou Dias.
Somente o Banco do Brasil, que opera 65% do crédito agrícola a juros controlados no país, aumentou em 28% o número de contratos firmados em julho de 2015 em relação ao mesmo mês do ano passado, passando de 47.317 para 60.625 contratos. Em volume de recursos, o acréscimo foi de 93%, salto de R$ 3,311 milhões em 2014 para R$ 6,396 milhões em 2015.
Para Osmar Dias, o crescimento do número de contratos mostra que não há concentração dos financiamentos apenas nos clientes considerados “classe a”, que apresentam menor risco ao banco. A instituição se comprometeu a levantar as contratações por produto, a fim de analisar concentração de problemas em determinadas cadeias.